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CPI do Cachoeira

Demóstenes reclama de uso de 'métodos medievais' para puni-lo

3 jul 2012 - 16h52
(atualizado às 23h51)
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Elaine Lina
Direto de Brasília

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) voltou à Tribuna do Senado na tarde desta terça-feira e, novamente diante de um Plenário esvaziado, repetiu que é inocente e também vítima de uma campanha que visa "atirar um parlamentar aos leões". O senador acusado de usar o mandato a favor dos negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira apelou aos colegas para um "cuidado com o produto das escutas" e argumentou que tecnologias de ponta foram usadas para incriminá-lo, enquanto que a condenação não usa nem mesmo técnicas de perícia ."Para me investigar ilegalmente, se utilizou tecnologia de ponta. Para me punir, estão sendo usados métodos medievais", reclamou.

Pelo segundo dia seguido, parlamentar discursou diante de plenário vazio
Pelo segundo dia seguido, parlamentar discursou diante de plenário vazio
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

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O discurso de hoje faz parte da nova conduta do senador Demóstenes dentro do Congresso, onde ele não era visto desde maio, quando falou ao Conselho de Ética em tom altivo e ríspido. Ontem, iniciando uma prometida série de discursos para defender sua inocência, o senador pediu desculpas e implorou perdão aos colegas "por qualquer decepção ou constrangimento".

"O Senado certamente não se curvará a essa tática de campanha que sazonalmente escala um parlamentar como alvo e só sossega quando tem outro na mira", acusou, classificando de "técnica de moer parlamentar" as escutas promovidas por operações policiais.

Demóstenes insistiu em pedir perícia nos arquivos de áudios gravados pela Polícia Federal, alegando que tais documentos foram gravados, editados e montados de maneira a incriminar alvo específico. "Perícia não é uma modalidade de enrolação da defesa, (...) é uma ciência a serviço da Justiça".

Reclamando não ter recebido direto à defesa e ao contraditório, pediu prazo aos colegas parlamentares. "Reafirmo a todos os senhores e senhoras senadoras que sou inocente, (...) e quero tempo para provar isso", finalizou o senador goiano.

O parlamentar está sendo processado com base em denúncia do Psol que o acusa de ter trabalhado para o esquema montado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e corre o risco de perder o mandato. Cachoeira é acusado de explorar jogos ilegais e fraudar licitações e está preso.

A tática de defesa adotada por Demóstenes no Plenário do Senado foi de tentar condicionar o julgamento político à decisão judicial acerca de seu envolvimento com o bicheiro, alegando necessidade de "segurança judicial". "Foi dito à exaustão que fica mal para o Senado me absolver. A leitura atenta dos autos indica o contrário, o que fica mal para o Senado é validar agressões à Constituição e a seu guardião, o Supremo Tribunal Federal", disse, referindo-se à manifestação que deverá ser dada pelo Supremo a respeito da legalidade da gravações telefônicas que sustentaram as denúncias.

A expectativa é de que, na próxima semana, os senadores julguem se Demóstenes perderá ou não seu mandato. Mas em processo paralelo, no campo judicial, os advogados do senador goiano buscam invalidar provas, argumentando que as escutas telefônicas realizadas pela Polícia Federal que gravaram as conversas do parlamentar foram realizadas sem autorização da Justiça."O que fica mal para o Senado é sacrificar o mandato em meio a um clima tramado para ejetar um senador", defendeu-se.

O parlamentar pediu para não ser julgado politicamente antes de o Supremo dar sua palavra, argumentando que não seria bom para a imagem do Senado Federal cassar o mandato de um senador antes de ouvir a Corte quanto às garantias das provas. "Os autos foram de tal modo preparados para gerar manchetes que os agentes encarregados da transcrição puseram títulos nos diálogos. Os artifícios da máquina de moer reputação foram bem sucedidos, pois o título da transcrição virava o título do jornal em letras garrafais", disse, ao afirmar que sofre julgamento antecipado por parte da imprensa, o que colabora para promover também celeridade no julgamento político, na opinião do acusado.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Fonte: Terra
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