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CPI do Cachoeira

Demóstenes na tribuna: "está sendo sacrificado um inocente"

10 jul 2012 - 16h23
(atualizado às 23h28)
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Na véspera do julgamento que pede a sua cassação por supostamente ter usado o mandato para favorecer Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) usou a tribuna do Plenário para se defender. Esta é 7ª vez em oito dias. Nesta terça-feira, o político disse estar com a convicção de que a verdade prevalecerá. Para ele, que se disse movido pela fé após os 132 dias de "massacre", as verdades em seu pronunciamento se confirmaram e "nenhum dos absurdos de que o acusavam se comprovou". As informações são da

"Está sendo sacrificado um inocente", diz Demóstenes:
Agência Senado.

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"Sou a vítima da vez e isso me custou a paz e a tranquilidade. Se eu tivesse culpa, talvez fosse mas simples suportar, mas a dor se amplia diante da certeza que está sendo sacrificado um inocente", garantiu.

Na opinião do senador, no início os obstáculos se apresentaram intransponíveis, pois as montagens feitas nas 250 mil horas de gravações "satisfaziam qualquer tipo de gula". Mas as barreiras foram ultrapassadas e agora só resta uma: a votação em Plenário do Projeto de Resolução 22/2012, fruto da representação do Psol por quebra de decoro parlamentar.

"O Senado vai escolher que futuro pretende, se de insegurança jurídica, em que qualquer de seus integrantes terá de ser eliminado para atender a sanha acusatória, ou um amanhã justo, respeitando-se os direitos dos representados, sem pressa."

Em seu discurso, o parlamentar citou a dor e o suplício que custou a si próprio lágrimas, sono e saúde, desde o início das denúncias. A campanha contra ele nas redes sociais, internet e imprensa o deixou semanas olhando para o vazio, com vergonha de seus amigos e de seus filhos, que leem os mais de 3 milhões de textos publicados com vários graus de agressividade para "mutilar um mandato".

Ainda que saiba não ter culpa, Demóstenes disse se sentir pequeno diante da onda de perseguição. "Não se trata de ser cassado amanhã, se trata de defender a própria honra, de manter límpida uma biografia escrita com esforço, estudo e disciplina", afirmou.

Nome limpo

O parlamentar deu um tom mais emotivo ao seu discurso, mencionando a infância e o trabalho do pai para sustentar os dez filhos, sua trajetória nos estudos e nos concursos, esforço que o levou a procurador-geral de Goiás, a secretário de Segurança do Estado e, de lá, a dois mandatos consecutivos no Senado. Segundo disse, ele se orgulha de integrar o Parlamento, de trabalhar ao lado de seus colegas por um Brasil melhor e mais justo.

Para Demóstenes, uma das razões de sua luta incansável para preservar o mandato é a convivência agradável e fraterna que sempre teve com seus pares. De acordo com o senador, o trabalho ainda não acabou, pois há muito a contribuir.

Segundo o político, nestes nove anos e meio de convivência no Parlamento, nada fez que desonrasse a Casa, o mandato ou a confiança dos parlamentares, do povo de Goiás e do Brasil. "A perseguição vai ser derrotada e o seu Avelomar e a dona Luzia, meus pais, continuarão tendo a certeza de que mantenho limpo o nome de nossa família", garantiu.

O julgamento final de Demóstenes nesta quarta-feira será por meio de voto secreto no Senado. Se perder o mandato, o parlamentar também ficará inelegível até o final de janeiro de 2027.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Fonte: Terra
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