PUBLICIDADE

CPI do Cachoeira

CPI vai atrás documentos após silêncio de mulher de Cachoeira

7 ago 2012 - 16h01
(atualizado às 22h03)
Compartilhar

Com o silêncio da mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, e um suposto "araponga" do bicheiro, o agente aposentado da Polícia Federal Joaquim Gomes Thomé Neto, em depoimentos nesta terça-feira, a CPI do Cachoeira decidiu ir à Polícia Federal e ao Banco Central em busca de documentos. Andressa e o agente aposentado da PF evocaram o direito de permanecer em silêncio para não se autoincriminarem. As informações são da Agência Câmara

CPIs: as investigações que fizeram história

Cachoeira, o bicheiro que abalou o Brasil

Conheça o império do jogo do bicho no País

Amanhã será a vez de Andrea Aprígio, ex-mulher do contraventor, e de Rubmaier Ferreira de Carvalho, contador de empresas de fachada que teriam sido usadas pela organização de Cachoeira. Ambos conseguiram habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) e também não deverão falar.

Segundo o relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), o silêncio dos depoentes não é um "silêncio dos inocentes". O grupo de Cachoeira, de acordo com o parlamentar, está atuando de maneira organizada nas defesas na CPMI e na Justiça Federal.

Para tentar prosseguir com as investigações, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), aprovou uma diligência de parlamentares para ir à sede da Polícia Federal cobrar o envio de documentos já solicitados oficialmente à instituição, em razão de requerimentos aprovados pela CPMI.

O pedido foi feito pelo deputado Domingos Sávio (PSDB-MG). "Se documentos da PF vazam para a imprensa, temos de saber por que eles não chegam à CPMI. Precisamos saber como a polícia está fazendo o inquérito", disse.

A principal cobrança dos parlamentares é para liberação dos vídeos feitos pelo contraventor Carlinhos Cachoeira que mostram negociações com autoridades públicas e entidades privadas. As imagens estão sendo periciadas desde junho por técnicos da polícia. Segundo Vital do Rêgo, 28 malotes de documentos, entre eles vídeos, já estão na CPMI.

A comissão também irá ao Banco Central para pegar informações sobre a demora do Bradesco em repassar os dados relativos aos sigilos bancários quebrados pela CPI. Os parlamentares deverão apresentar um relatório da diligência em reunião administrativa no dia 15 de agosto.

Cascata

A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) chegou cedo à comissão e disse que foi alvo de tentativa de intimidação por Andressa Mendonça e depois por um telefonema anônimo procedente de um orelhão em Taguatinga, no Distrito Federal.

No dia 30, Andressa foi detida, acusada de tentar chantagear o juiz Alderico Rocha, responsável pelo processo relativo ao caso Cachoeira. Ela teria pedido a liberdade do bicheiro para impedir a divulgação de um dossiê contra o magistrado. De acordo com o juiz, Andressa também disse que tinha um dossiê contra Kátia Abreu.

A senadora disse que continuará "denunciando essa quadrilha", como sempre fez, e que não tem medo de Cachoeira e da sua "comparsa", uma dupla que a parlamentar apelidou de "Cachoeira e Cascata". Afirmou ainda que Andressa é uma mentirosa e que deveria estar na cadeia também, por ter tentado corromper a Justiça. "Ela não vai me intimidar. Não devo e não temo", disse.

Comunicação do bicheiro

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) disse que recebeu a lista de pessoas com 45 rádios Nextel habilitados no exterior para conversar diretamente com a organização de Cachoeira. Entre elas, estariam três diretores da construtora Delta, quatro membros do governo de Goiás e quatro policiais, além do ex-senador Demóstenes Torres.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

A mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, preferiu ficar calada em depoimento nesta terça-feira
A mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, preferiu ficar calada em depoimento nesta terça-feira
Foto: Geraldo Magela / Agência Senado
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade