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CPI do Cachoeira

CPI do Cachoeira: relatório será alterado, mas pode ser derrotado

22 nov 2012 - 19h23
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O deputado Odair Cunha (PT-MG) solicitou mais uma semana para tentar negociar apoio para seu relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista destinada a investigar o esquema criminoso de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A leitura do texto, prevista inicialmente para ontem, foi adiada para a próxima quarta-feira. "Estou ganhando prazo para dialogar mais com o conjunto dos membros da comissão", disse o relator. De acordo com ele, o objetivo agora é "construir um relatório que seja de acordo com a maioria dos membros da comissão", como informou a Agência Câmara.

Desacompanhado de advogado, Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit depõe na CPI do Cachoeira
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Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

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Questionado se poderia retirar do texto apresentado algum dos que foram indiciados, Odair Cunha respondeu que "sempre é possível fazer aperfeiçoamentos". Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), Cunha está inseguro com o relatório final. "O senhor demonstra insegurança, irresponsabilidade e falta de compromisso com o conteúdo", afirmou. Alguns pontos do relatório foram muito criticados pelos parlamentares, em particular o indiciamento de cinco jornalistas e o pedido para que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) investigue o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, por omissão.

"A retirada desses itens (dos jornalistas e do procurador) é uma imposição, não uma negociação", disse o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Segundo o parlamentar, o texto de Odair Cunha é uma determinação de segmentos do PT, que revela instinto de vingança e intimidação em relação à atuação de Gurgel e de jornalistas contra o partido. Para Teixeira, mesmo tirando esses pontos, o relatório de Cunha não deve ser aprovado. "Acho pouco provável que ele consiga maioria para aprovar, mesmo com alterações, este parecer", disse.

Carlos Sampaio também corroborou essa hipótese, assim como o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), que afirmou: "todos nós estamos aqui avaliando que esse relatório não dá para ser aprovado, pois depõe contra o Parlamento brasileiro".

Representação à PGR

Um grupo de parlamentares entregou no final da manhã uma representação com 88 páginas para o procurador-geral da República (PGR), Roberto Gurgel. O documento seria entregue ontem à tarde, mas houve problema com a agenda de Gurgel. "Esse documento tem a verdade de tudo e de todos para ele buscar a justiça que aqui não se encontrou", disse o deputado Rubens Bueno, um dos que foram entregar o texto.

Segundo ele, o relatório final não retrata a verdade dos fatos. Como exemplo, Bueno ressaltou a ausência de informações relativas ao ex-diretor geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot, sobre a arrecadação de recursos para a campanha presidencial de Dilma Rousseff. O PSDB já havia entregado outro relatório paralelo em 7 de novembro.

Na opinião do vice-presidente da comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o grupo deveria, antes, debater essas questões com todos os integrantes da CPMI, para levar à PGR uma posição única. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) disse que a medida foi apenas para chamar atenção, já que a CPMI vai enviar ao Ministério Público todas as informações recebidas. "Se alguém foi incompetente de não acompanhar (os trabalhos da comissão), não acuse o relator de incompetência", disse.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Fonte: Terra
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