CPI do Cachoeira discute bloqueio de bens em nome de laranja
18 set2012 - 14h35
(atualizado às 14h52)
Compartilhar
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga as relações de agentes públicos e privados com o contraventor Carlos Cachoeira entregará ao Ministério Público uma representação para solicitar à Justiça o bloqueio de bens da organização registrados em nome de laranjas. O teor do documento será discutido às 18h, em reunião no gabinete do presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), com o vice-presidente e o relator do colegiado, deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Odair Cunha (PT-MG). Os deputados temem que integrantes da quadrilha vendam imóveis adquiridos com o lucro dos jogos ilegais. As informações são da Agência Câmara.
No último fim de semana, o jornal Correio Braziliense publicou que José Olímpio de Queiroga Neto, acusado pela Polícia Federal de ser um dos gerentes da organização de Cachoeira, está tentando vender às pressas, pela metade do preço de mercado, parte do patrimônio que a quadrilha possui no entorno do Distrito Federal. Um dos terrenos postos à venda pertence à MZ Construtora Ltda., registrada no nome de dois filhos de Queiroga Neto.
Queiroga Neto esteve na CPM para prestar depoimento no dia 30 de maio, mas evocou o direito constitucional de permanecer em silêncio e foi dispensado pelo presidente da comissão. O acusado foi preso pela Operação Monte Carlo em 29 de fevereiro, mas está livre desde junho por força de um habeas-corpus.
Suspensão
As reuniões administrativas e os depoimentos foram suspensos pela CPI até outubro, após o primeiro turno das eleições municipais. Até lá, Odair Cunha segue adiantando seu relatório final.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
Mulher do principal acusado da Operação Monte Carlo, Andressa Mendonça atraiu olhares por sua beleza e acabou se tornando um dos focos da imprensa durante o processo que investiga um dos maiores esquemas de jogos ilegais do Brasil. Entre juras de amor e promessas de casamento, ela acompanhou Carlinhos Cachoeira nos três dias em que ele esteve em Goiânia para depor
Foto: Sebastião Nogueira/O Popular / Futura Press
Andressa acompanhou o bicheiro em sua transferência do Presídio da Papuda, em Brasília, para a sede da Polícia Federal, em Goiânia. Chegando à capital de Goiás, no dia 23 de julho, ela tentou se encontrar com Cachoeira, que já estava instalado na carceragem da corporação. Diante da negativa, Andressa escreveu uma pequena carta ao companheiro
Foto: Sebastião Nogueira/O Popular / Futura Press
Autorizada a escrever o bilhete, ela não quis revelar seu conteúdo, mas afirmou que se tratava de "coisas de uma mulher para o marido. Nada de especial." No entanto, um fotógrafo local teve acesso à correspondência
Foto: Sebastião Nogueira/O Popular / Futura Press
"Quero que você saiba que é um momento difícil das nossas vidas. Eu sei que o nosso amor é maior que qualquer dificuldade. Você tem uma mulher que te ama e nunca te despreza. Estou orando por ti", dizia ela na carta
Foto: Randes Nunes / Fotoarena
Na terça-feira, 24 de julho, Andressa acompanhou Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, até o prédio da Justiça Federal de Goiânia, para acompanhar as audiências dos envolvidos da Operação Monte Carlo. Dadá é considerado araponga de Cachoeira
Foto: Ed Ferreira / Agência Estado
Nesse mesmo dia, o juiz da 11ª Vara, Alderico Rocha, autorizou dois encontros entre Andressa e Cachoeira. O primeiro ocorreu no final da primeira parte da audiência e durou cerca de cinco minutos. Já o segundo, ocorrido após a segunda oitiva, durou 15 minutos. Questionada sobre os que os dois conversaram, Andressa só relatou que o marido estava otimista
Foto: Diomício Gomes / Futura Press
Andressa e a ex-mulher de Cachoeira, Andréa Aprígio, foram convocadas e devem falar à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. As sessões estão marcadas para ocorrerem dias 7 e 8 de agosto
Foto: Ricardo Rafael/O Popular / Futura Press
Com a promessa do depoimento do bicheiro, a última sessão foi a mais esperada dos três dias. Cachoeira, no entanto, frustrou as expectativas e preferiu o silêncio. "Eu me reservo ao direito constitucional de ficar calado", disse ele diversas vezes
Foto: Ricardo Rafael/O Popular / Futura Press
Ao invés de falar sobre seu envolvimento com a exploração ilegal de jogos de azar e das suspeitas de corrupção de servidores e autoridades, Cachoeira preferiu usar o tempo disponível para fazer declarações de amor para Andressa
Foto: Ed Ferreira / Agência Estado
Os dois moram juntos, mas não são casados. Questionado sobre seu estado civil, Cachoeira disse que essa era uma questão "difícil de responder". "Se o Ministério Público me liberar. No primeiro dia (eu me caso), tá?", disse ele se dirigindo à Andressa
Foto: Ricardo Rafael/O Popular / Futura Press
O casal foi apresentado pelo ex-marido de Andressa, Wilder Pedro de Morais (DEM), quando eles ainda eram casados. Morais assumiu o mandato de Demóstenes Torres, cassado por improbidade administrativa por suspeitas de envolvimento com Cachoeira
Foto: Ricardo Rafael/O Popular / Futura Press
O ex-marido de Andressa chegou a ser flagrado em conversas telefônicas com Cachoeira. Nas gravações da PF, de 2011, o contraventor lembra Morais o papel que teve na sua ascensão política. O senador, por sua vez, usou o Twitter para se defender das acusações de que havia chegado ao cargo por causa de Cachoeira
Foto: Ricardo Rafael/O Popular / Futura Press
"Áudio exibido pela imprensa mostrando Carlos Cachoeira dizendo que me indicou a suplente e secretário é fragmento de uma conversa. Discutíamos sobre questões de foro íntimo, que resultou na minha separação da esposa", disse ele se referindo à Andressa
Foto: Ricardo Rafael/O Popular / Futura Press
Bastante assediada pela imprensa, Andressa chegou ao prédio da Justiça Federal no dia 25 de julho, quarta-feira, para acompanhar a última sessão de depoimentos. "Estou em paz. Eu sou cristã", declarou ela na chegada