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CPI do Cachoeira

CPI do Cachoeira adia votação de requerimentos e ruma para o fim

31 out 2012 - 12h30
(atualizado às 12h36)
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Luciana Cobucci
Direto de Brasília

A pedido do relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG), a comissão parlamentar mista de inquérito (CPI) que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com autoridades e empresas adiou, em reunião na manhã desta quarta-feira, a votação de 533 requerimentos constantes em pauta - que pedem, inclusive, a convocação de autoridades, acareação e quebra de sigilos dos envolvidos. Com isso, os trabalhos da comissão, que estavam parados desde agosto, caminham para o fim. "É só marcar a missa de 7º dia", alfinetou o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP).

Desacompanhado de advogado, Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit depõe na CPI do Cachoeira
Desacompanhado de advogado, Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit depõe na CPI do Cachoeira
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

Os parlamentares ainda discutem o tempo de prorrogação dos trabalhos. O governo quer que a CPI acabe junto com a presente legislatura (em 22 de dezembro, último dia de trabalho antes do recesso), mas a oposição pede mais 180 dias de investigação. Há pressa porque os trabalhos terminam oficialmente no dia 4 de novembro, próximo domingo. Amanhã é o último dia útil de funcionamento parlamentar, já que sexta-feira é feriado (Dia de Finados).

Parlamentares que defendem a prorrogação por 180 dias alegam que não há sentido adiar os trabalhos, principalmente por tempo menor, sem a aprovação de requerimentos que pedem a quebra de sigilos das empresas laranja operadas pela Delta.

O deputado Onyz Lorenzoni (DEM-RS) criticou a decisão de adiar a votação dos requerimentos. "A derrota deixa clara a farsa que se instalou hoje, não se quer investigar as relações dos corruptores. A Delta não virou maior empreiteira do governo de graça, ela pagou por isso. Farsa que foi montada porque se interrompeu a CPI em agosto com argumento de eleições municipais, e isso é inaceitável", disse.

Dois requerimentos - um pedindo a prorrogação por 48 dias e outro, por 180 - ainda dependem das assinaturas de 27 senadores e 171 deputados. Ainda não se sabe qual dos requerimentos vai valer: a Mesa Diretora do Congresso Nacional foi acionada pelo presidente da comissão, Vital do Rêgo (PMDB-PB), a pedido do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), para decidir a questão. Na prática, se o requerimento que pede prorrogação por 48 dias prevalecer, os trabalhos da CPI serão infrutíferos, já que não há tempo hábil para novas investigações.

"Não há como fazer encenação, a CPI está terminando hoje. Com prorrogação de 48 dias, decretamos o encerramento da CPI. Cabe dizer que mais uma vez não nos corrigimos, não aproveitamos as oportunidades para recuperar a credibilidade do Congresso", afirmou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), líder da oposição no Senado.

Bate-boca

O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) reclamou da ausência de governadores citados nas investigações Monte Carlo e Vegas por supostas ligações com Cachoeira. O parlamentar se referiu ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que teve a convocação rejeitada pela CPI.

"Quando foi negada a presença do Cabral, para mim ele passou a ser o principal suspeito das operações da Delta com os governos. Com a Delta não foi diferente, ela foi blindada e não conseguimos avançar nas investigações. Estamos há 60 dias sem tomar uma atitude sequer na CPI", disse. A afirmação provocou reação do deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que saiu em defesa de Cabral. "Considerei a fala do Bueno de uma enorme leviandade", disse.

Um bate-boca entre os dois deputados se seguiu à afirmação, "Leviano é você", atacou Bueno. "Eu lhe chamo do que eu quiser", respondeu Picciani. "Cabral não foi convocado porque nas milhares de horas de gravação o nome dele não é citado. Cachoeira não teve atuação do Rio de Janeiro. A Polícia Federal identificou que ele atuava apenas em Goiás, Tocantins e Distrito Federal e não no Rio", disse.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Fonte: Especial para Terra
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