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CPI do Cachoeira

CPI deve votar convocações de prefeito, executivos e Cachoeira

5 jul 2012 - 08h39
(atualizado às 10h12)
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A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira deve decidir hoje a convocação de outros suspeitos de envolvimento com o esquema do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Ele está preso desde fevereiro, acusado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de chefiar um esquema de relações ilícitas com empresários e agentes públicos para favorecer seus negócios. As informações são da Agência Câmara

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Cerca de 300 requerimentos devem ser analisados. Entre os pedidos de convocação estão os do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), que aparece em vídeo negociando apoio de Cachoeira nas eleições de 2004. Três deputados - Rubens Bueno (PPS-PR), Paulo Teixeira (PT-SP) e Carlos Sampaio (PSDB-SP) - e três senadores - Alvaro Dias (PSDB-PR), Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e Kátia Abreu (PSD-TO) - apresentaram requerimentos.

Também está prevista a análise da convocação de Fernando Cavendish, ex-diretor da Delta Construções S.A., empreiteira campeã de contratos de obras públicas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e suspeita de ligações com Cachoeira; e a de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que acusou Cachoeira de ter tramado a sua queda do órgão federal.

A intenção do relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), é aprovar, ainda, um requerimento para chamar de novo à comissão o próprio contraventor, que compareceu uma vez, mas, munido de um habeas-corpus, não disse nada. Segundo Cunha, Cachoeira "tem dado sinais de que pode falar" à CPI. "Aliás, ele disse isso textualmente quando aqui esteve. A sua esposa, em reportagens, também sinalizou que ele poderia falar. Então nós vamos deixar esse requerimento aprovado para quando o momento for oportuno."

Apoio da Polícia Federal

Os parlamentares também devem analisar quais das pessoas que usaram o direito de ficar caladas vão ser chamadas de novo à CPI. Os que apresentaram justificativas como viagem e atestado médico também devem ser reconvocados e, se preciso, com o apoio da Polícia Federal.

De acordo com o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), os deputados e senadores que compõem a CPI têm "meios legais para, de forma coercitiva", trazer os depoentes. "É o que vamos fazer: tomar os procedimentos legais em relação a quaisquer outras testemunhas."

Pesquisa eleitoral

Esse deve ser o caso de Ana Cardozo de Lorenzo, dona da Serpes Pesquisa de Opinião e Mercado, que recebeu dinheiro da Alberto & Pantoja Construções, empresa de fachada do esquema de Cachoeira, para fazer pesquisa eleitoral para a campanha de Marconi Perillo (PSDB) ao governo de Goiás, em 2010.

Ana Cardozo chegou a pedir para que o depoimento fosse adiado, mas foi negado. Mesmo assim, ela não apareceu para depor nesta terça-feira. Apesar disso, os advogados dela entregaram à CPI mais de 110 páginas de documentos relacionados à empresa de pesquisa, contento notas fiscais, extratos bancários e contratos.

Odair Cunha considerou o material importante: "Ela admite que recebeu R$ 28 mil da empresa Alberto & Pantoja, em razão do pagamento de pesquisa eleitoral que teria sido pedida pelo senhor Edivaldo Cardoso. Ele foi, nada mais, nada menos, que o presidente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de Goiás. É um vínculo evidente de alguém que está no governo goiano com alguém da organização criminosa."

A reunião está prevista para as 9h, na sala 2 da ala Nilo Coelho, no Senado.

Caso Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, se emocionou ao falar na CPI do Cachoeira
Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, se emocionou ao falar na CPI do Cachoeira
Foto: Leonardo Prado / Agência Câmara
Fonte: Terra
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