PUBLICIDADE

CPI do Cachoeira

Ao deixar prisão, Cachoeira diz ser 'garganta profunda' do PT

11 dez 2012 - 19h42
(atualizado às 23h06)
Compartilhar
Exibir comentários

Ao deixar o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO) por volta das 18h50 desta terça-feira, o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, fez um desabafo. “Vou falar para vocês: o PT sabe que eu sou o 'garganta profunda' do PT”, afirmou de dentro do carro. O contraventor foi solto após o juiz federal Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) conceder um habeas-corpus. Ele estava preso desde sábado na penitenciária. 

CPIs: as investigações que fizeram história 

Cachoeira, o bicheiro que abalou o Brasil

Conheça o império do jogo do bicho no País

O bicheiro indicou estar com vontade de contar sua versão do processo que o levou a prisão.  “Cabe recurso total (do processo). O que fizeram aí foi um estupro. Descobriram o garganta profunda de Watergate. E depois eu vou falar quem que é o garganta profunda: posso falar que é do PT”, disse.  Cachoeira disse que iria pedir ao advogado Nabor Bulhões permissão para que ele fale amanhã o que até agora não falou. E citou a CPI do Cachoeira no Congresso. “Agora eu acho que vou falar realmente. Amanhã tem a coisa da CPI, né, o relatório final. Vou falar de alguns personagens que a Delta tem diretamente participado na vida deles e que hoje estão na CPI fazendo um relatório totalmente sem escrúpulo nenhum”, disparou. 

Garganta profunda foi o codinome pelo qual ficou conhecido um informante dos jornalistas do jornal Washington Post que desmascararam o plano do presidente Richard Nixon para destruir os rivais do Partido Democrata. O fato ficou conhecido como Caso Watergate e levou à queda de Nixon. O "espião" só se revelou em 31 de maio de 2005, por meio de um artigo de revista. Ele era W. Mark Felt, vice-diretor do FBI, polícia federal norte-americana, na década de 1970.

Na saída, Cachoeira criticou também as idas e vindas do relatório da CPI. “Tira jornalista, põe jornalista. Põe pessoa física, tira pessoa física. Pede indiciamento – e eles não podem indiciar ninguém”, disse o contraventor, que ainda afirmou que "foi feita Justiça" com a sua nova soltura. Questionado se estava aliviado por estar fora da prisão, Cachoeira sugeriu que acredita que sua defesa vai conseguir extinguir o processo.“Aliviado eu vou estar na hora que este processo estiver trancado. Realmente vai ser trancado porque as provas são todas colhidas ilegalmente”, avaliou o contraventor em uma rápida entrevista.

Ao apreciar liminarmente o habeas-corpus apresentado pela defesa do réu, o magistrado Tourinho Neto entendeu não haver motivo para manter Cachoeira preso. A prisão preventiva havia sido decretada, em primeira instância, pelo juiz federal Alderico Rocha Santos, da 11ª da Seção Judiciária de Goiás na última sexta-feira. Na ocasião, Cachoeira foi condenado a 39 anos e 8 meses de reclusão por diversos crimes relacionados à manutenção de jogos de azar ilegais e teve o prazo de prisão preventiva estipulado em dois anos, que poderia ser substituído, ao final, pelo pagamento de fiança no valor de R$ 10 milhões.

Na avaliação de Tourinho Neto, contudo, a execução provisória da pena foi inconstitucional. "No nosso ordenamento jurídico, não existe prisão preventiva quantificada em tempo", anotou. O magistrado afirmou que esse tipo de prisão só pode ser decretado para garantir a ordem pública, a ordem econômica, a conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da pena. Na visão de Tourinho Neto, nenhum desses requisitos encontra-se presente no caso em questão.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Em 21 de novembro, após 265 dias preso, Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos, a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a pena em regime semiaberto.

No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O pedido foi negado pela Justiça.

No dia 7 de dezembro, Cachoeira voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua prisão preventiva. A defesa ainda pode recorrer da decisão.

Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade