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Política

Cotada para vice de Aécio, deputada de SP elogia Marina

Mara Gabrilli, 45 anos, falou ao Terra sobre a suposta indicação de seu nome na chapa do senador mineiro, elogiou a vice de Eduardo Campos e criticou as políticas voltadas aos 45 milhões de pessoas com deficiência

16 abr 2014 - 07h46
(atualizado às 13h48)
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Há 20 anos, um acidente deixou Mara tetraplégica, sem movimentos do pescoço para baixo
Há 20 anos, um acidente deixou Mara tetraplégica, sem movimentos do pescoço para baixo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

Há 20 anos, a então psicóloga e publicitária Mara Gabrilli tinha pela frente aquele que seria um de seus maiores desafios - ela, que já correra uma ultramaratona de 100 quilômetros: teria que se reabilitar após um grave acidente automobilístico que a deixara tetraplégica, sem os movimentos do pescoço para baixo, para o resto da vida. Os sonhos, ali, eram outros. “Sempre fui hiperativa, não me via atendendo pessoas em um consultório. Mas, na publicidade, sempre quis falar para muita gente através dos painéis eletrônicos”, conta. 

Hoje, em seu primeiro mandato como deputada federal e o segundo como legisladora (foi vereadora em São Paulo entre 2007 e 2010), o desafio dela é outro: ser vice na chapa do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na disputa pela Presidência da República ou tentar a reeleição em uma área de atuação focada em pessoas com algum tipo de deficiência e na qual, além de ter se destacado, está um público de ao menos 45 milhões de brasileiros?

Nem uma coisa, nem outra. A tarefa mais hercúlea da parlamentar de 45 anos, nos últimos dias, pelo menos, tem sido a de responder sobre a suposta indicação em uma chapa-pura tucana e da qual ela jura só ter ouvido falar, até agora, pela imprensa. Nos bastidores, a paulista figura ao lado dos nomes dos senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Mulher traz afeto à chapa, diz cotada para vice de Aécio :

“Estive com o Aécio em São Paulo na última quinta-feira (em uma feira internacional sobre acessibilidade e inclusão), mas ninguém falou comigo sobre esse assunto (eleições). A gente só sabe que tem muito para conversar, principalmente para essa área em que eu trabalho”, disse. “Acho isso (a suposta indicação de seu nome) interessante, fico super lisonjeada, porque encaro como reconhecimento do meu trabalho, mas nunca pensei nesse assunto, nem nunca o planejei.”

Para a deputada, a função do vice é clara: “ele tem que ser um complemento do candidato”. “Porque você não consegue ter todas as características em uma pessoa só. Vejo o vice como aquele que agrega, que enaltece potenciais que não sejam os principais do candidato a presidente. São personalidades tão distintas, com incumbências distintas também, mas eu imagino que seja muito importante que o vice em uma chapa à Presidência seja uma mulher - isso intensifica a representatividade, e essa é a forma como eu vejo a Marina.”

Mara se referiu à ex-senadora Marina Silva (PSB-AC), oficializada nessa segunda-feira como vice na chapa do governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) ao Planalto. “Acho que ela inclui um componente feminino de causas humanitárias, de confiança e de boas práticas na candidatura. Mas não é algo corriqueiro: se o presidente viaja, o vice é quem assume. Tem que se pensar muito a respeito”, concluiu.

A deputada tucana critica as políticas voltadas aos 45 milhões de pessoas com deficiência
A deputada tucana critica as políticas voltadas aos 45 milhões de pessoas com deficiência
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

"Políticas para pessoas com deficiência são um Power Point"

Mara recebeu a reportagem do Terra em seu escritório no centro de São Paulo. É na capital paulista que ela dá expediente às sextas e segundas-feiras - quando então viaja para Brasília.

Além das apostas em torno de seu nome para a campanha presidencial, a parlamentar falou também sobre as políticas públicas voltadas a pessoas com algum tipo de deficiência - políticas que, critica, são “praticamente um arquivo de Power Point”.

“Falta fazer muita coisa. Esse governo criou um programa que ‘nunca antes na história do País’ existiu, mas que é praticamente um Power Point. Prometeram R$ 7 bilhões para serem investidos em três anos - são pouco mais de R$ 2 bilhões por ano divididos por 45 milhões de brasileiros que têm algum tipo de deficiência (cerca de R$ 51, anualmente, por pessoa). Me fala: cadê o investimento no programa?”, questiona.

O recurso, defende Mara, precisaria ser melhor empregado para habilitação e reabilitação desse público seja para educação, para o mercado de trabalho ou para sociedade, de maneira ampla.

Deputada tetraplégica critica política para deficientes:

País não tem reabilitação adequada, diz deputada

“Não adianta ficar falando. A gente tem que sentir é na escola, na rua, na calçada, no posto de saúde. Tem que ter reabilitação, coisa que este País não tem. Eu me sinto uma pessoa extremamente privilegiada por ter podido fazer uma reabilitação maravilhosa e ter cursado duas faculdades, antes de quebrar o pescoço, de modo que, hoje, só 17% das escolas de ensino fundamental têm acessibilidade no Brasil”, constata. “Como que a pessoa com deficiência vai chegar à universidade e vai ser público qualificado para o mercado, ou vai chegar a um posto de diretoria, de gerência? A dívida do governo com essas pessoas hoje é gigante.”

Deputada se emociona com família de quatro cadeirantes:

Com parte dessa “dívida”, a deputada federal, cadeirante, destacou não apenas mudanças que garantam acessibilidade no transporte público também às pessoas com deficiência, como mudança de comportamentos.

“Discursos presidenciais ainda são transmitidos sem a janelinha (com o intérprete) da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os sites do governo praticamente não têm acessibilidade para cegos. Carros de ministros e de outras autoridades, independente do partido, ainda são estacionados em vagas reservadas para pessoas com deficiência. Já que se investe tanto recurso em propaganda, por que não investir em construir cidadania?”, questiona.

A deputada tucana critica as políticas voltadas aos 45 milhões de pessoas com deficiência
A deputada tucana critica as políticas voltadas aos 45 milhões de pessoas com deficiência
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

"Continuo ousando no que diz respeito ao meu corpo"

Quase duas décadas depois do acidente - assunto sobre o qual Mara conversa sem reservas -, a reportagem quis saber: que sonhos mudaram? 

“Com certeza mudaram, porque as propostas de vida mudaram. Mas a intensidade e a vontade de transformar só cresceram, e cresceram porque amadureci”, diz a ex-publicitária que gostava de se comunicar por painéis, mas que nunca, garante, havia pensado em se comunicar em uma tribuna. Hoje, uma cadeira de rodas, ela explica que a “perspectiva” é a mesma que a de muitos de seu público.

“As pessoas com deficiência sempre me intrigaram: acho que eu via o potencial e a falta de oportunidade delas. Já morei na Itália, onde fui cuidadora de uma menina tetraplégica”, recorda-se. E define: “continuo a mesma, mas os propósitos mudaram. Sempre gostei de esportes e sempre fui intensa, tanto que corri uma ultramaratona de 101 km e acho que isso continuou em mim. Continuo ousando no que diz respeito ao meu corpo por saber da capacidade física dele de superação”, afirma.

‘Deputado chorou ao saber que eu não mexia os braços’:

Se já sofreu preconceito ou se recebeu algum olhar de piedade no legislativo federal? A parlamentar contou aos risos um episódio que, segundo ela, prova que não. “Foi uma coisa bonitinha: um deputado bem senhorzinho esticou o braço para me cumprimentar - e até hoje muitos fazem isso - e eu disse para ele que não os mexia. Ele começou a chorar. E eu: ‘mas tá tudo bem, tá tudo bem! Tá tudo certo comigo!’. Nunca senti nenhum olhar diferente deles, talvez porque talvez não preste muito atenção. Acho que me admiram, me tratam de forma igual, ou até melhor - e não por eu ter deficiência, mas porque gostam de mim, porque eu sou como eu sou.”

Fonte: Terra
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