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Política

Comissão inicia hoje a análise das 11 representações contra Sarney

5 ago 2009 - 02h43
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A sucessão de escândalos envolvendo a gestão do senador José Sarney (PMDB-AP) na Presidência do Senado começa a ser oficialmente analisada nesta quarta-feira pelo Conselho de Ética da Casa. A expectativa de que o presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), aliado de Sarney, determine o arquivamento das representações fez a oposição reparar recursos contra a manobra. Senadores favoráveis ao afastamento de Sarney passaram o dia em reuniões, evitaram ataques diretos durante sua permanência no plenário, mas pediram a renúncia do presidente da Casa.

Por sugestão de sua tropa de choque, José Sarney preferiu adiar para hoje o discurso que preparou para, mais uma vez, tentar responder às acusações que são feitas contra ele - que vão da elaboração de atos secretos à nomeação irregular de parentes na estrutura da Casa e desvios na fundação que leva o seu nome no Maranhão.

Ontem, manifestantes tomaram as galerias do Senado para gritar "Fora, Sarney!!!". Os seguranças da Casa expulsaram o grupo antes do início da sessão e houve conflito.

A guerra política que se arrasta há meses no Senado teve uma espécie de armistício ontem. Após o bate-boca do dia anterior entre o senador Pedro Simon (PMDB-RS), árduo defensor do afastamento de Sarney, com os alagoanos Renan Calheiros (PMDB) e Fernando Collor (PTB), o clima no plenário foi de ressaca. O adiamento do discurso de Sarney também esfriou a sessão. "Não houve renúncia nem Dia do Fico", sintetizou o senador Tião Viana (PT-AC), para quem a crise será uma "longa agonia" para Sarney e para o Senado.

Os senadores Renato Casagrande (PSB-ES), José Agripino (DEM-RN) e Sérgio Guerra (PSDB-PE) insistiram no afastamento do presidente da Casa, recomendação aprovada horas antes por um grupo de cinco partidos (PSDB, DEM, PDT, PSB e PT). Mas o discurso mais veemente veio do tucano Arthur Virgílio (AM), que fez uma sugestão insólita a Sarney: "case-se com sua biografia", aconselhou.

Sarney deixou o plenário satisfeito. Sorridente, ele cumprimentou os senadores e saiu pela área privativa, protegido por seguranças. Seu objetivo é tentar demonstrar que ele continua com o controle da situação, enquanto senadores bombeiros tentam, nos bastidores, articular acordo entre a sua tropa de choque e a oposição.

Também ontem, a Diretoria-Geral do Senado determinou a suspensão do pagamento de 79 nomeados por atos secretos. Serão aberto processos individuais para analisar cada contratação - inclusive a de Henrique Dias Bernardes, namorado da neta de Sarney. O presidente da Casa, no entanto, decidiu que voltarão a ter validade 36 dos 663 atos secretos que foram anulados há 22 dias. Entre eles, está o aumento da verba indenizatória dos senadores para R$ 15 mil.

Crise causa a revolta dos bigodudos

Se José Sarney sair da presidência do Senado, o aposentado Wagner Barcellos, 62 anos, vai comemorar raspando o bigode que ostenta há 40 anos. "Tiro na hora! Sarney deveria honrar o bigode dele e se demitir", sugere o aposentado.

O barbeiro José Marcos Araújo, 43 anos, também promete tirar o bigode que carrega há 15 anos se Sarney sair de cena. "Ninguém mais honra o bigode que tem", afirma ele, sobre as denúncias contra o presidente do Senado. "Se ele (Sarney) tivesse vergonha, já teria saído. Assim que ele sair, eu tiro o bigode para comemorar", afirma Araújo.

A revolta de bigodudos contra Sarney vem ganhando as ruas e, principalmente, a internet. O bigode, marca inconfundível de Sarney, virou símbolo da campanha pela saída do peemedebista da Presidência do Senado. Os publicitários paulistas Ricardo Silveira e Viton Araújo criaram o blog Greve de Bigode (http://tiremobigode.blogspot.com). Com o lema "só tiro o meu quando o Senado tirar o dele", o blog rapidamente ganhou a adesão de milhares de internautas e mereceu até destaque do jornal inglês The Guardian.

Segundo Ricardo, tudo começou de brincadeira. "Estávamos de bigode e decidimos, revoltados com a situação do Senado, só tirá-los quando o Sarney sair. Então criamos o blog", explica ele. Por dia, eles recebem cerca de 120 fotos de pessoas com bigode protestando contra Sarney. Apesar de apoiar a campanha, o barbeiro Adelino Gomes de Freitas, 50 anos, porém, não tira o bigode de jeito nenhum. "Honro o meu bigode. O Sarney que tire o dele", afirma Adelino.

Duque diz que 'já está tudo decidido' na Casa

O presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), disse ontem que já tem uma decisão tomada sobre as acusações contra José Sarney. "Já está tudo decidido, está apenas em segredo. Eu estou cumprindo um dever cívico, sem medo de nada. Estou preparado para tudo. Após o anúncio, o Conselho se reúne para apreciar minha decisão", afirmou.

A deterioração da situação política de Sarney mostra um choque de mentalidade no Senado, na opinião de Eurico de Lima Figueiredo, coordenador do programa de pós-graduação em Ciência Política da UFF. "Esse caso é exemplar do nosso atual processo político, num embate entre o 'velho' (fisiologismo, nepotismo e apropriação do público pelo privado) e o 'novo' (cidadania, república, transparência)", disse Figueiredo. Para ele, o clamor público torna ilegítima qualquer tentativa de absolvição de Sarney.

Medo do olhar

O olhar transtornado do ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) no bate-boca com Pedro Simon (PMDB-RS) na segunda-feira, assustou o senador gaúcho. Simon admitiu ontem que teve medo do olhar de Collor. "Fiquei com medo do olhar dele", disse Simon. Ontem, o senador gaúcho encaminhou pedido para que a Corregedoria do Senado interpele Collor sobre as ameaças feitas a ele na discussão no plenário. Questionado por jornalistas sobre o ato de Simon, Collor respondeu ironicamente. "Manda ele (Simon) para...", disse Collor, sem completar a frase.

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