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Política

Com 3 prefeitos em um ano, Campinas enfrenta déficit e greves

20 mai 2012 - 13h28
(atualizado às 13h29)
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Rose Mary de Souza
Direto de Campinas

Neste domingo, faz um ano que Campinas viu a prisão de pessoas do primeiro escalão da prefeitura da cidade. Logo nas primeiras horas daquela madrugada de sexta-feira, 20 de maio, a Justiça atendia ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual de Campinas e decretava a prisão de 20 pessoas, entre secretários de governo, diretores de autarquia, empresários e lobistas.

Ex-prefeito Dr. Hélio foi cassado pela Câmara dos Deputados de Campinas
Ex-prefeito Dr. Hélio foi cassado pela Câmara dos Deputados de Campinas
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra

O saldo daquele 20 de maio é de dois prefeitos cassados. Hélio de Oliveira Santos (PDT) foi retirado do cargo em agosto. Em seu lugar, assumiu o vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT), que foi tirado do cargo em dezembro. Campinas voltou a ter um prefeito eleito indiretamente, com 22 votos dos vereadores, em março deste ano.

Atualmente, a prefeitura de Campinas enfrenta a greve dos servidores, que pedem aumento de 13%. A administração propõe 5%, correspondente ao Índice de Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômico (Dieese). O sindicato fala em 40% de paralisação, enquanto o executivo fala em 28%. Durante a semana, a cidade enfrentou dois dias de paralisação dos motoristas e cobradores de ônibus, que deixaram 600 mil passageiros sem transporte.

A cidade tem um déficit de R$ 300 milhões nos cofres públicos e sonha em receber R$ 3,1 bilhões dos inadimplentes do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Campinas ainda quer por em dia a distribuição de remédios destinados aos pacientes do SUS, concluir as construções de escolas e postos de saúde abandonadas por construtoras terceirizadas, finalizar as obras embargadas dos prédios populares e empreendimentos comerciais suspensos pela Justiça e contratar mais médicos para colocar a casa em dia.

As prisões
Em 20 de maio do ano passado, foram cumpridos 11 mandados de prisão, e os não-localizados foram considerados foragidos. Os carros oficiais da Corregedoria da Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Militar se postaram em vários endereços: os policiais vasculharam o Palácio dos Jequitibás, sede da prefeitura, as residências dos agentes públicos, os escritórios de empresários e da Sociedade de Abastecimento de Agua e Saneamento (Sanasa).

O comboio policial estacionou na avenida Francisco Glicério e se espalhou pelo centro da cidade. Um a um, os presos eram levados para a sede da Corregodoria da Polícia Civil. Curiosos e atônitos, os populares viram os suspeitos escoltados descerem dos camburões.

O primeiro escalão do prefeito Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio, sucumbia às denúncias de corrupção. O prefeito, que antes saboreava 80% de aprovação popular, um politico frequentador de reuniões na periferia, participante de churrasco, inauguração de praça, formatura de jardim da infância, saía do cenário público e mergulhava no ostracismo. Ele não deu mais noticiais nem mesmo aos jornalistas que costumava receber para entrevistas a qualquer hora do dia. Sua residência, em um condomínio de alto padrão, está fechada e não recebe ninguém, garantem os seguranças.

De 7% a 15% de propina
Nos últimos 12 meses, Campinas viu o presidente da Sanasa, Luiz Augusto Castrillon de Aquino, fechar um acordo com o Ministério Público e se beneficiar com uma delação premiada. Aquino contou à CPI na Câmara de Vereadores e à oitiva ao juiz Nelson Bernardes da 3ª Vara Criminal como transportava malas de dinheiro referente a 7% e 15% "de propina" dos contratantes vencedores da Sanasa. A ex-primeira-dama e ex-chefe de gabinete Rosely Nassin Jorge Santos foi classificada pelo MP como a responsável da quadrilha e comandava o desvio de dinheiro das empresas vencedoras de licitações da estatal. Nos meses seguintes, Rosely teria sua prisão decretada e Vilagra seria detido assim que desembarcava no Aeroporto Internacional de Cumbica vindo da Espanha.

No final de 2011, os vereadores aprovaram pela maioria dos votos o aumento de 126% em seus vencimentos para a próxima legislatura, o que provocaria indignação na população. Um homem presente à sessão de votação atirou ovos contra os parlamentares. A Câmara era presidida pelo vereador Pedro Serafim (PDT), que veio a assumir interinamente a Prefeitura após a saída de Helio e Vilagra, e depois foi eleito indiretamente, com 22 votos dos vereadores, o prefeito da cidade até o final deste ano.

Audiências fechada à imprensa
Nenhum dos envolvidos no escândalo da Sanasa está preso. Porém, o juiz Nelson Bernardes chegou a desmembrar o processo e os acusados já estão na condição de réus. Bernardes vem convocando grupos de empresários e ex-agentes públicos para as oitivas. Eles obtiveram liminares na Justiça que lhes garantem privacidade e impedem que a imprensa distribua imagens e som do conteúdo do que está sendo revelado à Justiça. Segundo avaliação do juiz, os depoimentos transcorrerão nos próximos meses, e o processo pode ser julgado até o final do ano.

Para o promotor do Gaeco Amauri Silveira Filho, o caso Sanasa é complexo e agora chega à sua segunda etapa. Silveira Filho e a equipe revelaram, ainda em setembro de 2010, uma rede de corrupção atuante em 11 prefeituras paulistas e um braço no governo de Tocantins, cujos prejuízos aos cofres públicos era de R$ 615,7 milhões. Campinas aparecia com uma rede de desvio de dinheiros em fraudes de licitações, que depois seria melhor dimensionada após a delação do ex-presidente da Sanasa, Luiz de Aquino.

Os prejuízos políticos e administrativos vieram de forma indireta à cidade, na avaliação do promotor Silveira Filho. Apesar do Gaeco atuar na esfera criminal, os resultados refletiram negativamente na área política. "Como as ações atingiram empresários, agentes e servidores públicos de alguma forma interferiram indiretamente no setor politico da cidade", disse. Segundo ele, o processo está em andamento, e os envolvidos irão prestar satisfações à Justiça. Na sua opinião, o escândalo da Sanasa acendeu um alerta na população da cidade. "Acho que hoje a população busca mais informações e cobra medidas e soluções. Houve mudança sim, uma alteração social."

Fonte: Terra
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