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Política

Clã familiar em Roraima, domínio de meios de comunicação e acusações de corrupção marcam carreira política de Jucá

23 mai 2016 - 17h14
(atualizado às 17h43)
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Alvo do mais recente escândalo da crise política reveladas pela 'Folha de S. Paulo', o ministro do Planejamento e presidente do PMDB Romero Jucá pode ser considerado veterano do Congresso Nacional.

Romero Jucá
Romero Jucá
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Alçado a homem forte do recém-iniciado governo interino de Michel Temer, Jucá anunciou na tarde desta segunda-feira que vai se licenciar de seu cargo no ministério a partir de terça. "Caberá ao presidente me reconvidar ou não. (...) Meu gesto é que somos transparentes e nada temos a esconder", disse Jucá a jornalistas.

Economista por formação, ele entrou na política por intermédio de um professor da faculdade, que viu nele um grande potencial e o chamou para trabalhar na Secretaria de Habitação do Governo do Estado de Pernambuco.

Dali, passou para a Secretaria de Educação apadrinhado pelo mesmo professor e, pouco tempo depois, já se projetou nacionalmente ao assumir o comando da Funai (Fundação Nacional do Índio) em 1986.

Mas a carreira política do hoje senador começou a decolar mesmo quando ele conheceu seu eleitorado mais fiel. Nomeado governador biônico do recém-criado Estado de Roraima pelo então presidente José Sarney, Jucá construiu ali um "clã" que domina o cenário político local até hoje.

Começou apadrinhando sua então esposa, Teresa Jucá, que foi Coordenadora de Ação Social do governo do marido e, em 1990, foi eleita deputada federal pelo Estado.

Teresa exerce atualmente seu quarto mandato na prefeitura de Boa Vista, capital do celeiro eleitoral dos Jucá.

O filho do senador também entrou para a política como deputado estadual. Rodrigo Jucá, chamado de Juquinha, chegou até a se candidatar como vice-governador do Estado em 2014, mas não conseguiu se eleger. Hoje, ele é secretário de Saúde de Boa Vista, nomeado pela mãe, Teresa.

Domínio nos meios de comunicação

Sua família também tem fortes laços com os meios de comunicação locais.

As afiliadas locais da TV Record e da Bandeirantes pertencem à família do senador - a Band está presente em mais da metade dos municípios de Roraima. Além disso, os Jucá também têm participação em uma das principais rádios do Estado, a Equatorial 93,3 FM.

Em teoria, parlamentares não podem ser detentores de meios de comunicação, já que estes são uma concessão pública. No entanto, a lei gera dúvidas e polêmicas.

Parlamentares alegam que não há nada na Constituição que "vete a propriedade" por parte dos parlamentares e que, segundo o texto, eles só não poderiam exercer cargos nos meios de comunicação.

Político habilidoso

Senador por Roraima desde 1994, Jucá iniciou seus trabalhos na Casa quando ainda era filiado ao PSDB e virou um dos grandes articuladores do governo de Fernando Henrique Cardoso no Congresso.

Em 2003, no primeiro ano do governo Lula, Jucá mudou de partido e se filiou ao PMDB. Político habilidoso, ele logo se tornou também um articulador do presidente e se manteve próximo dele até o fim de sua gestão, em 2010, quando o PMDB já era base do governo petista. Com a vitória de Dilma Rousseff na eleição, o senador manteve seu apoio ao partido e também foi líder do governo dela no Congresso.

No entanto, com a crise política se acirrando no início desse ano, Jucá foi apontado como um dos principais articuladores dentro do PMDB favoráveis ao rompimento do partido com a presidente pelo impeachment.

Em 29 de março, como vice-presidente do partido, ele anunciou a saída da base dizendo: "Estamos vivendo um momento histórico".

No mesmo dia, em entrevista à BBC Brasil, Jucá disse que o partido tinha de "representar a vontade do povo brasileiro".

"As condições de governabilidade se exauriram. O Brasil é maior que qualquer entendimento político e qualquer partido tem que representar a vontade do povo brasileiro."

Apesar de sua carreira política de sucesso, Jucá foi alvo de investigações de alguns escândalos que, inclusive, já lhe custaram o cargo de Ministro da Previdência Social do governo Lula. Ele ficou somente quatro meses no cargo em 2005 devido ao desgaste causado pelas acusações de que teria oferecido ao Banco da Amazônia (Basa) fazendas inexistentes como garantia de empréstimo feito pelo banco à empresa Frangonorte em 1996 - da qual Jucá foi sócio entre 1994 e o final de 1996.

O caso foi arquivado em 2008 por já ter prescrito.

Atualmente, o ministro e presidente interino nacional do PMDB é citado em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). A suspeita é de recebimento de propina de contratos do setor elétrico disfarçada de doação eleitoral a seu filho, que disputou o cargo de vice-governador de Roraima em 2014. Jucá também é investigado no principal inquérito da Lava Jato no STF, que apura formação de quadrilha no esquema de desvios da Petrobras.

Jucá nega envolvimento dos escândalos. "Sempre defendi e apoiei a Lava Jato", disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira. "Não tenho nenhum temor em ser investigado. (...) Se tivesse telhado de vidro não teria assumido a presidência do PMDB."

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