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Política

"Brasil perdeu 50 anos desde golpe", diz filho de Jango

31 mar 2014 - 10h56
(atualizado às 12h15)
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O Brasil perdeu 50 anos desde o golpe de 1º de abril de 1964, que mergulhou o país em uma ditadura de 21 anos, porque as reformas propostas pelo então presidente, João Goulart, ainda precisam ser feitas, disse em entrevista exclusiva à Agência Efe o filho do presidente deposto, João Vicente Goulart.

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"Estaríamos em uma situação muito diferente. Perdemos 50 anos. É lógico que o país evoluiu, mas, se as reformas tivessem sido adotadas na época, nosso nível de desenvolvimento seria muito superior hoje", afirmou o presidente do Instituto João Goulart, que tinha sete anos quando acompanhou o pai ao exílio.

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João Vicente, que é filósofo, poeta e empresário, dedicou os últimos anos a resgatar a memória do pai, explicou que a maior parte das "reformas de base" propostas por Jango ainda não foram iniciadas.

Essas reformas estruturais, tachadas de "comunistas" por alguns e que aterrorizavam ruralistas, militares e banqueiros, foram implantadas por muitos dos grandes países capitalistas, afirmou.

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Goulart explica que a reforma agrária de Jango distribuiria títulos de propriedade a 1 milhão de camponeses ("nada mais irônico do que um comunista distribuindo títulos de propriedade"), a bancária permitiria que o crédito chegasse a toda a sociedade, a tributária criaria impostos sobre as grandes fortunas e a educacional universalizaria a educação.

"Estou citando uma a uma porque nenhuma foi feita até hoje. Foram propostas 50 anos atrás e ainda são necessárias", assegurou.

Para ele, a perda de meio século se reflete no Índice de Gini, utilizado pela ONU para medir a desigualdade, e que "está voltando agora ao nível em que estava na época de Jango".

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"Derrubaram uma constituição, depuseram um governo legítimo, implantaram uma ditadura, reduziram os salários, criaram a ideia de que o Brasil era um país imparável que vivia um milagre econômico e que o bolo estava crescendo para depois ser dividido. O problema foi que o bolo cresceu, não foi dividido e ficamos devendo a farinha e os ovos. Só agora estamos recuperando a economia e voltando ao nível de desenvolvimento da época", disse.

João Vicente diz esperar que o Brasil aproveite os 50 anos do golpe, amanhã, para fazer uma profunda reflexão "nas universidades, nos sindicatos, nos movimento sociais" sobre as reformas que o Estado precisa fazer.

"Independentemente de estarmos em um ano eleitoral e de termos um governo de direita ou de esquerda - entre aspas - é fundamental saber que existe um gargalo para o desenvolvimento e que para superá-lo é preciso fazer a reforma do Estado, a agrária, a do seguro social", continuou.

O filho de Jango garantiu que os militares tomaram o poder financiados por "interesses econômicos das multinacionais que não queriam as reformas para poder continuar subjugando as economias latino-americanas, que é o que acontece até hoje".

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Segundo Goulart, a sociedade brasileira não estava polarizada em 1964 como alegavam então os grandes meios de comunicação, que, analisou, ficaram do lado dos golpistas desde 1962, quando a CIA forneceu dinheiro para comprar redações, promover a instabilidade, financiar ações encobertas e escolher políticos contrários a Jango.

"Essa polarização foi fabricada, tanto que esconderam durante 40 anos uma pesquisa que atribuía a Jango 68% do apoio da opinião pública e 89% entre os setores mais pobres", disse.

Goulart não considera tardia a homenagem que o governo brasileiro fez recentemente a seu pai ao receber seu corpo em novembro em Brasília com as honras de chefe de Estado que foram negadas pela ditadura.

"Rever a história do Brasil é um compromisso da nação. Jango é hoje um bem cultural imaterial da nação e do país, que tem uma responsabilidade com a verdade, e por isso (o governo) tem que investigar o que ocorreu com Jango, com suas propostas, com sua vida, com sua morte. É um dever investigar tudo isso", concluiu.

<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/brasil/golpe-ou-intervencao/" href="http://noticias.terra.com.br/brasil/golpe-ou-intervencao/">veja o infográfico</a>
EFE   
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