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Política

BA: Dilma e Lula atribuem "voz das ruas" ao governo do PT

25 jul 2013 - 01h43
(atualizado às 01h56)
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A coisa não anda mesmo fácil para o Partido dos Trabalhadores. Depois de reduzir de 10 para seis os encontros comemorativos dos dez anos da legenda no governo brasileiro, o partido teve que enfrentar uma série de contratempos no evento, que aconteceu em Salvador na noite desta quarta-feira. Além das manifestações do Movimento Passe Livre, da Associação dos Pescadores e Marisqueiras, do Sindicato dos Médicos e do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, os petistas tiveram que lidar com o descontentamento de correligionários, que se revoltaram após serem impedidos de entrarem no salão de conferências do Bahia Othon Palace Hotel. A ordem teria partido da segurança da Presidência da República, sob a alegação de que a capacidade máxima do espaço tinha sido atingida.

Evento fez parte da série de encontros comemorativos dos dez anos do PT no governo brasileiro
Evento fez parte da série de encontros comemorativos dos dez anos do PT no governo brasileiro
Foto: Ana Carolina Araújo / Especial para Terra

O último seminário da série “O decênio que marcou o Brasil”, com o tema Participação Popular e Movimentos Sociais, estava marcado para as 17h, mas só começou às 18h30. As falas mais esperadas da noite, da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, só aconteceram entre 21h e 23h. Ainda durante a fala da chefe do Executivo o salão começou a se esvaziar - curiosamente, bem na hora que ela falava sobre o pacto da mobilidade. O motivo: em Salvador, a frota de ônibus urbanos diminui drasticamente após as 22h e muita gente poderia ficar sem voltar pra casa.

Bastante rouca, Dilma Rousseff abriu sua fala afirmando que o grande obstáculo do governo brasileiro é a desigualdade, que atinge o País tanto em questões econômicas e sociais, como raciais e de gênero. Levando em frente o discurso que tem sido adotado pelo PT nas últimas semanas, e desconsiderando a queda da própria popularidade nas pesquisas recentes, ela afirmou que as grandes manifestações ocorridas pelo País no mês de junho fazem parte do projeto político da legenda. “Nosso governo venceu a fome e a miséria extrema. Criamos cidadãos mais conscientes, com novos desejos e que precisam se manifestar. Esse é o caminho natural do desenvolvimento”, avaliou.

Num segundo momento, a presidente reforçou a ideia dos cinco pactos nacionais apresentados em entrevista coletiva no mês passado com destaque para a questão fiscal, pois segundo ela, o momento é muito propenso a ações populistas e essa tentação deve ser refreada.

O único momento em que Salvador virou foco do discurso foi durante o tema mobilidade, onde a capital baiana deve avançar com a desoneração de impostos e da folha de pagamento das empresas de ônibus, além de investimentos que integrarão os R$ 50 bilhões distribuídos entre as grandes e médias cidades brasileiras. Segundo Dilma Rousseff, a planilha do transporte rodoviário no país foi elaborada em 1984 e revista pela última vez em 1993. “Precisamos de um novo método, que se aplique ao contexto atual e possa dar uma visão real dos custos do serviço”, afirmou. Em Salvador, o secretário municipal de transporte e infraestrutura, José Carlos Aleluia (DEM), prometeu dar acesso às planilhas de custos das empresas no mês passado, mas ainda não há novidades. Segundo o sindicato patronal, o documento ainda não existe.

Quando o tema foi saúde, Dilma voltou a falar da ausência total de médicos em 700 municípios brasileiros e do grave déficit em outros 1900, abordou a criação de novas vagas para curso de graduação e residências em medicina, mas não mencionou o polêmico aumento de dois anos na duração dos cursos. A medida, que integra o programa Mais Médicos, tem sofrido duros ataques das entidades da categoria e sido alvo de forte lobby contrário no Congresso Nacional.

Encerrando sua fala, a presidente voltou a defender o plebiscito como melhor caminho para a reforma política que deve acontecer em breve. “Há quem queira interpretar a voz das ruas como se nada tivesse sido feito nestes dez anos. Há uma década, com o PT, o País não fecha o ano fora da meta da inflação. Não podemos permitir que sejam enganados aqueles cidadãos que não recebem toda a informação disponível”, provocou.

Antes dela, o ex-presidente Lula, que prometeu ser breve, falou por uma hora. Além das conhecidas histórias sobre a fundação e o desenvolvimento do PT, ele sustentou o discurso de que a legenda nasceu entre as pessoas para depois se institucionalizar, e que pretende continuar seguindo esta linha de atuação. “Sabemos que muita gente do PT se envolveu com o que não deveria e isso nos envergonha, mas precisamos continuar fiéis ao que propusemos, que foi uma transformação profunda num país que passou 400 anos sendo massacrado de todas as formas”, disse.

Apesar de não citar nomes, o ex-presidente foi incisivo em dizer que grande parte dos problemas do País se deve à sua condução política nas décadas de 1970 e 1980. “Eu tenho pena de quem é prefeito ou governador hoje no Brasil, pois os mandados se resumem a ações de reparação das barbaridades que foram feitas antes de o PT estar no governo”, afirmou.

Dado a declarações pitorescas, Lula ironizou o título de doutor honoris causa que recebeu na Universidade de São Marco, no Peru, dizendo que antes de receber a comenda era ignorante, mas depois ficou “sabido”, e orgulhou-se de ter sido o único presidente sem nível superior e o que fundou mais universidades. Além disso, ele confirmou que prolongou ao máximo a divulgação do nome de sua ex-ministra como candidata a presidência para evitar que o PT “quisesse fazer uma discussão interna para tomar a decisão final”.

Após o encerramento da cerimônia, por volta das 23h, a presidente Dilma Rousseff embarcou de volta para Brasília, onde cumpre agenda nesta quinta-feira. O ex-presidente Lula atendeu ao convite do governador Jaques Wagner (PT) para jantar em sua casa.

Fonte: Especial para Terra
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