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Política

Ataques contra militantes aumenta debate sobre rumos dos protestos no país

22 jun 2013 - 10h04
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A onda de protestos que toma conta do país vive um momento emblemático, com um profundo debate sobre os rumos que o movimento irá tomar, principalmente depois de ataques contra integrantes de partidos e militantes de grupos políticos e sociais.

Iniciado a partir da reivindicação pela redução do preço das passagens de ônibus nas principais cidades do país, outras pautas foram incluídas no debate, e alguns setores passaram a denunciar o que consideram uma "guinada conservadora" no movimento.

O Movimento Passe Livre (MPL) já anunciou em nota que deixará as manifestações em São Paulo devido às hostilidades: "O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. Repudiamos os atos de violência a essas organizações durante a manifestação, da mesma maneira que repudiamos a violência policial".

Bruna Provazi, musicista e integrante da Marcha Mundial das Mulheres, presenciou neste domingo várias dessas ações na principal cidade do país. A militante contou que na última semana sentiu uma mudança de perfil entre os manifestantes, pelo menos em São Paulo.

"Nós, dos movimentos sociais, junto com alguns partidos de esquerda e o próprio MPL, nos organizamos para voltar às ruas reforçando nossas pautas por transporte público de qualidade e pelo direito à cidade, unificadas em torno do passe livre. Assim que chegamos na (Avenida) Paulista, no entanto, o clima já era de hostilidade", explicou.

"Fomos expulsos da rua, a bandeira da Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora) foi rasgada, começou a 'caça' de neonazistas a todos que estivessem de vermelho", acrescentou a militante.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) foi outro que presenciou agressão contra integrantes de partidos políticos.

"Ontem (quinta-feira), foi um absurdo o que aconteceu com militantes do PSTU, porque um grupo claramente nazista agiu com muita violência. Dois dos agredidos, inclusive, estão em estado grave no hospital", disse o parlamentar.

Na opinião de Freixo, os partidos devem participar dos atos, mas admite que são casos diferentes, o de um grupo radical que ataca militantes políticos e o da grande massa nas ruas que não se sente representada pelas legendas atuais.

"Eu acho que deve haver conversa dos partidos com os movimentos, mas você não tem com quem conversar. Acho que os partidos não deveriam insistir em levar bandeira, o que não significa que não devam ir. Não tem que querer controlar o movimento", explicou o deputado.

Em sua análise, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj considera quase impossível prever quais rumos serão tomados. Para ele, isso se deve pelo movimento ter nascido sem bandeiras de sindicatos, grupos ou partidos, uma situação historicamente nova.

"Temos a comprovação de que a redução do valor da passagem não se seguiu da redução do movimento. É um movimento em que a grande massa não é de direita, não é golpista. O sentimento é de desejo da democracia", explicou.

"A aversão ao partido, por um lado eu entendo, mas é perigosa. O partido nasce para se contrapor ao total, é a possibildade da diferença, o contrário do partido é o totalitarismo. A primeira coisa que qualquer ditadura faz é acabar com partido e parlamento", acrescentou Freixo.

Na quinta-feira, 35 entidades do movimento social e popular publicaram no portal "Vermelho", ligado ao PCdoB, uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff apresentando reivindicações e respaldando a representatividade das instâncias políticas existentes.

"O momento é propício para que o governo faça avançar as pautas democráticas e populares, e estimule a participação e a politização da sociedade. Nos comprometemos a promover todo tipo de debates em torno desses temas e nos colocamos à disposição para debater também com o poder público", diz o texto.

Por outro lado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) defendeu em discurso no plenário do Senado na quinta-feira que haja uma profunda reforma política no país, feita por congressistas eleitos especificamente para isso, que não poderiam se eleger para qualquer outro cargo por pelo menos oito anos.

"O que eles (manifestantes) querem, ao meu ver, é um grupo de pessoas que faça a reforma política, que não somos nós que vamos fazer. Porque nós vamos fazer pensando em eleição. E pensando em um ano na frente não se faz reforma política, se faz pensando por meses, por décadas", garantiu.

Ontem, o ex-ministro da Educação defendeu no Twitter o fim das legendas atuais. Entre muitas críticas e elogios, garantiu que a opinião é abalizada por 2 milhões de brasileiros, questionando que os partidos recebem dinheiro do fundo partidário e espaço na televisão.

"Partido faz parte do sistema. É por isso que não querem que nenhum de nós vá lá para dentro e estão certos de não querer. Mesmo simpatizantes deles, mesmo tendo alertado tudo isso, nós somos do sistema", disse o senador no discurso da quinta-feira.

Na noite de sexta-feira, em pronunciamento à nação, a presidente Dilma Rousseff declarou que é um erro abrir mão de partidos como muitos manifestantes pediram nas ruas do país. "É um equívoco achar que um país pode prescindir de partidos e do voto popular. Precisa ter mais mecanismos de controle", afirmou a presidente.

Para o sociólogo Ignácio Cano, ainda é uma incógnita que rumos os movimento pode tomar, inclusive a possibilidade de que aconteça uma reforma política no país. "Precisamos dessa reforma, mas é difícil esperar que os políticos a façam. Talvez um choque externo possa agilizar esse processo", afirmou.

Os atos e reivindicações colocados na rua, segundo o pesquisador, não podem ser apontadas por si só como risco ao regime de governo do país, que vigora desde o fim da ditadura militar. Nem mesmo o ataque aos partidos e militantes, para ele, pode ser classificado como uma ameaça iminente.

"O que está sendo rejeitado na manifestação é o establishment, o protesto é contra o que está aí, até pelo risco de partidarização do movimento. Não acho que existe alguma rejeição ao sistema político. Claro que há sempre minorias radicais, mas não é contra a democracia", concluiu.

EFE   
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