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Política

Após início pacífico, protesto com 100 mil no Rio têm confrontos e depredação

17 jun 2013 - 22h04
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Uma grande manifestação que reuniu cerca de 100 mil pessoas nesta segunda-feira no Centro do Rio de Janeiro por melhores serviços públicos e custo de vida mais justo, entre várias outras reivindicações, e que transcorria de forma pacífica até por volta das 20h, acabou também protagonizada por depredações e confrontos entre um grupo de participantes e a polícia.

Os distúrbios começaram em frente à Assembleia Legislativa, na rua Primeiro de Março. Policiais militares tentaram dispersar manifestantes que teriam tentado invadí-la, e estes reagiram com fogos de artifício e jogando pedras.

Acuados no local e em menor número, os policiais então usaram balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Houve tumulto e correria na região da Assembleia, e alguns manifestantes quebraram vidraças de lojas e agências bancárias, enquanto outros picharam as pilastras do Palácio Tiradentes, sede do Legislativo estadual.

Na lateral do prédio, um carro foi incendiado. O Largo do Paço Imperial, que fica próximo, também foi palco de enfrentamentos.

O protesto de hoje levou milhares de pessoas à avenida Rio Branco, principal eixo comercial do Centro do Rio de Janeiro. Em sua maioria jovens e muitos vestidos de branco, os manifestantes cobram melhor transporte, educação e saúde, e mostram insatisfação com a política do país em geral.

Os lemas e palavras de ordem do protesto eram "Vem para a rua" e "O Brasil acordou". Os gritos dos manifestantes mostravam insatisfação com o prefeito da cidade, Eduardo Paes, o governador Sérgio Cabral, e com a Copa do Mundo no Brasil.

A presidente Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes, o deputado federal Marcos Feliciano, o mensalão, os altos gastos públicos com megaeventos esportivos no Brasil e a ação violenta da polícia também foram alvo de críticas.

Quando levantadas em meio aos participantes presentes na Rio Branco, bandeiras de partidos políticos foram vaiadas, e logo surgiu um coro de que "a única bandeira é do Brasil".

Muitas pessoas levaram flores contra a violência e narizes de palhaço contra a hipocrisia. Houve quem fosse fantasiado, como o caso de um rapaz vestido de "bolha imobiliária".

Nos cartazes, era possível ler as frases "pão e circo, não, queremos saúde e educação!" e "Não somos terroristas, queremos paz!", entre outras.

Uma das cerca de 100 mil pessoas presentes ao ato - segundo a Polícia Militar e especialistas da Coppe/UFRJ -, a estudante Mariana Godois, de 19 anos, disse acreditar que o movimento transcende a insatisfação pelo aumento do preço do transporte público, que desencadeou em São Paulo a onda de manifestações pelo país.

"Lutamos contra esse absurdo de dinheiro que foi gasto em estádios para se exibir para quem está lá fora, sendo que o que o país precisa é saúde e educação. Os 'vinte centavos' (do aumento da passagem de ônibus) foram a gota d'água pra gente lutar pelo que acredita", disse a jovem à Agência Efe.

De terno escuro bem alinhado e gravata vermelha, o advogado João Tancredo, de 56 anos, aguardava imóvel enquanto um jovem pintava seu rosto com tinta verde.

Ele negou a ideia de que este é um protesto de jovens e estudantes: "não é uma questão de idade, é uma questão de cidadania. A polícia não precisa reprender, as pessoas sabem se organizar", disse em declaração à Efe.

Para ele, foi "a repressão violenta que uniu o Brasil dessa forma".

A professora e psicóloga aposentada Dionéia Vasconcelos, de 75 anos, participa de manifestações desde o começo da carreira, na década de 60.

"Nosso objetivo aqui é acabar com essa incoerência entre o Brasil que estão exportando e o que vivemos aqui. Não queremos essa miséria toda na saúde, na educação, no transporte, queremos esse Brasil que é exportado", afirmou à Agência Efe.

A advogada Ana Forn, de 30 anos, vestia roupa social e sapatos de salto alto quando se ajoelhou no meio-fio da avenida Rio Branco para fazer um cartaz improvisado, já que acabava de sair do trabalho e se preparava para aderir à manifestação.

"O protesto tem que ser assim, pacífico. O objetivo não é brigar, é discutir e reformar. Os brasileiros estão todos indo morar fora, mas a gente não quer morar fora, a gente quer que a vida aqui funcione", disse.

Em frente à Biblioteca Nacional, o último ponto da marcha, o estudante Otávio Bittencourt abordou os policiais militares que acompanhavam a manifestação de uma distância respeitosa, e entregou uma flor para cada um.

"Faço isso para mostrar para a mídia que nossos manifestantes não querem guerra, querem paz. Tem os poucos que vêm para depredar, sim, mas não é essa a ideia. Nós não estamos depredando o patrimônio público, ele já está depredado", disse o estudante, criticando a postura de parte da imprensa na cobertura das manifestações.

Durante todo o trajeto pela Rio Branco - onde não houve distúrbios como os na frente da Assembleia -, a passeata recebeu o apoio de trabalhadores que estavam nas janelas dos edifícios da Avenida Rio Branco, que faziam chuva de papel picado por onde passavam os manifestantes.

EFE   
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