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Política

Analistas: saída de Palocci leva Dilma a assumir articulação

7 jun 2011 - 21h23
(atualizado às 21h31)
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A saída de Antonio Palocci da Casa Civil deve forçar a presidente Dilma Rousseff (PT) a assumir o comando da articulação política de seu governo. Esta é a avaliação de cientistas políticos ouvidos pela Agência Brasil. Na opinião de Paulo Kramer, professor da Universidade de Brasília (UnB), "Dilma está despertando para a realidade: no regime presidencialista, como o nosso, o presidente é o articulador em chefe. Não dá para terceirizar".

Cientistas políticos ouvidos pela Agência Brasil afirmam que Dilma deve assumir articulação política após a saída de Palocci
Cientistas políticos ouvidos pela Agência Brasil afirmam que Dilma deve assumir articulação política após a saída de Palocci
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

A mesma avaliação tem David Fleischer, cientista político da UnB. "Dilma vai participar mais e terá que rearticular com o Congresso e com os governadores", disse ele. Para o professor, a função é um desafio à presidente que "não é experiente" nos bastidores da articulação política. "Ela terá que mostrar novas habilidades", disse Edir Veiga, da Universidade Federal do Pará, ao lembrar a formação técnica de Dilma.

Na avaliação do diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, o governo terá que atuar "para destravar e fazer fluir" a interação com o Parlamento. Coisa que Palocci não fez em sua opinião no começo do governo, porque "era estrela", e depois porque foi alvejado pela revelação do enriquecimento patrimonial. O diretor crê que Palocci "saiu na hora certa", pois foi poupado pela Comissão de Ética do governo, pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Procuradoria-Geral da República, que arquivou ontem a denúncia contra o ex-ministro.

Para Paulo Kramer, o ex-ministro-chefe da Casa Civil "demorou a sair" e "criou uma crise nos primeiros seis meses de governo". Em sua opinião, a condução desgastou o governo, que "agora tem que recuperar o tempo perdido". Além do governo, a crise também afetou o PT, pois para ele "Palocci era um isolante térmico do governo e do partido". O professor David Fleischer ressalta que a queda de Palocci tira um peso negativo que estava repercutindo na imagem do governo, conforme pesquisas de opinião monitoradas pelo Palácio do Planalto.

A segunda queda de Palocci

De acordo com reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 15 de maio, semanas antes de assumir a chefia da Casa Civil Antonio Palocci (PT) comprou um apartamento em São Paulo por R$ 6,6 milhões. Um ano antes, ele havia adquirido um escritório na cidade por R$ 882 mil. Com os novos bens, o patrimônio do ministro teria se multiplicado 20 vezes em quatro anos. O ministro alegou que o lucro foi gerado por sua empresa de consultoria, a Projeto, dentro da legalidade e declarado à Receita Federal. No entanto, ele alegou que cláusulas de sigilo o impediam de revelar maiores detalhes sobre os contratos ou seus clientes.

Mas a onda de denúncias continuou. Na Câmara, o PSDB levantou suspeitas sobre a liberação rápida de cerca de R$ 9 milhões em restituição do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) logo após o primeiro turno das eleições de 2010 a uma empresa, a WTorre. Os valores, relativos aos anos-base 2007 e 2008, teriam sido liberados apenas um mês e meio após o pedido, em duas operações com diferença de quatro minutos entre uma e outra. Em contrapartida, segundo a oposição, a empresa teria financiado a campanha da presidente Dilma Rousseff no valor de R$ 2 milhões. A WTorre seria uma das clientes da empresa de Palocci.

Pressionado pela oposição e pela própria base para que apresentasse uma defesa em público, Palocci concedeu uma única entrevista sobre o tema. Na noite de 3 de junho, ele afirmou ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que sua empresa não atuou com contratos públicos. O ministro disse que trabalhou em fusão de empresas, mas que nunca junto ao Banco Central, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ou ao Ministério da Fazenda para resolver problemas das empresas que procuraram seus serviços.

A Procuradoria Geral da República solicitou explicações ao ministro, mas decidiu arquivar os pedidos de investigação por considerar que não houve indícios de procedimentos ilegais. Mesmo assim, a pressão política sobre Palocci não diminuiu e a articulção da oposição para aprovar uma CPI contra Palocci avançava no Congresso. Diante disso, no dia 7 de junho, o principal ministro de Dilma Rousseff pediu demissão.

Agência Brasil Agência Brasil
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