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Polícia

Vizinhos de DP elogiado por Alckmin reclamam de assaltos

Governador e SSP escolheram DP que não teve homicídios no 1º semestre, na zona leste, para anunciar "queda recorde de assassinatos"

24 jul 2015 - 19h52
(atualizado às 20h03)
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O governo de São Paulo divulgou nesta sexta-feira dados que apontam queda recorde no número de homicídios dolosos (ou intencionais) no Estado, na Grande São Paulo e na capital no primeiro semestre deste ano. O anúncio foi feito pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, que não forneceram dados sobre crimes como assaltos, estupros e latrocínios – informações que ficaram de ser divulgadas só na próxima segunda-feira.

A entrevista coletiva da dupla aconteceu no 52º Distrito Policial, no Parque São Jorge (zona leste de SP), em uma escolha estratégica: o DP não registrou um único homicídio em todo o semestre passado. Já a 5ª Delegacia Seccional, que engloba 12 DPs da zona leste, foi apontada pela SSP como “destaque” com a taxa de homicídios de 4,4 por 100 mil habitantes – a menor da capital, que registrou 9,38/100 mil. A taxa é considerada a menor da série histórica, iniciada em 2001.

Alckmin e o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes (à direita, na foto), divulgaram hoje só os dados positivos sobre redução de homicídios
Alckmin e o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes (à direita, na foto), divulgaram hoje só os dados positivos sobre redução de homicídios
Foto: Janaina Garcia / Terra

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Em um raio de 500 e 1.000 metros do DP, no entanto, moradores e comerciantes relataram sensação de insegurança permanente em função, principalmente, de assaltos e furtos de veículos.

"Não me sinto segura de jeito nenhum. Uma amiga foi assaltada há poucos dias, e volta e meia acontece algum caso desses nas ruas", relatou a corretora Sílvia Reis
"Não me sinto segura de jeito nenhum. Uma amiga foi assaltada há poucos dias, e volta e meia acontece algum caso desses nas ruas", relatou a corretora Sílvia Reis
Foto: Janaina Garcia / Terra

“Moro aqui no bairro há quatro anos e não me sinto segura de jeito nenhum. Uma amiga foi assaltada há poucos dias, e volta e meia acontece algum caso desses nas ruas, ainda que perto do metrô [no caso, a estação Carrão]”, relatou a corretora Sílvia Reis, de 52 anos. Como é a sensação de insegurança ali?, quis saber a reportagem. “Péssima, porque a gente tem medo de estupro, assalto, sequestro. Mesmo tendo uma delegacia perto”, observou.

Marido de Sílvia, José Roberto da Silva, de 57 anos, disse que “a sensação de insegurança na região é grande”. “Tenho três filhas e tenho muito medo de estupro e assalto, porque volta e meia tem alguma história de violência”, afirmou.

“É horrível, a gente não tem nenhuma segurança. O que adianta não ter homicídio se sempre tem assalto? E mesmo com posto policial perto, imagina se não tivesse?”, indagou a estudante Vivian Reis, de 19 anos.

Os três entrevistados moram ou trabalham a cerca de 500 metros da delegacia visitada por Alckmin e o secretário.

"Tenho três filhas e tenho muito medo de estupro e assalto, porque volta e meia tem alguma história de violência”, diz José Roberto da Silva
"Tenho três filhas e tenho muito medo de estupro e assalto, porque volta e meia tem alguma história de violência”, diz José Roberto da Silva
Foto: Janaina Garcia / Terra

Moradora do Tatuapé, também na zona leste, a assistente financeira Ingrid Vale, de 24 anos, contou ter sido assaltada já sete vezes só na região – no próprio bairro, na Penha e na Vila Matilde, todos englobados pela delegacia seccional citada pelo governador. “O policiamento precisava ser mais rígido – já cheguei ao cúmulo de ser assaltada quase em frente a um PM. Tem muito roubo de celular na região”, relatou.

Nascido e criado na região, o securitário Hernani Januário, 57, disse que o local “é tranquilo, mas tem muito ladrãozinho pé de chinelo de uma favelinha aqui perto”. Já o comerciante Rogério Pelegrini, de 32 anos, contou que fecha seu bar nas férias escolares mais cedo porque “à noite é muito perigoso assalto”. Esses dois entrevistados moram e trabalham a pouco mais de 900 metros do 52º DP.

A reportagem indagou o secretário de Segurança sobre o porquê de fracionar os dados de violência e divulgar os mais positivos hoje e ontem, mas ele não respondeu.

Números de homicídios “são excepcionais”, diz secretário

Pelos números divulgados hoje, o Estado teve queda recorde de homicídios dolosos tanto para o mês de junho quanto para o semestre – respectivamente 262 e 1.931. Já na capital, foram registrados 530 homicídios dolosos no semestre e 73 no mês de junho, enquanto, no interior, foram 141 casos em junho e 956 no semestre.

Como parte da estratégia de fracionar a divulgação dos dados de violência, a SSP antecipou ontem a redução de 11,25% no mês de junho e de 3,85% no último trimestre dos roubos de cargas no Estado – no semestre, porém, houve aumento de 2,84% no número de casos.

“Ano passado, o Estado havia terminado com 10,06 homicídios por 100 mil habitantes – foi o único Estado que chegou a um número aceitável pela ONU (Organização das Nações Unidas). Estamos encerrando o primeiro semestre com 9,38 por 100 mil”, disse o secretário. “São números razoáveis, mas dentro do contexto brasileiro, eu diria que são números excepcionais”, classificou, para explicar que a taxa de assassinatos dolosos no País é de 27,5/100 mil. “Se tirarmos São Paulo e calcularmos o Brasil sem o Estado, a taxa nacional sobe para mais de 30/100 mil”, gabou-se.

Alckmin, por sua vez, defendeu que ações recentes de combate ao tráfico de drogas – como a apreensão de 14 toneladas de maconha e duas de cocaína, semana passada – incide também na redução dos homicídios. “Varia de 30% a 40% o número de homicídios atrelados ao tráfico”, afirmou.

Indagado sobre o esclarecimento de crimes de assassinato, o governador citou que a taxa fica em 54%, e 89% nos casos de chacinas. Após uma cochichada do secretário, Alckmin completou: “Alexandre me lembra que os Estados Unidos, que têm o melhor sistema de segurança, têm [taxa de] 62% de esclarecimento”.

Sobre a divulgação dos demais dados, a assessoria de imprensa da SSP informou que, por lei, a pasta tem até o dia 25 de cada mês para apresentá-los – sem a necessidade obrigatória, portanto, de que sejam apresentados de uma única vez.

Fonte: Terra
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