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Polícia

Violência: nas ruas, PMs mudam rotina e dizem depender da sorte

5 nov 2012 - 14h50
(atualizado às 15h10)
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Vagner Magalhães
Direto de São Paulo

A onda de violência em São Paulo continua. Somente nessa última semana foram 70 assassinatos em com características de execução. E, neste domingo, subiu para 90 o número de policiais militares mortos no Estado desde janeiro deste ano. Os policiais contam como o aumento da violência contra a corporação mudou as suas rotinas nos últimos meses, se queixam sobre a ausência de "respaldo" por parte da Instituição e que estão à mercê da própria sorte.

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"A gente não tem meios para preservar a nossa vida. Dependemos da sorte e da boa vontade de outros parceiros (policiais). Respaldo de cima a gente não tem. Dependemos dos amigos", diz a soldado Kate*, na corporação há mais de 15 anos, enquanto acompanhava o enterro de dois colegas na última sexta-feira, feriado de Finados.

Ela diz que nos últimos tempos mudou a sua rotina, principalmente nos momentos de folga. Na atuação do dia a dia, nas ocorrências de rua, a rotina segue normal.

"Eu já não ando mais com meu filho (de 14 anos). Não levo meu filho para passear, não levo no curso. Eu tenho de depender de outras pessoas. Ele me ver morta é uma coisa. Ele me ver assassinada é uma bem pior. Evitar de morrer, não há como. Quando eles vêm, vêm na covardia, com arma muito pesada", afirma ela. "Senão eu vou colocar a vida do meu filho em risco e criar um trauma se eu for assassinada", disse ela.

Menos de 24h depois da conversa, a cena relatada por ela aconteceu de fato. Por volta das 19h30 do último sábado, a soldado Marta Umbelina da Silva, 44 anos, foi baleada pelas costas, em frente de casa e na companhia da filha, de 9 anos. A policial não vestia farda no momento do crime e estava de folga.

"Eu durmo na casa do noivo, que é do outro lado da cidade. Eu tive um problema na porta da minha casa, já relatei. Estouraram uma bomba na porta da minha casa. Então eu prefiro sair de cena. A única policial em casa sou eu. Ninguém é polícia, ninguém tem arma (mora na região da Saúde). Moro em um bairro bom, não moro em periferia. Sou policial há 16 anos. Que só acontece na periferia não é verdade".

De acordo com Kate, o comando da polícia paulista se preocupa muito mais com a imagem da corporação do que com os policiais que estão diariamente nas ruas de São Paulo.

(Não há respaldo) nenhum. "Veio uma determinação sobre como se comportar na folga. Uma forma de tirar o deles da reta. A gente não tem orientação, nenhum tipo de informação, ninguém passa nada. Se acontece uma situação em outro lugar, a gente depende única e exclusivamente de outro policial, de outro batalhão, que a gente tem amizade", diz.

O sargento João* trabalha no mesmo batalhão de Kate. Está há mais de 20 anos na corporação e diz se sentir "um trouxa" quando as autoridades dizem que a presença do crime organizado é mínimo em São Paulo.

"A gente fica com aquela cara de otário. Eu sou um otário, um trouxa fantasiado na rua... Essas declarações, simplesmente menosprezam a vida. Eles querem que nós nos preocupemos com a vida e a integridade física só dos outros", diz ele.

Ele diz já ter sido ameaçado e comunicado a corporação, e a única orientação que recebeu foi para mudar de casa. "Só faltam colocar a culpa na gente. Perguntam se você deu causa para a ameaça, se brigou com alguém. Sua vida para o Estado não significa nada", afirma.

Para ele, quando se mata um policial durante a folga, o Estado não se manifesta. "Em 2006, foram os policiais em serviço e houve uma reação muito mais forte. Talvez eles (os criminosos) tenham percebido e por isso agora agem dessa maneira".

Para o comandante da tropa de Choque paulista, Cesar Augusto Morelli, os policiais devem ficar espertos. "Essa é a principal recomendação. O policial pôs uma arma na cinta, tem de ficar esperto. Quem desliga o cachimbo cai".

Policiais vivem com medo devido à onda de violência em São Paulo
Policiais vivem com medo devido à onda de violência em São Paulo
Foto: Vagner Magalhães / Terra
Fonte: Terra
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