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Polícia

Vigia chora, cita tortura com saco plástico e nega ser cúmplice de Mizael

30 jul 2013 - 21h24
(atualizado às 23h01)
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O julgamento acontece no fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo
O julgamento acontece no fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo
Foto: Marcos Bezerra / Futura Press

O vigia Evandro Bezerra da Silva foi interrogado na tarde desta terça-feira e voltou a negar ser cúmplice de Mizael Bispo no assassinato de Mércia Nakashima. O réu chegou a chorar no plenário ao lembrar da tortura que sofreu quando foi detido pela polícia de Aracaju, em Sergipe. Segundo ele, os policiais usaram uma fita adesiva para fechar sua boca e um saco plástico em sua cabeça para confessar a participação no crime do advogado. O júri popular do vigia começou na manhã da última terça-feira, no Fórum de Guarulhos, em São Paulo. Ele é acusado de ter colaborado com a fuga de Mizael Bispo, condenado em 14 de março a 20 anos de prisão pela morte da ex-namorada Mércia.

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“Os presos me disseram que os policiais andavam com sacolinhas plásticas e fita adesiva”, afirmou Evandro. O réu também criticou a postura do delegado Antônio de Olim, que na época trabalhava no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Paulo (DHPP) e conduziu as investigações do caso. Olim foi até Aracaju buscar Evandro.

“Um policial disse bem baixinho para o doutor Olim: ‘se precisar que ele fale, a gente faz falar’”, lembrou o vigia. Depois disso, Evandro contou que foi levado para uma pequena sala com seis policiais e torturado até confessar sua participação no assassinato de Mércia. “Cheguei a desmaiar depois de umas quatro vezes que me colocaram no saco plástico”, completou.

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A acusação sustenta que Evandro não teve participação direta na morte, mas que sabia que Mizael tinha a intenção de cometer o crime. Mércia foi vítima de disparos de arma de fogo e lançada, no interior de seu veículo, dentro de uma represa no município de Nazaré Paulista, na Grande São Paulo.

Após as perguntas da juíza Maria Gabriela Riscali, a promotoria e o assistente de acusação preferiram não questionar o réu. Depois disso foi a vez da defesa fazer as perguntas a Evandro. Chorando, o vigia negou ter participado do crime e afirmou que apenas deu uma carona a Mizael próximo à represa de Nazaré Paulista na noite do dia 23 de maio de 2010.

“Não sou bandido, não matei ninguém e Deus sabe disso, mas tudo o que eu falar não vale. Só vale o que o delegado põe no papel. Posso até ser condenado, mas essa culpa eu não vou carregar. Tenho minha consciência tranquila de que não sou culpado por esse sangue”, afirmou Evandro.

O vigia criticou a postura de Antônio de Olim e afirmou que o delegado mentiu descaradamente em diversas oportunidades no plenário. “O doutor Olim mandou me torturar. Ele disse que eu não tinha sido torturado, que não sabia. Desde o início do processo o Olim mente. É claro que é mais fácil acreditar no delegado famoso do que em mim”, disse.

Ao falar a respeito do dia 23 de maio, Evandro disse que recebeu um telefonema de Mizael, com quem trabalhava e fazia “bicos” desde 2007, de noite, para que fosse buscá-lo na represa de Nazaré Paulista. “Se eu soubesse que ele tinha cometido um crime eu jamais iria com meu carro buscá-lo. Eu iria de moto, com capacete”, afirmou.

Quando questionado sobre sua viagem ao Nordeste, em que a acusação aponta que Evandro teria fugido ao saber que o carro de Mércia foi encontrado na represa, o réu diz que estava programando a viagem desde janeiro daquele ano. “Fui para Sergipe porque queria passar as festas juninas com a Isabel (sua então namorada)”, afirmou. Ao final do interrogatório, o vigia voltou a se emocionar ao falar sobre os três filhos, dizendo que sua ex-mulher não ganha o suficiente para sustentá-los e que sua renda ajudava muito no dia a dia da família.

O interrogatório de Evandro durou quase três horas. Nesta quarta-feira serão iniciados os debates. Nesta fase do júri, a acusação falará por duas horas, seguida pela defesa, que discursará no mesmo tempo, podendo haver réplica e tréplica. Ao final dos debates, os jurados se reunião e decidirão o futuro de Evandro Bezerra da Silva.

O caso

A advogada Mércia Nakashima desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos, e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela foi ferida a tiros, mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

Ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima). Em 14 de março deste ano, Mizael foi condenado a 20 anos de prisão pela morte de Mércia. 

A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local. Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. 

Fonte: Terra
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