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Polícia

UPP da Mangueira é inaugurada com adesão de poucos moradores

3 nov 2011 - 20h37
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Luís Bulcão Pinheiro
Direto do Rio de Janeiro

A festa montada para a inauguração da 18ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na comunidade da Mangueira, zona norte do Rio de Janeiro, contou com a adesão de poucos moradores. Apesar de haver uma programação intensa, com música, recreação e apresentação da bateria da escola de samba, somente crianças uniformizadas participaram das atividades. A maioria dos poucos moradores que ouviram os discursos do governador Sérgio Cabral, do secretário de segurança, José Mariano Beltrame, e do comandante-geral da Polícia Militar, Erir Ribeiro da Costa e Silva, preferiram observar de longe, junto aos muros das vielas ou das janelas das casas.

Para Nogueira, que tem 10 anos de PM, é crucial diminuir a distância entre a polícia e os moradores
Para Nogueira, que tem 10 anos de PM, é crucial diminuir a distância entre a polícia e os moradores
Foto: Luís Bulcão / Especial para Terra

As opiniões sobre a chegada da UPP na última favela do cinturão do Maracanã a ser contemplada pela polícia pacificadora se dividem. Muitas respostas sobre as dúvidas acerca do programa, iniciado em dezembro de 2008 com a instalação da UPP de Santa Marta, já foram respondidas. Chega a polícia, sai o domínio territorial dos traficantes. No entanto, como muitas vezes as autoridades já admitiram, o tráfico de drogas permanece e é difícil de ser combatido. A chegada de homens e mulheres vestindo a farda da PM não traz mais alívio imediato que desconfiança.

"A gente não era traficante. O que a gente precisa não é de polícia, é transporte, é esgoto. O que tem de esgoto a céu aberto aqui você não acredita", diz Cíntia Araújo, 33 anos, que mora na Mangueira desde que nasceu. Apesar de admitir que a UPP possa ser um primeiro passo para a entrada de serviços sociais necessários para a comunidade, a moradora Bruna da Silva Machado, 26 anos, também vê com ceticismo a chegada da PM. "O que a gente quer ainda não veio", disse.

Para o capitão Leonardo Nogueira, 34 anos, nomeado comandante da UPP da Mangueira, a reação não é novidade. Ele conta ter enfrentado o mesmo processo ao comandar a instalação da UPP do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. Para Nogueira, que tem 10 anos de PM, é crucial diminuir a distância entre a polícia e os moradores. Uma das formas que ele encontrou é através da música. O próprio capitão, que é percursionista, vai ministrar oficinas para jovens na comunidade.

"O policial que sai da academia hoje tem formação em direitos humanos, sociologia e filosofia. Quem chega na comunidade não é o guerreiro forjado para a guerra. Somos formados para lidar com pessoas. Precisamos mostrar isso à comunidade", afirma.

No entanto, Nogueira procura não subestimar o desafio quando o assunto é a eliminação da cultura do tráfico. "O tráfico tem as suas estratégias. Já prendemos uma menina de 13 anos de idade, vestindo uniforme escolar e carregando drogas escondidas na mochila", contou.

Durante seu discurso, o governador Sérgio Cabral congratulou a Mangueira como berço do samba e de esportistas. Ivo Meirelles, presidente da escola de samba da Mangueira, também foi homenageado. A cerimônia terminou com a bateria da escola e com o show de passistas. Aos 90 anos, uma das figuras mais clássicas da Mangueira, o mestre-sala Hégio Laurindo da Silva, o Delegado, estava ao lado da chegada da UPP. "É muito importante, acho que agora as coisas vão mudar. Há muito tempo a comunidade merecia isso", disse ao Terra. Ao todo, 403 PMs farão parte da unidade comandada pelo capitão Rodrigues. A Mangueira havia sido ocupada em junho pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).

Fonte: Especial para Terra
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