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Polícia

Unidade do UPP devem chegar a zona norte em 2010

2 dez 2009 - 04h47
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Moradores da Tijuca demonstraram otimismo nesta quarta-feira com o anúncio feito pelo governador Sérgio Cabral de que uma comunidade da região ganhará uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) a partir de abril de 2010. De madrugada, moradores dos Morros do Borel, Casa Branca e Formiga voltaram a viver momentos de tensão com a trocas de tiros entre traficantes das facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Amigo dos Amigos (ADA), que disputam o domínio das favelas há semanas. Os confrontos começaram no início da madrugada e se estenderam por mais de quatro horas. Não houve registro de feridos e mortos, mas as rajadas de fuzis fizeram com que motoristas evitassem trafegar pela Rua Conde de Bonfim, a principal do bairro.

"A UPP vai chegar à Tijuca, posso garantir. Vai chegar à Zona Norte de uma maneira geral, na região da Leopoldina. Nós vamos ter 1.500 homens prontos a partir de abril. Começamos em janeiro com 2 mil homens. Esses também, totalmente qualificados, vão prioritariamente para as UPPs", afirmou Cabral. "Temos planejamento, estratégia, sem abandonar o asfalto", acrescentou o governador, lembrando que o novo modelo de policiamento veio para ficar. "Vamos chegar às grande comunidades. O fato de já ter mais de 110 mil pessoas livres é uma conquista extraordinária", disse.

Enquanto a UPP não vem, a rotina de noites em claro dos moradores da Tijuca se repetiu. "Passamos a noite rezando com medo das balas perdidas. Tomara que a UPP seja implementada por aqui o mais rápido possível", disse o funcionário público Y., 41 anos. Ao amanhecer, marcas de tiros de fuzis na fachada do prédio 912 da Rua Conde de Bonfim demonstravam a intensidade das trocas de tiros. Nas imediações da Rua Medeiros Pássaro, principal acesso ao Morro da Formiga, placas com a inscrição 'vende-se' nos imóveis surgem a cada dia. "A polícia não consegue por fim a esse conflito. Não quero mais morar nesse barril de pólvora", desabafou a secretária J., 35 anos, de mudança com o marido e os filhos para a casa de parentes.

Por volta de 10h30, não havia nenhum esquema de reforço do 6º BPM (Tijuca) nas vias que separam as três favelas. Alguns comerciantes só abriram as portas depois de 10h. "Estamos vivendo num verdadeiro inferno. Motoqueiros passam avisando para fecharmos o comércio depois das 20h e, de manhã, ficamos esperando as ordens deles (dos traficantes)", revelou o dono de um bar. Durante uma hora em que a equipe do jornal O DIA permaneceu no cruzamento das ruas Conde de Bonfim e Medeiros Pássaro, apenas uma viatura com dois PMs passou pelo local.

No dia 20, cinco horas de tiroteio deixaram os moradores em pânico. Um homem, supostamente ligado ao tráfico de drogas, morreu. Outros dois traficantes já tinham sido mortos na guerra. Os três seriam ligados à ADA, que já dominava a Casa Branca e teria assumido o controle das bocas de fumo da Formiga. Atualmente bandidos do Comando Vermelho, que controlam o Borel, tentam dominar os outros dois morros. O 6º BPM informou que o policiamento foi reforçado durante a madrugada e se estendeu até as primeiras horas da manhã.

Tabajaras e Cabritos: as próximas na Z. Sul

O governador Sérgio Cabral confirmou ontem que as próximas comunidades a receber as UPPs são a Ladeira dos Tabajaras e o Morro dos Cabritos, em Copacabana. Com isso, na zona sul, pelo menos 130 mil moradores da região serão beneficiados.

Nas duas localidades, o terror imposto pelos traficantes ligados ao Comando Vermelho (CV) ainda faz imperar a lei do silêncio. Ontem, por exemplo, lideranças comunitárias das duas localidades evitaram dar declarações e poucos moradores se dispuseram a falar, mesmo assim, sem se identificar. Horácio Magalhães, da Sociedade Amigos de Copacabana, elogiou a iniciativa. "Qualquer esforço para trazer paz é bem-vindo, pois moradores dos morros e do asfalto sofrem muito com a violência", ressaltou. "É bom saber que nos livraremos da opressão exercida pelo tráfico".

Armas e drogas escondidas na mata

No segundo dia de ocupação nos morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) se concentraram na mata, com apoio da Companhia de Cães, à procura de armamento. Segunda-feira, quando saltaram de helicóptero no alto da comunidade do Pavão-Pavãozinho, policiais perceberam rastros de caixotes na terra, pás abandonadas e alguns buracos no terreno.

Na mata do Cantagalo, sobre a Rua Alberto de Campos, os policiais encontraram duas submetralhadoras, uma escopeta calibre 12, uma carabina 38, munição e carregadores para fuzil 7.62. Os bandidos também deixaram para trás 500 sacolés de cocaína, trouxinhas de maconha e 200 pedras de crack. Em uma casa, os PMs apreenderam CDs e DVDs piratas e equipamento de gravação.

Não houve troca de tiros durante o dia, mas uma bomba malvina foi atirada contra um fotógrafo do jornal O Estado de São Paulo. Ele passava pela quadra de futebol da comunidade e precisou correr para escapar. "Só imaginava que em seguida viriam os tiros", contou o fotógrafo.

A ocupação começou a mudar a vida dos moradores. "Saía de casa e encontrava no meu caminho viciados e traficantes armados. Quem morava no inferno hoje está no paraíso", comentou um morador. Mas a comunidade não quer só a ocupação policial. "Quando alguém aqui passa mal, a viatura tem que socorrer para o hospital. Meus pais, que são idosos e doentes, deixaram o morro porque não temos posto de saúde. Não adianta só obras do PAC e polícia no morro", afirmou o ajudante de limpeza Marcelo de Jesus, 31.

A dona de casa A., 40 anos, também torce pelas melhorias, e tem na ponta da língua as necessidades mais urgentes. "Estou otimista e temos que pensar na tranquilidade de todos. Além de um posto de saúde, precisamos de área de lazer para os moradores. Atividades para crianças só no projeto Criança Esperança", disse.

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