Suspeitas de adulterar leite são ouvidas e liberadas no RS
Ao todo, seis pessoas foram presas por participar de fraudes com adulteração de leite para lucro de empresas
Dos oito detidos nesta quarta-feira na operação Leite Compen$ado, realizada pelo Ministério Público (MP) com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Receita Estadual e da Brigada Militar, apenas seis permanecem presos. Rosilei Geller e Natália Junges prestaram depoimento à polícia e foram soltas. A ação interditou um laticínio, três postos de refrigeração e identificou cinco transportadores que seriam os responsáveis pela fraude no Rio Grande do Sul, que visava aumentar o volume do produto entregue à indústria.
Os suspeitos adicionavam uma substância semelhante à ureia e que possui formol em sua composição, na proporção de 1 quilo deste produto para 90 litros de água e 1 mil litros de leite. O total de leite movimentado pelo grupo, no período de um ano, chega a 100 milhões de litros. Segundo o MP, mais de 100 toneladas de ureia foram adquiridas pelos suspeitos para utilização na prática criminosa. Até o momento, foi verificada a presença de formol em lotes específicos das marcas Italac, Líder, Mumu e Latvida.
Serão encaminhados ao Presídio Estadual de Espumoso, presos preventivamente, João Cristiano Pranke Marx, Angélica Caponi Marx, João Irio Marx, Alexandre Caponi e Daniel Riet Villanova. Eles foram detidos nas cidades de Ibirubá, Selbach e Tapera. Já Leandro Vicenzi, de Guaporé, ficará recolhido no Presídio Estadual da cidade.
Durante o cumprimento de 13 mandados de busca e apreensão, foram recolhidos diversos caminhões utilizados no transporte do leite, cerca de 60 sacos de ureia, R$ 100 mil em dinheiro, uma régua com a fórmula utilizada para medir a mistura adicionada ao leite, revólveres e pistolas, soda cáustica, corantes, coagulantes líquidos e emulsão para obtenção de consistência, entre outros produtos e documentos.
Mais grave do que tráfico de drogas
Conforme o promotor Mauro Rockenbach, o trabalho de investigação teve início em abril de 2012, quando o Mapa identificou a presença de formol em amostra de leite em um dos postos de resfriamento no Estado. "Após uma segunda coletagem em agosto do ano passado ter apontado novamente essa ilegalidade, o Ministério Público foi procurado, em fevereiro de 2013, para que procedesse a apuração dos responsáveis por essa adulteração", afirmou ele.
Mauro Rockenbach revelou que durante toda investigação o grupo criminoso foi monitorado por interceptações telefônicas. “Todos os passos, as negociações e os ajustes foram captados” esclareceu. O promotor relatou também que em determinado momento um dos investigados orienta o seu motorista para que "separe o leite da guachaiada", referindo-se aos filhos, antes de fazer a mistura. "Ou seja, ele pedia para deixar para ele o leite bom, antes de mandar para o consumo da população o produto com a substância cancerígena", ressaltou.
"Eu fiz essa investigação durante dois meses e meio e me dediquei a ela com prioridade absoluta. Eu ouso dizer que esse crime é mais grave que o tráfico de drogas, pois o traficante vende para quem quer comprar o tóxico. Na adulteração do leite, o produto é entregue ao consumidor, que não tem nenhum conhecimento prévio sobre a situação desse produto", completou Rockenbach.
Latvida é lacrada por descumprir ordem
A Chefe da Divisão de Defesa Agropecuária do Mapa no Estado, Ana Stephan, explicou que as indústrias produtoras do leite UHT adulterado foram submetidas ao Regime Especial de Fiscalização (REF) e ficaram impedidas de comercializar os produtos até que fosse aprovado um plano de medidas corretivas e que três amostras consecutivas apresentassem resultados laboratoriais dentro dos padrões. Um recall de todos os lotes de leite que apresentaram problemas foi realizado.
A empresa Latvida descumpriu determinação de não comercializar leite UHT a partir de 1º de abril de 2013 e foi lacrada na manhã de hoje. "Uma série de irregularidades foram verificadas, sem falar na questão do formol que já tinha sido detectada. Foram 188 inadequações apontadas, como condições de higiene e presença de insetos nas plantas da empresa", destacou o promotor de Defesa do Consumidor Alcindo Luz Bastos Filho.
Confira as marcas que apresentaram adulteração por formol conforme laudos de laboratórios credenciados pelo Mapa:
MARCA | LOTE |
Italac Integral | L05KM3, L13KM3, L18KM3, L22KM4 e L23KM1 |
Italac Semidesnatado |
L12KM1 |
Líder UHT Integral | TAP1MB (produzido em 17/12/2012 e com validade até 17/04/2013) |
Mumu UHT Integral | 3ARC |
Latvida UHT Desnatado | com fabricação em 16 de fevereiro de 2013 e validade até 16 de junho de 2013 |