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Polícia

"Levaram uma parte de mim", diz viúva de gari atropelado

Alceu Ferraz, 61 anos, foi morto depois de ser atropelado pela estudante de arquitetura Hivena Vieira, de 24 anos, que não prestou socorro

25 jun 2015 - 17h08
(atualizado às 17h30)
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"Ainda não voltei ao trabalho, não tive forças, fiquei no chão – levaram um pedaço de mim embora. Não tenho ódio: tenho fé e o apoio das minhas filhas", disse a faxineira Marilena da Silva Ferraz, de 59 anos, viúva do gari Alceu Ferraz
"Ainda não voltei ao trabalho, não tive forças, fiquei no chão – levaram um pedaço de mim embora. Não tenho ódio: tenho fé e o apoio das minhas filhas", disse a faxineira Marilena da Silva Ferraz, de 59 anos, viúva do gari Alceu Ferraz
Foto: Janaina Garcia / Terra

“Ainda não voltei ao trabalho, não tive forças, fiquei no chão – levaram um pedaço de mim embora. Não tenho ódio: tenho fé e o apoio das minhas filhas. Mas quero que façam justiça.”

O desabafo é da faxineira Marilena da Silva Ferraz, de 59 anos, viúva do gari Alceu Ferraz, de 61 anos, atropelado e morto no Centro de São Paulo na madrugada do último dia 16 de maio. A estudante de arquitetura Hivena Queiroz Del Pintor Vieira, de 24 anos, acusada de ter atropelado e matado Ferraz, prestou depoimento no 3° DP de São Paul na segunda-feira passada e foi indiciada por quatro crimes: homicídio culposo, lesão corporal, omissão de socorro e fuga do local do acidente.

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Dona Marilena, que foi casada com o gari durante quarenta anos, participou de uma entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira no escritório do advogado Ademar Gomes, ao lado do genro, o também advogado Wanderlei Marcos Vieira, casado com a filha mais velha da vítima.

“Não tive coragem de ver as matérias na TV sobre isso. Meu marido era um pai e esposo muito bom, eu não fazia nada sozinha – ele estava sempre comigo. Se eu ia ao supermercado, ele me levava; se eu precisava ir ao médico, ele que ligava, marcando a consulta. Tudo era ele que fazia por mim”, lamentou a faxineira.

Gomes afirmou que entrará com pedido de indenização contra a estudante e os pais, já que ela, estudante, não teria fonte própria de renda.

“O carro dela foi o pai quem deu; ele também é responsável pelo fato ocorrido”, acusou.

O genro do gari acompanhou o depoimento da estudante à polícia, esta semana. Para ele, a jovem “está tentando ludibriar os policiais”.

“É fato que, conjuntamente com o consentimento do pai, ela está tentando ludibriar a polícia. Ela alega ter sofrido uma tentativa de assalto, mas não sabe dizer quem eram as pessoas, nem se era homem ou mulher, nem a que distância estavam dela. Ela saiu acelerada, atropelou meu sogro a 3km de distância de onde supostamente essa tentativa de assalto teria ocorrido”, disse o genro.

À polícia, a estudante relatou ter tido medo de ser atacada por supostos assaltantes ou pessoas em atitude suspeita para justificar a omissão de socorro à vítima. “Como posso negar socorro sob pretexto de que eu poderia ser vítima de algo? Não faz o menor sentido”, criticou Vieira.

Segundo o advogado, a família vai pedir a quebra de sigilo telefônico da jovem para checar a informação de que ela teria ligado para o 190, da PM, relatando o ocorrido. “Ela ligou para o pai dela depois do acidente e alega ter ligado no 190 da polícia, só que essa ligação, salvo prova em contrário, foi feita dia 16 ao meio dia. Meu sogro foi atropelado à meia-noite. Não sabemos o conteúdo dessa ligação ao 190, mas precisamos que seja esclarecido – queremos rechaçar, de qualquer forma, que não teria havido omissão de socorro. Houve, sim, isso é fato e notório”, concluiu o advogado.

Esta semana, o advogado da estudante, Artur Osti, afirmou ao Terra que aguardaria as perícias feitas no local do crime, mas salientou que a jovem já prestou depoimento e continua à disposição para novos esclarecimentos.

Entenda o caso

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Hivena reafirmou ao delegado Marcelo Dias,e m depoimento, que fugia de uma tentativa de assalto no momento do acidente, na madrugada do dia 16 de maio, quando atropelou uma pessoa no Centro da capital e, por isso, foi embora sem prestar assistência.

A acusada afirmou ainda que, naquele dia, ao chegar em sua casa, em Moema (zona sul da capital), ligou para a Polícia Militar e foi orientada a procurar uma delegacia para registrar o boletim de ocorrência. Isso foi feito no 8º DP poucas horas depois do atropelamento. O B.O. contém a mesma versão da história relatada por ela nesta segunda.

"Não foi pedida a prisão da acusada, já que, além de não haver flagrante, ela apresentou-se espontaneamente, tem endereço fixo e não oferece obstáculo ao andamento das investigações. Após denúncia anônima, o carro que teria atingido as vítimas foi localizado pela Polícia Militar e apreendido no último sábado, a pedido da delegada Maria Cecília Castro Dias, do 96º DP. O veículo já passou por uma perícia inicial e outra complementar, para a coleta de material. A investigação segue com o depoimento de outras testemunhas e levantamento de informações", completou, em nota, a secretaria.

Criança é atropelada por carro enquanto atravessava a rua :
Fonte: Terra
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