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Polícia

SP: após quase três anos, Mizael será julgado pela morte de Mércia

Promotoria espera pelo menos 20 anos de prisão pelo assassinato. Réu tentará provar inocência

11 mar 2013 - 06h14
(atualizado às 09h20)
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O advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza é acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima
O advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza é acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima
Foto: Vagner Campos / Futura Press

Quase três anos após o assassinato da advogada Mércia Nakashima, 28 anos, o advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, começa a ser julgado a partir desta segunda-feira, sob a acusação de ter cometido o crime passional, no dia 23 de maio de 2010. O réu sempre negou a acusação e tentará comprovar, no Fórum Criminal de Guarulhos (Grande São Paulo), que não teve ligação com o caso. Entretanto, o Ministério Público, que responde pela acusação, diz que não há dúvidas de que ele premeditou a morte da ex-namorada por vingança e ciúmes e, por isso, espera que o réu seja condenado a, no mínimo, 20 anos de prisão - a pena para o crime varia de 12 a 30 anos em regime fechado.

Veja detalhes do caso Mércia 

Veja como funciona o tribunal do júri

"O conjunto probatório  que nós temos nos dá uma segurança de 100% (da autoria do crime). Todas as provas são importantes, porque tudo se encaixa", diz o promotor Rodrigo Merli, responsável pela denúncia contra Mizael de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima), e que dividirá a acusação com o advogado Alexandre de Sá Domingues, que representa a família da vítima.

O assassinato da advogada chocou o País, que acompanhou durante 19 dias as buscas pela vítima, que desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após sair da casa dos avós, em Guarulhos. O corpo de Mércia só foi encontrado em 11 de julho, dentro de uma represa no município de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. De acordo com a investigação, a vítima foi atingida por três tiros e atirada para dentro da represa no interior de seu carro. A arma do crime nunca foi encontrada. Segundo a Promotoria, a advogada namorou por cerca de quatro anos com o policial reformado, mas terminou o relacionamento em meados de 2009. Embora se encontrassem esporadicamente, a vítima havia rejeitado reatar o namoro, o que teria motivado o crime. "Ele se sentiu humilhado e usado. Não aceitou isso", avaliou o promotor.

Para provar que Mizael é culpado, a acusação se baseará em quatro elementos que incriminam o advogado: o motivo do crime, já que ela rejeitava manter um relacionamento sério com ele; as ligações telefônicas, que o colocam no "rastro" da vítima naquele dia; o rastreador do veículo dele, que aponta que o réu estaria na região onde o crime ocorreu; e os sapatos dele, cujo laudo da perícia encontrou vestígios de sangue, partículas ósseas, partículas do projétil de arma de fogo e restos de uma alga típica de áreas de represa.

"Todos os elementos são coesos e apontam para o Mizael. A relação de provas técnicas e testemunhais nos dá a certeza da responsabilidade dele", afirmou o advogado da família de Mércia, que assistirá ao julgamento no plenário do Fórum.

Defesa

Se por um lado a Promotoria não tem dúvidas da culpa do réu, a defesa de Mizael tentará provar que ele mantinha um relacionamento cordial com a ex-namorada e que estava em outro lugar na hora do crime. De acordo com o advogado Ivon Ribeiro, que compõe a defesa, as provas coletadas pela investigação são falhas, e ele acusa a Polícia Civil e o Ministério Público de manter, desde o começo, apenas uma linha de investigação, focada no réu.

"Houve uma ânsia em se achar um suspeito e, por conta de um desencontro de informações no início do processo, o Mizael se tornou suspeito. Mas a polícia não seguiu outras linhas de investigação, não investigou com quem ela andava, por exemplo. Nem fizeram exame para confrontar se a alga que eles acharam no sapato do Mizael era mesmo daquela represa", disse o advogado.

Esse "desencontro" de informações se dá ao fato de a família de Mércia não saber que ela ainda se encontrava com o réu ocasionalmente - os familiares da vítima relataram, depois, que ele tinha um comportamento possessivo e não aprovavam o relacionamento entre ambos.

"Nós não temos 'cartas nas mangas'. Os documentos falam por si só e nós temos certeza que vamos demonstrar aos jurados que ele não estava naquele local quando essa tragédia ocorreu", completou o defensor.

Durante o período em que ficou preso, o réu escreveu um livro, de 56 páginas, em que se defende das acusações e diz ter sido vítima de perseguição da Promotoria e da imprensa. A defesa chegou a cogitar distribuir o material, intitulado "Mizael Bispo de Souza – Na Cova dos Leões", aos jurados, mas não anexou o documento com a antecedência requerida pela Justiça.

"Ele ficou chocado por ter sido acusado. Ele está ansioso e espera que o culpado seja encontrado", afirmou Ribeiro, que divide a tarefa de defendê-lo com os advogados Wagner Garcia e Samir Haddad Junior.

O júri

Marcado para começar às 9h, o julgamento começará com a escolha dos sete jurados, que ao final do processo votarão pela condenação ou absolvição do réu. Neste período, os jurados escolhidos devem ficar isolados e sem notícias externas, mas o júri terá transmissão pela TV e rádio, em uma iniciativa inédita acordada entre as partes. Preso desde fevereiro do ano passado no Presídio Militar Romão Gomes, em São Paulo, Mizael retornará todas as noites para a prisão. O presidente do júri é o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano.

Ao todo, 11 testemunhas foram convocadas para depor, sendo cinco de defesa, cinco de acusação e uma de juízo. Entre as testemunhas convocadas estão o irmão da vítima, Márcio Nakashima, que falará sobre o relacionamento conturbado entre Mizael e Mércia; peritos que participaram da elaboração dos laudos técnicos; o delegado Antonio de Olim, que conduziu as investigações; entre outros.

Além de Mizael, o vigilante Evandro Bezerra da Silva também foi denunciado por participação no crime (ele teria o auxiliado na fuga), e seu julgamento ocorrerá em julho. Mizael foi denunciado naquele mesmo ano, mas se escondeu e ficou foragido por mais de um ano, até se apresentar à Justiça em fevereiro de 2012.

Fonte: Terra
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