RS: "indústria terá que responder pelo leite", diz promotor
Ministério da Agricultura havia informado que núcleos estavam sendo investigados
A indústria terá que responder pelo que fez com o leite adulterado. A afirmação foi dada pelo promotor Mauro Rockenbach na manhã desta quarta-feira em Rondinha (RS), durante a segunda etapa da Operação Leite Compen$ado. "Estamos iniciando uma nova fase na qual a indústria deve responder por esse leite. Em fevereiro, o Ministério da Agricultura havia informado a todas as indústrias que esses núcleos estavam sendo investigados pelo transporte de leite com formol. Então, a indústria que responda pelo que fez com esse com leite recebido", declarou.
Batismo de fogo: veja os nomes "inusitados" das operações policiais
Entre a noite de terça e a manhã de hoje, mais quatro pessoas foram presas por suspeita de envolvimento na adulteração do leite no Rio Grande do Sul com o uso de água e ureia. Entre os detidos pelo Ministério Público (MP) está o vereador de Horizontina Larri Lauri Jappe (PDT). Também foram presos dois empresários - os irmãos Adelar Roque e Antenor Pedro Signor, sócios da empresa Aérea - e Odirlei Fogalli, motorista de uma das empresas que fazia o transporte do produto.
Foi expedido ainda um novo pedido de prisão para o veterinário Daniel Villanova, preso na primeira fase da operação. Segundo o MP, ele comprava leite de uma cooperativa que enviava o produto adulterado para o Paraná. Mesmo com a detenção do veterinário, o esquema seguiria funcionando.
"Esse grupo tem associação criminosa com o motorista e com Daniel Villanova, que enviava leite para a cooperativa do Paraná. Não há condições de saber quantas pessoas foram afetadas (pelo leite contaminado), uma vez que o leite foi levado para as indústrias", explicou Rockenbach. Segundo o promotor, nessa fase não é possível dizer quais as marcas envolvidas.
Um dos sócios da empresa Aérea, Adelar Roque Signor, disse que cuidava apenas da parte da agricultura e não tem conhecimento de adulteração. Ele contou que a empresa tem R$ 500 mil em dívidas. "A gente só tem dívida e eu não vi o leite aumentar aqui", alegou.
Apreensões
Nos trabalhos desta manhã foram apreendidos três caminhões utilizados para o transporte de leite, notas fiscais que comprovam a aquisição de ureia e planilhas com os dados do recolhimento do produto alimentício junto a produtores. Na residência do transportador Paulo Rogério Schultz, que teve o pedido de prisão negado, em Boa Vista do Buricá, foi encontrado um escrito contendo a fórmula possivelmente utilizada para a adulteração do leite. Com Adelar Roque Signor foi recolhida uma arma calibre 36 sem registro.
Somente em Rondinha, 11 laudos do Ministério da Agricultura, entre os meses de fevereiro e maio deste ano, confirmaram a presença de formol no leite cru, somando um total de 113 mil litros impróprios para o consumo da população. Todo o produto tinha como destino a Confepar, uma união de cooperativas agropecuárias do norte do Paraná. Conforme a investigação do MP, o elo entre os transportadores e a cooperativa do PR era Daniel Villanova.
A operação
As investigações do Ministério Público começaram em fevereiro deste ano e comprovaram que empresas gaúchas de transporte de leite adulteraram o leite cru entregue para a indústria. Uma das fraudes identificadas é a da adição de uma substância semelhante à ureia e que possui formol em sua composição. A adulteração consiste no crime hediondo de corrupção de produtos alimentícios, previsto no artigo 272 do Código Penal.
A simples adição de água, com o objetivo de aumentar o volume, acarreta perda nutricional, que é compensada pela adição da ureia – produto que contém formol em sua composição – e é considerado cancerígeno pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A fraude foi comprovada através de análises químicas do leite cru, onde foi possível identificar a presença do formol, que mesmo depois dos processos de pasteurização, persiste no produto final. Com o aumento do volume do leite transportado, os "leiteiros" lucravam 10% a mais que os 7% já pagos sobre o preço do leite cru, em média R$ 0,95 por litro.
O total de leite movimentado pelo grupo, no período de um ano, chega a 100 milhões de litros. Mais de 100 toneladas de ureia foram compradas pelos envolvidos para utilização na prática criminosa.
A Operação Leite Compen$ado foi deflagrada no dia 8 de maio e desarticulou o esquema de adulteração de leite. A investigação mapeou que a fraude não estava sendo praticada pela indústria nem pelo produtor de leite, mas pelo transportador.
Nove pessoas foram presas. Durante o cumprimento dos 13 mandados de busca e apreensão, foram recolhidos diversos caminhões utilizados no transporte do leite, cerca de 60 sacos de ureia, R$ 100 mil em dinheiro, uma régua com a fórmula utilizada para medir a mistura adicionada ao leite, revólveres e pistolas, soda cáustica, corantes, coagulantes líquidos e emulsão para obtenção de consistência, entre outros produtos e documentos. Até o momento, a Justiça aceitou a denúncia contra 13 envolvidos.
Confira as marcas que apresentaram adulteração por formol conforme laudos de laboratórios credenciados pelo Mapa:
MARCA | LOTE |
Italac Integral | L05KM3, L13KM3, L18KM3, L22KM4 e L23KM1 |
Italac Semidesnatado |
L12KM1 |
Líder UHT Integral | TAP1MB (produzido em 17/12/2012 e com validade até 17/04/2013) |
Mu-Mu UHT Integral | 3ARC |
Latvida UHT Semidesnatado | Lote 190, de 2 de abril de 2013; Lote 193, de 5 de abril de 2013; Lote 103, de 18 de abril de 2013 |
Só Milk e Latvida UHT Desnatado | Lote 188, de 4 de abril de 2013; Lote 198, de 10 de abril de 2013; Lote 202, de 11 de abril de 2013; Lote 104, de 15 de abril de 2013; e leite com fabricação em 16 de fevereiro de 2013 e validade até 16 de junho de 2013 |
Hollmann, Goolac, Só Milk e Latvida UHT Integral | Lote 103, de 1º de abril de 2013; Lote 184, de 3 de abril de 2013; Lote 189, de 4 de abril de 2013; Lote 190, de 5 de abril de 2013; Lote 196, de 9 de abril de 2013; Lote 200, de 10 de abril de 2013; Lote 201, de 19 de abril de 2013; Lote 202, de 20 de abril de 2013; Lote 204, de 21 de abril de 2013; Lote 205, de 22 de abril de 2013 |