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Polícia

Rocinha tem mais um dia de tiroteio entre PMs e traficantes

7 abr 2012 - 13h26
(atualizado às 13h28)
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O sábado registrou novos confrontos entre policiais militares e traficantes na favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro. Desta vez, a troca de tiros ocorreu durante um patrulhamento na Rua 1. Não havia informações de feridos. Na sexta-feira, PMs do Batalhão de Choque apreenderam três fuzis e quatro carregadores e também trocaram tiros com os criminosos. As armas foram encontradas na Rua do Valão e na localidade conhecida como Beco 199, onde o cabo da PM Rodrigo Cavalcante, de 33 anos, foi morto na última quarta-feira.

Os policiais também prenderam dois suspeitos. Denílson Lima Virgílio estava com uma granada e um outro homem identificado apenas como "Meteoro" portava com drogas. Os PMs chegaram aos dois suspeitos depois de receberem denúncias anônimas. O principal suspeito da morte do policial Cavalcante teve a prisão temporária decretada pela Justiça do Rio.

Edílson Tenório de Araújo, 42 anos, é considerado foragido. O pedido de prisão foi feito pela Divisão de Homicídios. Peritos desta delegacia encontraram no local do crime munição calibre 9 mm compatível com as encontradas na mochila, que tinha em seu interior documentos e objetos de Edilson. A munição encontrada na mochila é do mesmo calibre que atingiu o PM.

Moradores ainda não confiam na polícia

Na terça-feira, uma reportagem do JB mostrou que os moradores da favela se queixavam de que, desde a ocupação, o clima de inseguranca havia aumentado na comunidade. Rodrigo Alves foi enterrado na quinta-feira, com honras militares.

Para o sociólogo João Trajano, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a normalização da vida na comunidade pode demorar, e é necessário "paciência e firmeza" das autoridades para lidar com os percalços da área. Trajano associa a onda de violência à prisão do antigo chefe do tráfico na comunidade, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem.

"Sempre que há um episódio em que o chefe morre ou é preso, surge a disputa pelo controle", diz. Para ele, a desconfiança dos moradores da Rocinha com a polícia é reflexo de anos em que os policiais, em vez de neutralizar, perpetuavam o tráfico, ao negociar com os bandidos. O especialista afirma que o problema é desassociar a polícia das práticas tradicionalmente aplicadas.

"Historicamente, existe uma relação muito promíscua entre o tráfico e a polícia. Os moradores não são bobos, testemunham, sabem os antigos pontos de recebimento de propina", analisa Trajano. Para Cecília Coimbra, professora de psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e presidente do grupo Tortura Nunca Mais, a imagem da polícia ainda traz insegurança em parte dos moradores porque, na favela, não existia enfrentamento, mas extermínio.

"Psicologicamente falando, o que as ações da polícia produzem na população é medo, terror. Os jovens crescem vendo a morte desde cedo, a violência desde cedo. Assim, você produz um ser violento", analisou. A psicóloga acredita que é necessário contextualizar a violência nesse momento pelo qual o Rio passa, no qual é empregada a política de extermínio, e o medo é produzido para controlar as pessoas."Não acredito que a presença ostensiva da polícia diminua a questão da violência, pois muitas vezes ela é despertada pelos agentes do estado", disse.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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