RJ: tráfico instala portões em favela e cobra R$ 10 por chave
- LESLIE LEITÃO
Há quase um mês, moradores da Favela de Parada de Lucas, às margens da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, tiveram seu direito de ir e vir cerceado por traficantes que controlam as bocas de fumo da região. Literalmente. Por ordem do homem que "manda" na comunidade e na vizinha Vigário Geral, Ronaldo Rocha Dias da Silva, o Tião, portões de ferro foram instalados em alguns acessos à favela. A denúncia feita por moradores foi comprovada no início da tarde de ontem, quando uma equipe de O Dia esteve no local.
Só quem paga R$ 10 por uma chave consegue passar pelo portão. O obstáculo principal fica a menos de 300 metros de um posto do Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv), num acesso da Avenida Brasil. "Quem quis continuar entrando por ali teve de comprar a chave. Para quem não quis, o jeito é dar a volta por outra entrada", explica, indignado, um senhor que mora na comunidade há mais de duas décadas.
O objetivo dos criminosos seria dificultar a entrada rápida da polícia na comunidade. Pelo relato de que quem vive em Lucas, todo o dinheiro arrecadado com a compra das chaves vai para as mãos de Tião. Outro traficante que faria parte desse esquema de cobrança, segundo moradores, é conhecido como Álvaro Peixão. "Imagine eu ter que comprar uma chave para cada pessoa daqui de casa. Vou gastar quanto?", reclama uma dona de casa, onde moram seis pessoas.
O portão flagrado pela reportagem fica no acesso pela Rua Rubro-Negro, a última entrada antes do viaduto da Avenida Brasil. Ainda de acordo com relatos de moradores, algumas casas daquela região da comunidade foram invadidas por traficantes, que passaram a usá-las como esconderijo e depósito de drogas e armas.
Derrubada em fevereiro
O comandante do 16º BPM (Olaria), coronel José Macedo, disse que o portão já havia sido derrubado pouco antes do Carnaval. Ele afirmou que não tinha conhecimento de que os traficantes haviam recolocado o obstáculo no local.
"Na ocasião, quando surgiram as denúncias, fomos lá e constatamos que havia irregularidade. Por isso, derrubamos o portão. Desta vez, não chegaram novas denúncias. Mas com a chegada delas e a constatação desses bloqueios irregulares que limitam o direito de ir e vir, vamos agir novamente", prometeu o comandante.
Para ele, os portões têm o objetivo de dificultar as ações da polícia dentro de Parada de Lucas.