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Polícia

RJ: "estava perdida dentro de mim mesma", diz psicóloga

4 jan 2011 - 02h34
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"Estava perdida dentro de mim mesma". A afirmação de Karen Tannhauser, 37 anos, para policiais da 15ª DP (Gávea), pôs fim ao mistério de seu desaparecimento, que durou 72 horas. A psicóloga, que faz uso de medicamentos controlados, foi encontrada ontem à tarde no porta-malas do Palio Weekend da síndica do prédio onde ela mora, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. Para a polícia, Karen teria ficado o tempo todo escondida no edifício por vontade própria, já que não há indícios de crime.

"Não é mais um caso de polícia, porque não há crime. Ela está muito confusa e alega ter tido um motivo pessoal para sair. Vamos formalizar alguns depoimentos, mas considero o caso encerrado", disse a delegada Bárbara Lomba. "Ela não tem consciência dos fatos, não sabe que horas entrou no carro. Disse que entrou porque estava cansada e que sabia que estava sendo procurada", frisou.

O sumiço mobilizou a polícia, a família e a sociedade, que buscava explicações sobre o paradeiro de Karen, que chegou em casa por volta das 14h do dia 31 e sumiu. Parentes e amigos espalharam cartazes pelo bairro. A mãe fez um apelo. "Karen, esteja você onde estiver, estamos lhe esperando de braços abertos. Sua família te ama", disse, diante de câmeras de TV.

A polícia vasculhou, mais de uma vez, o prédio da Rua Jardim Botânico. Até a caixa d'água e os elevadores foram revistados. Imagens das câmeras de segurança mostravam Karen entrando no prédio, mas não saindo. Ontem pela manhã, os investigadores levaram um técnico para avaliar se o vídeo havia sido editado. "Tivemos certeza de que ela estava no prédio e reiniciamos as buscas, mais detalhadas" , contou o investigador Ricardo Di Donato.As investigações apontam que ela ficou o tempo todo escondida entre a lixeira e a garagem do edifício. Porteiros disseram ter ouvido barulhos e visto um vulto na lixeira, sábado à noite.

Após três dias desaparecida, Karen foi encontrada às 14h30 pelo marido da síndica, quando buscava uma ferramenta no carro. Ao abrir o porta-malas, a psicóloga, assustada, pulou sobre o vizinho. No mesmo instante, um policial que estava na garagem a acalmou. Karen estava suja, em estado de choque e usava a mesma roupa de quando sumiu. Levada ao Hospital Miguel Couto, na Gávea, foi medicada e recebeu alta pouco antes das 20h.

A família da síndica chegou ao prédio depois do almoço. Quando subiu para o apartamento, ouviu o alarme do carro disparar - momento em que Karen pode ter entrado no veículo, que estava com o porta-malas aberto. O filho da síndica desativou o alarme, mas não viu nada.

Celular e diário apreendidos
Para desvendar o mistério, além das buscas, a polícia apreendeu o celular e uma agenda de Karen, uma espécie de diário onde ela fazia anotações sobre sua rotina. As imagens gravadas pelas oito câmeras do circuito de seguranças do prédio também foram vistas várias vezes.

Vizinhos foram entrevistados, mas os apartamentos não foram revistados, pois havia necessidade de mandados judiciais. Os pais e o namorado da psicóloga prestaram depoimento. Funcionários do condomínio, vizinhos e a própria Karen ainda serão ouvidos pela polícia esta semana.

Para a delegada Bárbara Lomba, a família informou que Karen vinha fazendo uso de medicação controlada, mas a delegada não soube informar se era algum antidepressivo. Segundo funcionários do Hospital da Lagoa, onde a psicóloga trabalhava três vezes por semana, Karen era uma pessoa fechada. A moça teria chegado a dizer que estaria se sentindo triste com a aproximação das festas de fim de ano. Ontem, ela estaria de plantão na unidade.

Debilitada, ela tomou soro com antibiótico em hospital
Suja, desorientada e debilitada pelos dias que passou sem comer, a psicóloga foi levada pela polícia ao Hospital Miguel Couto, na Gávea, pouco depois de ter sido encontrada. Na unidade, ela passou por exames de raio-X e hemograma, tomou soro com antibiótico e recebeu alta em seguida. Karen estava com as mesmas roupas do dia em que desapareceu: short jeans e bata branca.

Segundo os médicos que a atenderam, Karen estava clinicamente bem, mas alternou momentos de lucidez com crises de choro. Ela tinha alguns arranhões pelo corpo, mas não apresentava quadro de desidratação. A psicóloga não chegou a ser submetida a exames toxicológicos porque a polícia não achou necessário.

"Se aparecer algum dado novo, posso pedir exames, mas por enquanto isso está descartado. Ele falou várias vezes que estava sozinha e que não teve contato com ninguém. Não há indícios de agressão, estupro, de nenhum crime", explicou a delegada, que ainda vai ouvir mais depoimentos para concluir o caso.

Choro e vergonha diante dos pais
Ainda confusa, Karen deixou o hospital no carro de uma amiga. Aparentemente envergonhada diante dos olhares dos pais e do namorado, a psicóloga, que preferiu passar a noite na casa da amiga, ficou calada.

Apesar do alívio com o fim das buscas à psicóloga, parentes que chegavam ao hospital não conseguiam ouvir de Karen uma explicação. Ela teve várias crises de choro e só conseguia relatar o que fizera até a tarde do dia 31 de dezembro, após falar ao telefone com sua mãe para avisar que iria caminhar na Lagoa.

"Ela estava muito confusa. Disse que não lembra de tudo e conta em detalhes o que fez até o momento do desaparecimento. Ela alegou ser motivo pessoal", disse a delegada.

A movimentação foi intensa durante todo o dia de ontem no prédio onde a psicóloga mora. Os policiais chegaram ao edifício às 8h30 com a certeza que Karen estava dentro do edifício. "Foi uma bênção. Um susto, mas graças a Deus ela está viva", comemorou uma amiga.

Fonte: O Dia
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