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Polícia

Quadrilha de policiais roubava até baldes de plástico de camelôs no Rio

Segundo investigação, presos na Operação Compadre levavam dinheiro de propinas para batalhão e delegacia de Bangu

30 abr 2013 - 17h22
(atualizado às 17h25)
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O secretário de Segurança do Rio disse que outros níveis da PM e da Polícia Civil devem ser atingidos
O secretário de Segurança do Rio disse que outros níveis da PM e da Polícia Civil devem ser atingidos
Foto: Daniel Ramalho / Terra

A quadrilha de policiais do Rio de Janeiro que extorquia dinheiro de camelôs e mototaxistas levava o valor arrecadado ilegalmente para dentro do batalhão e da delegacia de Bangu, área onde o grupo atuava. O esquema, desmontado dentro da Operação Compadre, envolvia especialmente PMs do 14º BPM (Bangu) e policiais civis da delegacia do bairro. Até o início da tarde desta terça-feira, dos 78 mandados de prisão expedidos, 66 foram cumpridos. Entre os presos estão seis policiais civis, 45 PMs, e 15 civis (não policiais), entre eles, o síndico da delegacia de Bangu.

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As investigações apontaram que dois policiais civis chegaram a roubar objetos vendidos pelos comerciantes, e revendiam a outros camelôs. Entre essas mercadorias, estavam baldes de plástico, roupas e CDs e DVDs piratas. Esses policiais são lotados na Delegacia de Repressão Contra Crime de Propriedade Imaterial (DRCPIM), justamente a especializada voltada para o combate à pirataria.

Dos policiais acusados pelos atos ilícitos, não há oficiais, comandantes ou qualquer outro que exerça cargo de chefia. Segundo o subsecretário de Inteligência de Secretaria de Segurança Pública do Rio, Fábio Galvão, as investigações não apontaram a participação de policiais de alta patente.

As investigações em torno da quadrilha foram iniciadas em abril do ano passado, a partir de uma denúncia anônima. Entre as provas, há diversas imagens das ações de extorsão e até mesmo de roubo de mercadorias. A cobrança era semanal, e era feita tanto pelos policiais, quanto por pessoas que trabalhavam também como informantes do bando. Eles passavam de carro, de ponto em ponto, pedindo o dinheiro. Quem se negasse a pagar era ameaçado, ou tinha as mercadorias levadas. "A quadrilha agia em grupos, não havia um chefão", afirmou Galvão.

O grupo atuava principalmente no Calçadão de Bangu, onde cobrava R$ 70 semanais de propina, que poderiam ser pagos em duas vezes. O dinheiro era sempre recolhido às quartas e quintas-feiras.

Outra área onde vendedores eram extorquidos era na feira da Marechal Marciano. Lá, a propina semanal chegava até R$ 50, de acordo com o poder de faturamento de cada camelô. Quem vendia mais, pagava mais, segundo o subsecretário de inteligência.

Outros 50 pontos de mototáxi de Bangu também eram alvo da quadrilha. Nesses locais, o valor cobrado variava de R$ 50 a R$ 100 por semana. O grupo estendeu seus tentáculos para a feira de Honório Gurgel, bairro da zona norte do Rio. Entre os presos, há policiais do 9º BPM, que patrulha a região.

A investigação, iniciada na Corregedoria da PM, contou com a participação da inteligência da Secretaria de Segurança e do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público estadual. Os responsáveis pela investigação não souberam precisar o dinheiro que a quadrilha levantou, e nem mesmo o período em que extorquiram os camelôs e mototáxis.

A operação foi batizada de Compadre porque os policiais chamavam as vítimas de extorsão de "padrinhos". O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, pontuou que o trabalho de investigação não terminou, e que podem ocorrer novos fatos. "Esperamos desdobramentos, diante do material colhido. Temos muita coisa. É um crime grande, e pode assumir dimensões ainda maiores", comentou.

De acordo com o corregedor da PM, coronel Waldyr Soares, 800 policiais foram investigados por irregularidades no ano passado, e 317 foram expulsos. Os acusados pela Operação Compadre serão indiciados pelos crimes de formação de quadrilha armada, concussão e roubo.

Fonte: Terra
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