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Polícia

Prisão de pais de menina que caiu de janela divide criminalistas

14 jul 2009 - 03h34
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Abatidos e chorando muito, a professora Fátima Rodrigues Edivirges Sena, 50 anos, e o marido, o contador Gilson Rodrigues de Sena, 51 anos, pais da menina Rita de Cássia Rodrigues de Sena, 5 anos - que morreu ao cair do quinto andar do prédio, em Tomás Coelho, no Rio de Janeiro, sábado à noite -, tiveram a prisão relaxada e deixaram a cadeia nessa segunda-feira, a detenção dos dois é motivo de discussão entre criminalistas. Segundo policiais, ambos passaram a noite em choque e em prantos, ainda sem conseguir a aceitar a morte da filha.

Fátima ficou na carceragem da Polinter em Mesquita. A professora não foi hostilizada pelas presas, mas, por precaução, foi colocada numa cela separada. Abalada, ela teria tomado vários medicamentos controlados de uma vez. "Ela estava arrasada. Fiquei preocupado e até tirei os remédios das mãos dela", comentou um agente. Fátima desabafou: "Vocês não podem imaginar a minha dor. Ela tinha medo de altura, não tinha essa peraltice".

Acompanhada da advogada Fátima Pandolpho, a mãe de Rita saiu às 13h45, num carro particular, onde também estava Gilson, que havia saído da Polinter de São João de Meriti uma hora antes. Os dois se abraçaram e choraram. O contador passou a maior parte da noite isolado, chorando, também numa cela especial, e recusou o jantar da carceragem. Ele pernoitou ao lado de dois acusados de homicídio e um terceiro que responde por assalto.

"Eles mal conseguem falar. Vamos lutar para provar a inocência deles", disse a advogada. Irmãos de Gilson estiveram no condomínio ontem para buscar documentos e as roupinhas com as quais a sobrinha será enterrada: vestido e sapatos brancos. "Eles socorreram a Rita, ficaram com ela no hospital, têm endereço fixo, nunca deveriam ter sido presos", disse Marcos de Sena, 50 anos.

Segundo a delegada da 25ª DP (Engenho Novo), Adriana Belém, é improvável que o buraco na tela de proteção por onde Rita passou tenha sido aberto com uma tesoura encontrada na rua. Hoje serão ouvidos parentes e vizinhos do casal e suas duas filhas, de 14 e 18 anos. A mais velha, Carolina, que é casada e está grávida de oito meses, até ontem não sabia da morte de Rita. O enterro será às 11h, no Cemitério de Irajá.

Prisão dos pais divide criminalistas

A prisão dos pais de Rita gerou polêmica. Embora a atitude esteja tecnicamente correta, segundo criminalistas consultados pelo jornal O DIA, não houve consenso sobre a necessidade da detenção. O crime de abandono de incapaz se aplica a casos com menores de até 14 anos. A pena chega a 16 anos quando há morte e parente envolvido.

"Houve muito rigor. A prisão era desnecessária. Eles já estão pagando pena superior a qualquer outra que se pudesse aplicar", defende o advogado criminalista Alexandre Moura Dumans. Para ele, a detenção só se justificaria diante de risco de fuga ou de coagir testemunhas. Apesar de abandono de incapaz ser considerado sempre doloso (com intenção), para o criminalista houve descuido, não crime.

Já para o advogado Michel Assef, a delegada não tinha outra opção, enão prendê-los: houve um crime. A mãe já está sendo punida pela circunstância, mas isso não exclui a culpa. Se a delegada não prendesse, responderia por prevaricação". Assef pondera que o juiz leva em consideração, ao fixar a pena, se os pais eram zelosos com a filha.

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