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Polícia

Presas fazem desfile de moda com restos de objetos em cadeia do RS

Detentas usaram saquinhos de fermento, caixas de leite, fiação elétrica e artesanato produzido diariamente nas celas

17 mai 2013 - 17h15
(atualizado às 17h54)
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Elas foram aplaudidas pelas colegas de cela e por membros da Justiça, que apoiaram o desfile
Elas foram aplaudidas pelas colegas de cela e por membros da Justiça, que apoiaram o desfile
Foto: Mauricio Tonetto / Terra

As dependências do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre (RS), que abriga 238 detentas, viraram uma passarela de moda nesta sexta-feira. Com saquinhos de fermento, caixas de leite, fiação elétrica e artesanato produzido diariamente nas oficinas, um grupo de apenadas usou a criatividade e criou vestidos estilizados para um desfile aberto às próprias presas, seus familiares, membros da Justiça e jornalistas. O objetivo é divulgar o lançamento da campanha "Defensores Públicos: Pelo Direito de Recomeçar", promovida pela associação nacional da categoria (Anadep), e mostrar a importância do trabalho para a regeneração e inserção social dos condenados.

Presidiárias trabalham em gráfica pela liberdade no RS

"O Madre Pelletier foi escolhido exatamente por não ser uma realidade no nosso País, devido ao alto índice de trabalho de suas presas (mais de 80%). Nós queremos mostrar a diferença que faz um preso ter um local para cumprir pena e receber educação, respeito e oportunidade", afirmou a presidente da Anadep, Patrícia Kettermann. Para cada três dias trabalhados, um dia da sentença é descontado, na chamada remissão da pena.  De acordo com a diretora do Madre Pelletier, Marília dos Santos Simões, esse é um estímulo fundamental para as detentas.

"É um grande diferencial. A remissão da pena e os salários são importantes para elas. As que estão aqui querem trabalhar e aceitam muito bem. O trabalho dá auto-estima e valorização, como pode ser visto no desfile", ressaltou. De acordo com dados do Sistema de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen 2011), a taxa de encarceramento no Brasil triplicou nos últimos 15 anos, e a população carcerária já ultrapassa meio milhão de pessoas (513.802) - num universo em que 93% são homens e 48% possuem menos de 30 anos de idade.

Estímulo para voltar à sociedade

A jovem identificada como Flaviane, 23 anos, detida por tráfico de drogas e associação para o tráfico há quase três anos, comemora a oportunidade de trabalhar e espera que a experiência adquirida dentro da prisão vá influenciar o seu futuro, quando estiver em liberdade. Ela atua com processamento de dados para a prefeitura da capital gaúcha.

"Eu me sinto bem de trabalhar na cadeia. Além de ser uma distração, de tirar um pouco do lugar, também tem a remissão da pena. Quando eu sair daqui, vou procurar continuar trabalhando. Acredito que o meu trabalho atual vai ajudar, porque já mantenho uma rotina, tenho alguma experiência, mas sei que não vai ser fácil", relatou ela.

Para Onilda Salete de Brito, 60 anos, presa há 1 ano e 8 meses por tráfico, o tempo passa muito mais rápido na prisão com o trabalho. "Eu não falto serviço, sou a primeira a descer para trabalhar, isso ocupa a minha cabeça. Com o trabalho fixo, a gente ganha remissão, um dinheiro para se sustentar e o tempo passa. Quando eu vejo, já é noite, e assim vai indo", contou.

Atualmente, apenas 94.816 presos trabalham, dos quais 79.030 realizam atividades dentro dos estabelecimentos penais e 15.786 atuam externamente. Somente 8% das pessoas presas estudam. No Rio Grande do Sul, 29.172 pessoas estão presas e, desse total, 55,56% estão sem trabalhar.

"Sem exercício de atividades laborativas durante o período de encarceramento, há pouca chance de que essas pessoas voltem à sociedade e possam efetivamente contribuir, podendo refazer seus laços familiares, afetivos e profissionais. Infelizmente, as perspectivas para o País são as piores. Da forma como o sistema prisional tem sido tratado pelas nossas autoridades, ele só tende a piorar. A tendência do encarceramento não resolve o problema", concluiu Patrícia Kettermann.

Fonte: Terra
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