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Polícia

PR: Gaeco investiga ameaças a jornal que denunciou delegados

18 dez 2012 - 01h59
(atualizado às 02h01)
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O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado no Paraná (Gaeco/PR) instaura processo nesta terça-feira para tentar identificar os autores e as razões de ameaças contra jornalistas do jornal Gazeta do Povo de Curitiba, editado pelo Grupo Paranaense de Comunicação, maior grupo de comunicação do Estado, que além de jornais, congrega ainda oito emissoras de TV afiliadas à Rede Globo. Na segunda-feira, um grupo de repórteres do jornal foi alvo de ameaças sobre um suposto ataque que estaria sendo preparado contra eles. A redação e a direção do jornal receberam quatro telefonemas, mencionada a mesma situação. Duas chamadas continham ameaças diretas e as demais alertavam sobre a possibilidade dos ataques.

Na série de reportagens, jornalistas fotografaram viaturas policiais saindo de prostíbulos no horário de expediente
Na série de reportagens, jornalistas fotografaram viaturas policiais saindo de prostíbulos no horário de expediente
Foto: Reprodução/Gazeta do Povo

Em entrevista ao Terra no final da noite de segunda-feira, o promotor Leonir Batisti, chefe do Gaeco/PR, disse que os números telefônicos foram identificados e repassados pela direção do jornal. Algumas das ligações foram realizadas em telefones públicos e os responsáveis pelas ameaças podem ter sido filmados por câmeras de monitoramento.  A investigação foi solicitada pelo Procurador Geral do Ministério Público do Estado, Gilberto Giacoia, após ser informado sobre as ameaças aos jornalistas.

As ameaças ocorreram no mesmo dia em que o jornal publicou, em sua edição impressa, reportagem informando sobre uma suposta promoção funcional de delegados da Polícia Civil do Paraná que estariam sendo investigados em sindicância interna por suposto uso indevido de veículos oficiais para fins pessoais. Conforme a publicação, os delegados poderiam ser promovidos de 2ª para 1ª classe a partir de janeiro, o que seria vedado pelo estatuto da instituição. A matéria revelou ainda que investigações abertas contra nove policiais civis, investigados pelo mesmo motivo, estavam paralisadas.

Em nota, o Conselho da Polícia Civil negou a informação do jornal. Segundo o texto, "nenhum delegado que responde sindicância ou processo disciplinar está em nenhuma lista de prováveis promoções".  De acordo com a nota, todos os delegados citados por irregularidades no uso de viaturas, foram alvo de investigações preliminares que estão analisadas. "Somente aí, se decidirá se há a necessidade de abertura de sindicância ou processo administrativo", assinala o comunicado oficial.

Cautela

Em maio, a Gazeta do Povo publicou uma série de reportagens denunciando irregularidades no uso de viaturas oficiais e na gestão do fundo rotativo da Polícia Civil. Na época, um blog acessado constantemente por policiais civis, publicou comentários anônimos com ofensas e ameaças contra o jornalista que coordenou as reportagens, classificando-o como “inimigo público número 1 da Polícia Civil”. 

O promotor do Gaeco  disse que não pode relacionar os fatos anteriores com as últimas ameaças. "Vamos investigar e identificar os autores", disse ele.  Na mesma linha de cautela, a diretora de redação da Gazeta do Povo, Sandra Gonçalves, disse que não pode afirmar que as ameaças atuais estejam relacionadas à série de reportagens.

"Os autores das ameaças agiram de forma intimidatória, mas não citaram especificamente este caso. O jornal adota uma linha investigativa forte em vários setores e não podemos avaliar, no momento, as motivações e origem das ameaças", disse ela.  Como precaução, o jornal registrou um boletim de ocorrência e alertou as autoridades de Segurança Pública do estado sobre o caso. Sandra informou que o jornal adotou ainda medidas necessárias para assegurar a segurança de seus profissionais. Entidades de defesa da liberdade de imprensa também serão comunicadas hoje sobre as ameaças. O Terra tentou ouvir a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança no final da noite de ontem, mas o celular não foi atendido.

Prêmios

Sob o título "Polícia Fora da Lei", a série de reportagens publicadas em maio pela Gazeta do Povo foi finalista do Prêmio Esso 2012 na categoria Regional Sul.  Os jornalistas percorreram cinco mil quilômetros em todas as regiões do estado durante cinco meses de investigação. Inicialmente, os repórteres investigavam supostos desvios de uso do fundo rotativo da Polícia Civil, mas, durante a apuração, descobriram que viaturas que eram usadas por policiais para ir às compras e até a bordeis. A série de reportagens gerou mudanças nas regras do governo estadual para o uso dos recursos destinados à polícia e desencadeou aberturas de inquéritos civis do Ministério Público para investigar suposto uso irregular do dinheiro. Na Polícia Militar, um major e um tenente-coronel estão sendo investigados pelo uso irregular de veículo oficial.

O jornalista que coordenou a série de reportagens publicadas pela Gazeta do Povo, e é um dos principais ameaçados, recebeu  em novembro o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, concedido pelo Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ). A honraria, entregue em Nova York, é um reconhecimento à coragem dos profissionais que arriscam suas vidas por suas investigações e frequentemente enfrentam retaliações. Ao receber o prêmio no hotel Waldorf Astoria, o repórter fez uma dedicação especial ao jornalista Tim Lopes, morto em 2002 durante o trabalho em uma reportagem na Vila Cruzeiro, localizada no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

Fonte: Terra
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