PR: começa novo julgamento de acusada de matar menino Evandro
- Roger Pereira
- Direto de Curitiba
Acusada de, junto com sua mãe, Celina Abagge, ser a mandante da morte do menino Evandro Ramos Caetano, que desapareceu em 1992, aos 6 anos de idade, em Guaratuba, litoral do Paraná, Beatriz Celina Abagge começou a ser julgada nesta sexta-feira, no Tribunal do Júri de Curitiba. Mãe e filha foram julgadas em 1998 e inocentadas, porque não ficou comprovado que o corpo encontrado era de Evandro. O Ministério Público (MP) recorreu da decisão e pediu um novo julgamento, alegando que a perícia da arcada dentária e o exame de DNA que provavam que o corpo era do menino foram desconsiderados no julgamento.
Quase um ano depois, em março de 1999, o júri que absolveu Beatriz e Celina foi anulado pelo Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná. Celina não será mais julgada por conta da idade: 70 anos.
O caso
O caso do menino Evandro chocou o País, pois a acusação é que o corpo tenha sido usado em sacrifício num ritual de magia negra. Evandro desapareceu no caminho entre a escola e sua residência, em 6 de abril de 1992. Beatriz e a mãe foram acusadas de sequestrar a criança e também de ter participado do ritual em que Evandro teria sido morto. O corpo foi encontrado cinco dias depois do crime num matagal da cidade. As vísceras e o coração tinham sido retirados e as mãos e os pés tinham sido cortados.
Além das Abagge, outras cinco pessoas foram julgadas por envolvimento no crime. O pai de santo Osvaldo Marcineiro, o pintor Vicente Paulo Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares foram condenados em 2004. Já Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos foram absolvidos em 2005.
A defesa de Beatriz segue sustentando que o corpo identificado pelo pai de Evandro , por exame de DNA e pela arcada dentária, não era do menino e pede a exumação do corpo. Os advogados de defesa apresentaram um documento que mostra que o teste da arcada dentária foi assinado por uma auxiliar de necropsia que não tinha primeiro grau completo, quando deveria estar assinado por um legista ou odontólogo profissional . "Isso não é importante. O que interessa é o exame de DNA", afirmou o promotor Paulo Sérgio Markowicz.
"Como é que eles podem falar, se o filho não era deles? O pai viu, o pai reconheceu, o pai fala até hoje que era o menino. E qual é o pai ou a mãe que não reconhece o filho que tem? O meu filho foi encontrado e está enterrado, está no cemitério", disse a mãe de Evandro, Maria Caetano.
Testemunhas
Nesta manhã, a defesa levou como testemunha o perito Arthur Drischel, que fez o levantamento no local em que foi encontrado o corpo identificado como de Evandro no dia 11 de abril de 1992, cinco dias depois do desaparecimento. Drischel disse que o cadáver encontrado tinha 1,19 m, altura incompatível com um menino de 6 anos. Segundo ele, é provável que o corpo não fosse de Evandro. O perito afirmou também que as lesões encontradas no corpo não foram feitas por um facão, instrumento que, segundo os outros acusados do crime, teria sido usado para mutilar o menino.
A defesa também tentou arrolar como testemunha o delegado Adalto Abreu de Oliveira, chefe do Grupo Especial Tigre, encarregado do caso na época, que, em recente entrevista, declarou acreditar que Evandro tenha sido sequestrado e vendido para o exterior, estando vivo até hoje, mas o juiz Daniel Surdi Avelar negou o pedido por respeito aos prazos.
Com oito testemunhas para serem ouvidas antes das alegações finais e da reunião do júri para decidir a sentença, não há previsão para o término do julgamento. Caso passe das 20h, a sessão será suspensa e retomada no sábado.