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Polícia

Polícia pode voltar a usar armas letais e gás em protestos no Rio

Para o comandante da PM, Erir da Costa Filho, o que foi pactuado com entidades não deu certo

18 jul 2013 - 10h43
(atualizado às 13h57)
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A Polícia Militar do Rio de Janeiro quer voltar a usar gás lacrimogêneo e armas letais para controlar as manifestações. Para o comandante da PM, Erir da Costa Filho, o que foi pactuado com a secretaria de Direitos Humanos, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Anistia Internacional não deu certo. "Temos que mudar essa conduta. Foi pactuada a diminuição do gás. Outras organizações queriam que tirássemos todas as armas não letais e nós decidimos usar água. Depois do que ocorreu ontem vamos fazer uma reavaliação da forma de atuar" disse, completando mais tarde: "como é que a polícia vai controlar uma turba com uma munição não letal? As organizações têm que ir à frente das câmeras e dizer que armas podemos usar".

Para o comandante da PM, a polícia está, sim, preparada. "Estamos diante de algo que não sabemos, que não tem um líder e não temos com quem negociar", disse, afirmando possuir um vídeo que mostra os manifestantes jogando urina e cuspindo nos policiais.

"Atrás da farda temos seres humanos. Para a polícia não tem direitos humanos?", questionou, colocando parte da culpa na imprensa. "Estamos aqui para dar segurança a todos, inclusive para a imprensa e não estamos tendo apoio dos senhores também. Nós temos policiais feridos. Somos cidadãos e eleitores também. A responsabilidade da mídia é muito grande. Depois não vai (sic) pedir ajuda da polícia. A mídia tem que pensar. Tá todo mundo perdido. Nós não estamos perdidos”, disse Costa Filho, que confirmou que há cinco anos a polícia carioca abandonou o currículo de Controle de Distúrbio Civil.

O secretário de segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que no Rio ainda não foi constatada nenhuma morte. "Vamos analisar todo inquérito que aconteceu, refazer o planejamento e ver o que e onde podemos melhorar. As ações são flexíveis", explicou Beltrame. Costa Filho disse que "essa é a polícia que temos". "Boa ou ruim é a polícia que vocês precisam, para dar segurança de qualquer jeito," afirmou o coronel. 

O comandante do Estado Maior da Polícia, Alberto Pinheiro Neto, disse que a corporação ainda foi atacada com bolas de gude e pedras portuguesas. "Quando não se tem um líder, não se tem com quem negociar," lamentou Costa Filho. "Esse é um fator novo e que temos que aprender. Essa PM que está hoje nas ruas nao pegou a ditadura. Temos que negociar pelo computador."

Pinheiro Neto disse ainda que os escudos utilizados pelo Batalhão de Choque são muito antigos. "Tenho 29 anos de polícia e, quando cheguei, esse escudos já estavam na corporação", disse, para justificar o fato de a polícia não ter material novo por conta da ausência de problemas com manifestações nos últimos anos. "Imagina se tivéssemos comprado escudos e material novos? Seríamos questionados sobre o motivo, já que não tínhamos necessidade disso" afirmou.

A delegada Martha Rocha, chefe da Polícia Civil, negou que a coporação esteja trabalhando mal e que muitos dos crimes cometidos pelos manifestantes, como depredação ou incitação, não são passíveis de prisão. "A formação de quadrilha é afiançável e quando chegamos com alguém preso já tem dez advogados na porta. Não faço milagres," justificou.

Chegada do Papa

Sobre a chegada do

papa Francisco

, na próxima segunda-feira, para a Jornada Mundial da Juventude, Beltrame disse que o planejamento está montado. "Tem um protocolo, sabemos o que vai acontecer e as policiais estão preparados. Sobre a questão da manifestação o planejamento não vai ser rígido, vai depender dos estudos que fizermos nesses dias. Manifestações aproveitando esse evento, estamos atentos. A agenda está na órbita do governo federal com o

Vaticano

. E eles é que vão definir o planejamento para recebermos o Papa. Temos a possibilidade de manifestações e temos que tratar isso de forma diferenciada."

O coronel Erir das Costa Filho garantiu que a Jornada vai transcorrer em paz. "Nós tivemos uma Copa das Confederações e quem foi ao Maracanã nem soube o que acontecia na rua. Vamos ter um evento em paz."

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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