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Polícia

Polícia faz cerco a traficantes em 10 favelas do Rio

23 out 2009 - 02h16
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Seguindo a determinação da Secretaria de Segurança de realizar "operações sem parar", policiais civis e militares fizeram nessa quinta-feira ações contra o tráfico de drogas em 10 comunidades do Rio. Além de prender os criminosos que iniciaram uma guerra no sábado, ao invadir o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e abater a tiros um helicóptero da PM, o objetivo das ações é enfraquecer o poder de fogo das quadrilhas. Desde o início dos conflitos, que levaram pânico à zona norte, pelo menos 35 pessoas morreram.

Traficantes da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, obrigaram o motorista de uma Kombi a levar dois corpos até a porta do Hospital Getúlio Vargas, onde foram deixados. Os mortos - Michel William Simões e Reinaldo Castorino de Oliveira - teriam sido baleados horas antes durante operação da PM.

Pelo menos oito homens foram presos durante as incursões de ontem, sete deles suspeitos de envolvimento no ataque do fim de semana. O principal criminoso procurado pela polícia, no entanto, continua foragido. Ontem, o Disque-Denúncia (2253-1177) anunciou que a recompensa por informação que leve à prisão de Fabiano Atanázio da Silva, o FB, apontado como líder da invasão, subiu de R$ 2 mil para R$ 5 mil. Moradores do Complexo da Penha, reduto do traficante, comentaram ontem que, depois que a PM deixou o local, na noite de quarta, FB teria sido visto pilotando motocicleta dentro da comunidade.

Nesta quinta, houve diversos confrontos entre policiais e traficantes, como no Morro da Mangueira à tarde. Agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), que contavam com apoio de dois helicópteros, foram recebidos por tiros e bombas. Um blindado enguiçou dentro da favela e foi preciso acionar reforço. Alunos da Escola Técnica Adolpho Bloch tiveram que deixar as salas de aula e ficaram concentrados no pátio, que fica na parte da frente do colégio, mas longe da linha de tiro. "Quando e como vamos repor essas aulas?", reclamou a aluna Mayara Suzart, 17 anos, do segundo ano do curso de Administração. Quando os disparos terminaram, os cerca de 600 alunos da unidade foram dispensados e formaram uma longa fila ao longa da Rua Visconde de Niterói.

Nas ruas próximas aos morros de Vila Isabel, Engenho Novo e Sampaio - epicentro dos confrontos de sábado ¿, o policiamento continuou reforçado. Um blindado da PM ficou posicionado sob o viaduto do Túnel Noel Rosa.

Na esquina da avenida Marechal Rondon com a Rua Juiz Jorge Salomão, havia uma concentração de soldados do Batalhão de Choque. O reforço agradou aos moradores. "Seria bom que fosse assim para o resto da vida, pois moro aqui há muitos anos e sempre assisti a cenas de violência", desabafou uma dona de casa, 52 anos, lembrando a noite de terror vivida terça-feira, quando traficantes do Morro dos Macacos ameaçaram invadir o Morro São João.

"Embora a PM esteja aqui, é melhor não arriscar. Vamos sair até as coisas voltarem à normalidade", disse uma estudante. A frequência de alunos nas escolas municipais da região refletiu esse temor. Nas três localizadas próximas ao Macacos, a presença foi inferior a 10%. Na área do São João, apenas 20% dos estudantes foram ontem a um dos colégios.

Além da Mangueira, houve operações em Parada de Lucas, Jacarezinho, Ladeira dos Tabajaras, Barreira do Vasco, Cidade Alta, Manguinhos, Kelson¿s, Cachoeirinha e Fallet.

Armamento embaixo da calçada

Ao deixar ontem a Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) em direção à Favela de Parada de Lucas, policiais da especializada não pegaram apenas suas armas e coletes à prova de balas. Também levaram para a favela picareta, pá, cavadeira e marreta. A informação era de que traficantes haviam escondido arma e munição debaixo da calçada.

Depois de uma troca de tiros com bandidos, agentes foram guiados por um informante até o ponto da Avenida Dom Hélder Câmara, onde ficava o esconderijo. Quando quebraram parte do chão, na rua e dentro de uma casa, encontraram pequeno arsenal: metralhadora, fuzil AK-47 e uma pistola, além de cerca de mil cápsulas de diversos calibres - inclusive de metralhadora ponto 30 - e 11 carregadores de armas.

O morador da casa teria fugido ao escutar os fogos de alerta sobre a presença da polícia na favela. O ventilador e a luz de um quarto estavam acesas. A parede da sala tinha uma tampa de metal por onde o material era guardado no buraco, debaixo da terra. A entrada ficava atrás de um móvel com a TV. Em outra casa, a 200 m de lá, os policiais derrubaram uma parede falsa, onde havia 20 carregadores de fuzil e pistola.

Durante a ação, cinco carros e três motos foram recuperados. Em uma Honda Biz, os agentes encontraram drogas debaixo do banco. "Temos investigação de que eles estavam roubando carros e motos na Av. Brasil, na zona norte e até na zona sul. Viemos prendê-los e buscar o armamento que usam para aterrorizar suas vítimas", afirmou o delegado Márcio Mendonça.

A guerra no Rio

No último sábado, bandidos do Morro de São João tentaram invadir o Morro dos Macacos para tentar tomar os pontos de venda de drogas da comunidade. Houve intenso tiroteio durante toda a madrugada. Moradores ficaram apavorados com a guerra. A Polícia Militar estava no entorno da favela, em Vila Isabel, zona norte da cidade.

Pela manhã, a PM interveio e foi para cima do confronto. Os criminosos atiraram contra um helicóptero da Polícia Militar e conseguiram derrubá-lo. Três militares morreram na queda da aeronave. O piloto, considerado um herói, conseguiu escapar. No Jacarezinho e na Mangueira, traficantes atearam fogo em oito ônibus. De acordo com o último balanço da Polícia Militar, 33 pessoas já morreram em eventos relacionados à guerra do tráfico desde o último fim de semana.

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