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Polícia

PM desvenda significados de tatuagens no mundo do crime

Estudo que desvendou 36 imagens usadas por criminosos foi publicado na internet e visto por mais de 5 mil pessoas

28 jan 2015 - 20h55
(atualizado às 20h59)
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<p>Estudo levantou 50 mil documentos e fotos em presidios e delegacias, institutos médicos legais, jornais, revistas e redes sociais, além de raras entrevistas com detentos</p>
Estudo levantou 50 mil documentos e fotos em presidios e delegacias, institutos médicos legais, jornais, revistas e redes sociais, além de raras entrevistas com detentos
Foto: Capitão Alden / Divulgação

Palhaços, índias, magos, caveiras, bruxos, serpentes, polvos, aranhas, peixes, anjos, santos e demônios são figuras comuns nos presídios brasileiros.

Há pelo menos 10 anos, o capitão da Polícia Militar baiana Alden dos Santos se dedica a traduzir os significados destas e outras imagens desenhadas nos corpos de presos e suspeitos de crimes no Brasil e no exterior. Seu estudo sobre os significados das tatuagens gerou uma cartilha, adotada oficialmente como apoio a investigações pela PM da Bahia.

"Foram detalhados os significados de 36 imagens associadas a crimes específicos", diz o capitão. "Muitas delas, além de se repetirem em todo o País, aparecem nos mesmos padrões em países como Estados Unidos, Rússia e locais na Europa".

Além de símbolos mais conhecidos, como palhaços (associados a roubo e morte de policiais), magos ou duendes (comuns entre traficantes), a pesquisa identificou recorrência inusitada de personagens infantis, como o "Diabo da Tasmânia", o "Papa-léguas" e o "Saci-Pererê".

O primeiro sugeriria envolvimento com furto ou roubo, principalmente arrastões. Já o Papa-léguas - ou sua variação mais comum, o "Ligeirinho"- indicaria criminosos que usam motocicletas para o transporte de drogas.

<p>Tatuagens com o demonio da Tazmania sugeririam envolvimento com furto ou roubo, principalmente arrastões</p>
Tatuagens com o demonio da Tazmania sugeririam envolvimento com furto ou roubo, principalmente arrastões
Foto: Capitão Alden / Divulgação

O Saci também teria relação com o tráfico: seus portadores seriam responsáveis pelo preparo e distribuição dos entorpecentes.

Foi pelas redes sociais que a pesquisa de Alden encontrou popularidade: mais de 5 mil pessoas acompanham suas postagens no Facebook sobre supostas conexões entre crimes e tatuagens, além de casos policiais não registrados pela grande mídia.

Pelo YouTube, os vídeo publicados pelo PM já foram vistos mais de 600 mil vezes. O resultado final do estudo já foi baixado pela internet por mais de um milhão de pessoas.

<p>Figura do 'papa-léguas' ou 'ligeirinho' indicam uso de motocicletas para distribuição de drogas</p>
Figura do 'papa-léguas' ou 'ligeirinho' indicam uso de motocicletas para distribuição de drogas
Foto: Capitão Alden / Divulgação
Estigmatização?

Aproximadamente 50 mil documentos e fotos foram coletados pelo PM: eles vêm de presídios e delegacias, institutos médicos legais, jornais, revistas e redes sociais - tudo isso somado a raras entrevistas com detentos de prisões baianas.

"As principais informações infelizmente não vieram dos presos em si. Há um forte código de silêncio. As conclusões vieram mais pelo cruzamento de dados", diz. Ele explica: "Levantamos, por exemplo, todos os presos que tinham tatuagem do Coringa e cruzamos com suas sentenças. Havia um padrão claro em seus delitos".

<p>Mais conhecidas, tatuagens de palhaços costumam ser associadas a roubo e morte de policiais</p>
Mais conhecidas, tatuagens de palhaços costumam ser associadas a roubo e morte de policiais
Foto: Capitão Alden / Divulgação

O padrão, segundo o militar, indica "roubo e envolvimento com morte de policiais".

"Portadores desta tatuagem demonstram frieza e desprezo pela própria vida", explica o PM. "A maioria parece absorver as características deste personagem - insano, sarcástico, vida louca. Normalmente não se entregam fácil e partem para a violência".

Questionado sobre a estigmatização que a pesquisa poderia provocar sobre quem tem imagens pelo corpo, o policial militar diz deixar claro que cidadãos "nunca poderão ser abordados somente por apresentarem tatuagens descritas na cartilha".

Aproximadamente 50 mil documentos e fotos foram coletados pelo PM: eles vêm de presídios e delegacias, institutos médicos legais, jornais, revistas e redes sociais - tudo isso somado a raras entrevistas com detentos de prisões baianas.

"As principais informações infelizmente não vieram dos presos em si. Há um forte código de silêncio. As conclusões vieram mais pelo cruzamento de dados", diz. Ele explica: "levantamos, por exemplo, todos os presos que tinham tatuagem do Coringa e cruzamos com suas sentenças. Havia um padrão claro em seus delitos."

<p>Aranhas indicam suspeitos que agem em grupo; são associados a caçadores que 'esperam pacientemente pelas presas, as prendem e as matam'</p>
Aranhas indicam suspeitos que agem em grupo; são associados a caçadores que 'esperam pacientemente pelas presas, as prendem e as matam'
Foto: Capitão Alden / Divulgação

"Nosso objetivo não é discriminar pessoas tatuadas, isso seria discriminar o próprio ser humano, que há muito tempo usa tatuagens como forma de expressão", diz o capitão Alden.

Ele diz que, para policiais, a importância do estudo é ajudar o policial a salvaguardar sua integridade física, no caso de tatuagens ligadas a mortes de oficiais.

<p>Sacis indicariam responsáveis pelo preparo e distribuição dos entorpecentes</p>
Sacis indicariam responsáveis pelo preparo e distribuição dos entorpecentes
Foto: Capitão Alden / Divulgação

"Elas também funcionam como mais uma ferramenta para facilitar o trabalho de reconhecimento de suspeitos", diz, citando as imagens de carpas - estes peixes são frequentemente associados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Códigos

Além das imagens figurativas, elementos gráficos, como pontos tatuados nas mãos, também seriam indícios de crimes, segundo o pesquisador.

<p>Segundo o estudo, as imagens acima seriam associadas a membros da facção criminosa PCC</p>
Segundo o estudo, as imagens acima seriam associadas a membros da facção criminosa PCC
Foto: Capitão Alden / Divulgação

Um só ponto preto indicaria "batedores de carteira". Dois, na vertical, sugerem estupro. Três pontos, em formato de pirâmide, apontam relação com entorpecentes.

O oficial não teme que a divulgação dos símbolos iniba que a exibição ou confecção de novas tatuagens suspeitas.

"A existência desse material não fará com que as facções alterem seus códigos", diz Alden ao #salasocial. "Por incrível que pareça, em vez de os suspeitos deixararem de usar a imagem que os associam à prática de determinado crime, o que percebemos é a lógica inversa: quanto mais se tem consciência de que a polícia conhece, mas frequentes são as imagens, como uma espécie de desafio".

<p>Imagens de magos são associadas a usuários ou traficantes de drogas</p>
Imagens de magos são associadas a usuários ou traficantes de drogas
Foto: Capitão Alden / Divulgação

Segundo o PM, a tendência não se limita ao Brasil. "O palhaço, com o mesmo significado, é muito comum também na máfia russa, no México, nos Estados Unidos, em Porto Rico. O mesmo ocorre com a índia (mulher cabelos negros e longos, que já serviu para indicar quem tinha autorização do tráfico para portar fuzis, hoje mais associada à prática de roubos).

<p>Capitão também recebe elogios do público feminino em suas fotos postadas na página</p>
Capitão também recebe elogios do público feminino em suas fotos postadas na página
Foto: Capitão Alden / Divulgação
'PM gato'

Não são só as "traduções" das tatuagens que garantem sucesso ao Capitão Alden - mensagens como "Vc é muito gato. Com todo respeito. Mas se faltar com o respeito vc me prende?" e "Tá lindo, Capitão magia" são comuns nas fotos pessoais publicadas pelo PM em sua página.

Chamado de "PM Gato", Alden minimiza o sucesso pessoal nas redes. "Eu uso a página só para divulgação de trabalhos da polícia", diz. "Mesmo com tanto assédio das mulheres, a intenção da página é profissional".

<p>Mesmo com divulgação dos significados das tatuagens, PM não acredita que criminosos deixem de fazê-las</p>
Mesmo com divulgação dos significados das tatuagens, PM não acredita que criminosos deixem de fazê-las
Foto: Capitão Alden / Divulgação

Ele se diz surpreso com o alcance que suas postagens vem ganhando. "Gera muita repercussão e isso me dá cada vez mais disposição de alimentar a página. A tatuagem ainda chama atenção, mesmo sendo algo que já faz parte da própria humana", afirma

Foto: Capitão Alden / Divulgação
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