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Polícia

Pai que disse para filha filmar cenas com padre se defende: 'não sou lixo'

Além da ordem polêmica para a filha, Ubiratan Homsi foi indiciado pois teria tentado extorquir o padre denunciado por abuso sexual

1 mar 2013 - 11h01
(atualizado às 14h35)
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<p>Ubiratan disse que pediu a filha que gravasse encontro pois sem provas 'não se vai a lugar nenhum'</p><p> </p>
Ubiratan disse que pediu a filha que gravasse encontro pois sem provas 'não se vai a lugar nenhum'
Foto: André Naddeo / Terra

A notícia de que um padre, Emílson Soares Corrêa, 56 anos, de São Gonçalo e Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, teria abusado de duas meninas, agitou a opinião pública nos últimos dias. As imagens no vídeo são claras, evidentes e o acusado não as nega. Padre Emílson usou da máxima dos que rompem o celibato clerical ao dizer “que a carne é fraca”, e se defendeu afirmando que a relação foi consensual, com apenas uma das filhas de Ubiratan Homsi, que na época já teria 15 anos. O caso veio à tona depois que Ubiratan, segundo ele, consensualmente com a mãe da jovem (eles são separados), disse para a filha gravar os atos para obter provas.

As filhas de Ubiratan eram coroinhas do padre, e ele teria abusado delas numa banheira, em frente ao quadro da Santa Ceia. O consciente coletivo indaga: como um pai, sabendo que a filha teria sido violentada, a expõe novamente às cenas que repudiou? 

“Se eu fosse só acusar, neste País, sem provas, você não vai para lugar nenhum”, rebate Ubiratan, que ainda tem sob os ombros um indiciamento, via Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), por ter supostamente cobrado dinheiro e uma casa para não revelar o vídeo para a imprensa. Já o padre foi indiciado por estupro de vulnerável. 

O pai garante, porém, que tem mais material em vídeo que comprova não só a sua inocência, como traz evidências novas ao caso. Por enquanto, não quer revelar o conteúdo. Explica, no entanto, que já está nas mãos da delegada Martha Dominguez, à frente da investigação. “É revoltante”, diz, ao contestar o indiciamento por extorsão.  

“Eu sou um pai, não sou um lixo. Um pai que bota a filha para ganhar dinheiro é um grande filho da puta”, esbraveja ainda, para logo responder que não só não pediu propina, como fez questão da prisão de Emílson e de apoio psicológico para as filhas. Segundo ele, sua promessa de que o caso seria levado à imprensa obrigou a uma interferência da Arquidiocese, pedindo que ele não fosse a público. 

Ubiratan diz que hoje vive à base de calmantes, perdeu trabalho, que os vizinhos olham torto para ele, e se diz perseguido. Mas diz que não se arrepende de nada. Aliás, apenas de um ato que julgou ser uma covardia. “Bati nela”, confessa. “Fui covarde. Depois é que eu me dei conta que ela tinha caído nas mãos de um cara que tem 56 anos, oferecendo mundos e fundos, que mandava ela contar o dinheiro das doações, que dava doces, joias, carros e tudo mais. Dizendo que daria uma vida confortável para ela”, diz, fumando compulsivamente.

Confira o depoimento de Ubiratan Homsi, na íntegra: 

Terra: A delegada que cuida do seu caso, e da suas filhas, anunciou que o senhor será indiciado por extorsão. A acusação é justa? Qual a sua posição?

Ubiratan Homsi:

É revoltante. Está certo que eles podem falar o que quiserem, mas tudo o que eu relatei é baseado em provas. Eles falaram que eu queria casa e dinheiro, não é isso? Extorsão e tudo o mais. Então, eu entreguei à delegada um vídeo de uma reunião em que estavam eu, o arcebispo dom José (Francisco Rezende Dias, de Niterói) e os dois advogados deles. Eles tinham feito esse pedido de uma reunião para não divulgar isso em mídia. 

Quem fez esse pedido?

Ubiratan: O padre Marcos (André Rocha Gameiro, ecônomo da Arquidiocese de Niterói). Assim que eu descobri tudo, eu fui direto na Arquidiocese. Essa conversa está relatada (que ele não pede nada em troca). Está tudo gravado, documentado. Vou calar a boca de todo mundo (Ubiratan não quis fornecer o vídeo, disse que aguarda o melhor momento para a divulgação). Das emissoras que falaram mal de mim. Um pai que bota a filha para ganhar dinheiro é um grande filho da puta. É ou não é? Eu vou até o inferno buscar o diabo se for preciso por causa dos meus filhos. Nesse vídeo, na reunião, as famílias que foram prejudicadas, que foram três, está totalmente claro a minha exigência de que, se não fosse relatado para a mídia, a excomungação (do padre Emílson) e que se ele não fosse preso, não teria acordo. Isso é fato, é real, não é história minha. Está no vídeo que será lançado em breve, e que está na mão da delegada. Pedi também apoio psicológico para as minhas filhas. 

E os presentes que o padre teria supostamente dado para a sua filha maior?

Ubiratan: Mandei buscar tudo o que ele deu para a minha filha, e que deu para seduzi-la. A moto que está no nome dele, o carro, tudo o que ele deu. 

O padre deu moto e carro para a sua filha?

Ubiratan: Moto e carro, tudo no nome dele. Moto nova. Mandei buscar, porque eu não queria nada disso. Está no vídeo isso. E o fato, que eu não posso por enquanto revelar, é que minha filha corre um grande risco. Mas eu não posso revelar agora por questões de segurança. 

Sua filha está correndo risco? Você pode explicar melhor?

Ubiratan: Está correndo riscos. Não posso dizer agora, pois coloco, como te falei, ela ainda mais em risco. Plenamente, para este advogado que está defendendo o padre agora, eu disse que queria o padre fora, a excomungação dele, que só aconteceu depois que o caso estourou, não antes. E ele só foi afastado. E nós sofremos muita pressão logo depois dessa reunião. Não tem pedido de dinheiro, pedido de casa e eu comprovo, assim, a mentira. Eles tinham que alegar alguma coisa, estava feio para eles. 

Qual foi a reação dos membros da Arquidiocese quando você mostrou o vídeo?

Ubiratan: Eles nem queriam me receber. Eu disse que tinha um vídeo de pedofilia e mandei abrir agora as portas. Fui recebido pelo padre Marcos, que sentou comigo numa sala, e, ao ver o vídeo, pela voz, ele já sabia quem era. Eu fui e falei tudo o que eu queria, como relatei a você. O arcebispo, na hora, estava em reunião com o prefeito. Assim sendo, marcou uma data após, e retornamos, e graças a Deus, que eu tinha esse vídeo desse (segundo) encontro, porque, se não, hoje, eu estaria preso. 

Por que você acha que estaria preso?

Ubiratan: Porque você sabe com quem eu estou lutando. É um mosquito contra um monstro. É por aí. E eu não iria ser mais um pai, que iria recorrer à Justiça, e passar batido para que outros pais tivessem seus filhos colocados na banheira, usando a palavra de Deus, com a batina, para pegar criança. Eu mostro a cara. Como eu disse, pelos meus filhos, vou ao inferno. 

Você citou outras famílias? O padre abusou de outras crianças, na sua opinião?

Ubiratan: Tem, claro que tem. Está começando a aparecer. Eu não sei quem são, só tenho uma certeza: novos fatos virão à tona. Tem muita gente que não vai, tem medo. Está faltando homem nesse País, amor nesse mundo, homem com disposição para bater de frente. 

O que você acha que vai acontecer com o padre Emílson?

Ubiratan: A justiça tem que ser feita. 

A justiça está sendo feita na sua opinião?

Ubiratan: Acho que a coisa está começando a andar de forma certa. Está aparecendo a plena realidade dos fatos. 

Quando você tomou conhecimento de que suas filhas estavam sendo abusadas?

Ubiratan: Não fui eu, foi a minha ex-esposa (mãe das duas meninas), que mora em São Gonçalo. Numa discussão da minha filha com o padre, no carro dele, a minha ex-mulher estava junto e percebeu que aquilo não estava normal. Minha ex-mulher estava passando mal, e ele disse que tinha ali todo o material para fazer extrema-unção, foi quando minha filha disse: “quem tem que morrer é você que está em pecado. Não a minha mãe”. Minha ex-esposa, na hora, percebeu. 

Quando ocorreu isso?

Ubiratan: Há mais ou menos quatro meses. 

Foi quando você armou para gravar os vídeos dos dois juntos?

Ubiratan: Isso. Porque se eu fosse só acusar, neste País, sem provas, você não vai para lugar nenhum. Eu sabendo de tudo, eu pensei em ir até o fim. E é o que está sendo. Foi quando fizemos uma reunião nós quatro (ele, a ex-mulher e as filhas). Foi quando eu descobri que ele botava a minha filha (mais velha), com 13 anos, numa hidromassagem em formato de coração, botava vídeos pornográficos e a induzia a fazer sexo oral nele. (silêncio dura uns dois minutos, e Ubiratan se recompõe). Ela começou a relatar fatos. Eu fiquei maluco e fui burro de bater na minha filha. 

Você se arrepende de ter batido nela?

Ubiratan: Bati nela para caralho. Fui covarde. Depois é que eu me dei conta que ela tinha caído nas mãos de um cara que tem 56 anos, oferecendo mundos e fundos, que mandava ela contar o dinheiro das doações, que dava doces, joias, carros e tudo o mais. Dizendo que daria uma vida confortável para ela. 

Mas por que você bateu nela?

Ubiratan: Fiquei revoltado, perdi a cabeça. Eu tenho os meus erros. Dei muito tapa. Mas depois perdi muito perdão a ela, porque ela é uma vítima. Foi uma reação de impacto. Em concordância com minha ex-mulher, resolvemos que não poderia passar em branco. Mas se a gente fosse direto na polícia, o que você acha que iria acontecer? Não seria o primeiro caso. Se você não provar, não tem como. 

Como você amadureceu a ideia de colocar sua filha para gravar um vídeo com o padre nas situações que você relatou?

Ubiratan: Foi de comum acordo (com a mãe dela). Sabíamos que esse cara não poderia passar impune. Ele não poderia usar mais a palavra de Deus para induzir crianças. Quero ele na cadeia. Resolvemos filmar. Como eu disse, foi uma reunião de família. Todo mundo quer empurrar para cima de mim, mas foi algo que acordamos. Falei para ela "você vai ter que gravar um vídeo, nós vamos para a delegacia, relatar tudo, para a mídia", para que não passasse em vão. Eu sou pai, não sou lixo. 

Foi quando você chamou o padre Emílson para conversar aqui na sua casa?

Ubiratan: Ele se sentou nesse sofá onde você está. Coloquei o vídeo para ele. E perguntei: “o que você tem para me dizer?”. Vocês viram já isso. Nunca vi um cara tão frio na minha vida. Ele pensava que iria sair impune dessa história. Ele chegou a sorrir, de lado. Olhou para mim. Frio demais. E disse: “o que eu posso fazer é te pedir desculpa”. 

Seu sentimento na hora qual foi?

Ubiratan: Tive vontade de matar ele. Mas eu não tenho coragem de fazer isso. Nunca tirei a vida de ninguém, mas a vontade veio. De dentro do meu coração. Aí ele perguntou se poderia ir embora. Disse: “perfeitamente”. E completei: “vou te colocar na cadeia”. Foi quando eu comecei a minha batalha. Em nenhum momento eu tapei a minha cara. Mas muita gente não está relatando a verdade dos fatos. 

O que não saiu na mídia que deveria ter sido tratado?

Ubiratan: Na gravação (com a Arquidiocese), avisei que estava indo naquele momento para a delegacia, que eu iria chamar a imprensa. E xinguei todo mundo, esquecendo onde eu estava, numa paróquia. Quando saímos rumo à delegacia, fomos seguidos por dois elementos da Arquidiocese. Sofremos uma pressão enorme. As emissoras que me trataram como vilão, que colocaram uma capa em mim, com sensacionalismo, dentro de um fato real com as pessoas pisoteando você, vai ser provado de que tudo isso não aconteceu. Para calar as bocas. Eu sou pai, não sou monstro. Essas emissoras podem esperar que nós vamos conversar (no sentido de que pode ir atrás de uma ação judicial). 

<p>O pai alega estar à base de calmantes: 'não durmo mais a noite toda, perdi peso, e não consigo mais trabalhar'</p><p> </p>
O pai alega estar à base de calmantes: 'não durmo mais a noite toda, perdi peso, e não consigo mais trabalhar'
Foto: André Naddeo / Terra

O lado pessoal de vocês está muito abalado? Como vocês estão se sentindo?

Ubiratan: Olha ali as duas caixas de Rivotril (calmante). Não durmo mais a noite toda, perdi peso, e não consigo mais trabalhar (ele conserta aparelhos de refrigeração). Não posso nem botar mais as minhas máquinas de lavar que eu reformo e vendo também, ali do lado de fora. Perdi a clientela toda. Insinuaram já por aí: “que pai é esse que bota a filha para gravar vídeo?”. Não tem mais cliente que liga para mim. Todo momento que eu saio tem alguém me vigiando. Tem muita gente olhando torto, essas matérias sensacionalistas têm deixado a minha família muito mal. 

Quando o senhor imagina que esse sofrimento que fala vai acabar?

Ubiratan: Só vou achar minha paz quando ele for preso.

A Arquidiocese de Niterói, citada nesta entrevista, ainda não se posicionou sobre as acusações feitas. O Terra fez contato e aguarda retorno desde quinta-feira.

Fonte: Terra
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