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Polícia

No arsenal do Alemão, polícia apreende armas nunca recolhidas

1 dez 2010 - 01h53
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No terceiro dia de buscas a drogas e armamentos, as apreensões continuam tão gigantescas quanto o Complexo do Alemão. Nesta terça, duas metralhadoras antiaéreas calibre ponto 50 - armas jamais apreendidas no Estado do Rio de Janeiro - foram encontradas por policiais da 9ª DP (Catete) na Favela da Fazendinha e no Largo do Coqueiro. Durante o dia, também foram encontradas mais de meia tonelada de maconha e armas pesadas, entre elas duas metralhadoras ponto 30. A estimativa do comandante da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, é de que o prejuízo do tráfico tenha chegado a mais de R$ 100 milhões.

"Pelo que temos de saldo até agora, acho que já demos um prejuízo de mais de R$ 100 milhões nos traficantes do Comando Vermelho. Só tenho a agradecer o empenho de toda a minha tropa", disse o oficial.

No início da manhã, a surpresa veio do lixo: policiais da 42ª DP (Recreio) apreenderam, dentro de um minitrator da Comlurb lotado de detritos, um fuzil calibre 7.62, um tablete de meio kg de maconha e carregadores. Também em meio ao lixo, no chão, policiais encontraram carregadores, munição traçante e uma granada.

Ontem, a Secretaria Estadual de Segurança apresentou parte do material apreendido no domingo e na segunda-feira. Foram 33 toneladas de maconha, 135 armas longas - incluindo uma das metralhadoras ponto 50 -, 235 kg de cocaína, 27 kg de crack, 1.406 frascos de lança-perfume e dezenas de granadas. Munição e pistolas ainda não foram contabilizadas pela Secretaria de Segurança. A outra ponto 50 só foi encontrada à tarde.

"Todo esse material impunha escravidão e a mordaça pelo fuzil. Isso acabou. Não vencemos a guerra, mas vencemos a batalha e podemos acreditar em dias melhores. O Rio de Janeiro ainda não acordou para a importância do golpe dado no Comando Vermelho", destacou José Mariano Beltrame.

A impressionante quantidade de maconha empilhada atingia a metade da parede do galpão da Academia de Polícia. "O que posso dizer é que a grande maioria deu a vida para retomar aquele lugar e, se tivesse que tomar o Complexo do Alemão na faca, o teria feito. Estamos prendendo os bandidos mais procurados e violentos. Para reduzir a violência na rua, o mais importante é a prisão deles", completou o chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski.

Técnicas de guerrilha colombiana

Depois de apreender a primeira metralhadora ponto 50 no Rio, junto com outra ponto 30 e mais cinco fuzis, na localidade conhecida como Largo do Coqueiro, no Morro do Alemão, o titular da 9ª DP (Catete), Alan Luxardo, e sua equipe encontraram bunker no alto da Fazendinha, quatro horas depois. Neste, havia meia tonelada de maconha e oito fuzis, além de outras duas metralhadoras ponto 30 e ponto 50. Esta arma é capaz de derrubar pequenas aeronaves.

A droga estava enterrada a dois metros de profundidade, dentro de sacolas em tonéis de plástico. Segundo Luxardo, essa técnica é a mesma usada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), grupo de guerrilheiros terroristas.

"Essa é uma prática das Farc. Cavar buracos profundos no chão de um barraco como esse aqui, e em lugar tão alto como este, não é costume de traficantes comuns", contou Luxardo.

A todo momento, equipes de policiais passavam comemorando apreensão de pequena ou grande quantidade de drogas ou armas pela favela. No fim da tarde, homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) encontraram casamata do tráfico na localidade Quatro Bicas, na Vila Cruzeiro, já no Complexo da Penha. Os policiais irão explodir amanhã esta construção feita com buracos estratégicos em suas paredes para facilitar a visão e a mira dos traficantes em trocas de tiros com policiais. No fim do dia, já somavam 370 veículos apreendidos. Destes, 330 são motos.

Na Vila Cruzeiro, 30 quilos de pasta de coca

Policiais do 41º BPM (Irajá) apreenderam ontem, na Vila Cruzeiro, 30 kg de pasta-base de cocaína, sacolés da droga, uma metralhadora ponto 30 e crack. André Luiz Lima de Souza foi detido para que contasse de quem era o material. Ele afirmou que tudo estava no telhado do vizinho.

André chegou a ser apontado como percussionista do AfroReggae, o que foi negado pelo coordenador executivo do grupo, José Júnior. Aos PMs, disse não ser bandido e que "José Junior sabia disso". O rapaz acredita que a ação foi represália por ter relatado a Júnior abusos de policiais. "Se fosse do grupo, ele não poderia dizer que não teve chance de sair do crime", declarou Junior.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis incendiaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer). Na terça-feira, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal se juntaram às forças de segurança no combate à onda de violência que resultou em mais de 180 veículos incendiados.

Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tomaram a vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que foi cercado no sábado. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do Complexo do Alemão, praticamente sem resistência dos criminosos, segundo a Polícia Militar. Entre os presos, Zeu, um dos líderes do tráfico, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes em 2002.

Desde o início dos ataques, pelo menos 39 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.

Polícia apresenta armas e drogas apreendidas nas operações realizadas no final de semana em favelas do Rio
Polícia apresenta armas e drogas apreendidas nas operações realizadas no final de semana em favelas do Rio
Foto: EFE
Fonte: O Dia
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