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Polícia

'Não tenho coragem de tirar a vida de ser humano nenhum', diz Mizael

Acusação dispensou direito de fazer perguntas ao réu, que negou o crime

13 mar 2013 - 18h07
(atualizado às 18h07)
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<p>Mizael chega escoltado pela polícia no Fórum de Guarulhos</p>
Mizael chega escoltado pela polícia no Fórum de Guarulhos
Foto: Marcos Bezerra / Futura Press

O policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, negou ter matado a ex-namorada, a advogada Mércia Nakashima, encontrada morta aos 28 anos, em 2010. Em depoimento na tarde desta quarta-feira durante o terceiro dia de julgamento, no Fórum de Guarulhos (Grande SP), o acusado disse ainda que nunca matou ninguém - nem mesmo quando trabalho como PM -, e afirmou que considera não ter "o direito" e a "coragem" de tirar a vida de nenhum ser humano.

Veja detalhes do caso Mércia 

Veja como funciona o tribunal do júri

"Eu não matei ninguém, Excelência (em resposta ao juiz). (...) Eu não tenho coragem de tirar a vida de ser humano nenhum. Quem tem esse direito é quem nos deu", afirmou Mizael, que admitiu ter armas guardadas "encaixotadas" em casa, mas afirmou que nunca andou armado. 

Mizael diz que foi torturado para admitir o assassinato:

O depoimento do réu começou por volta das 17h15, mas a acusação se recusou a interrogar o acusado, por considerar que ele já apresentou "seis versões diferentes" para explicar o caso. Um dos jurados questionou, em bilhete lido pelo juiz Leandro Bittencourt Cano em plenário, quais seriam essas versões a que o promotor Rodrigo Merli se referiu, mas o réu disse desconhecer.

"Essas versões que eles estão falando aqui não procedem. (...) Inclusive, a acusação pode ficar à vontade para fazer perguntas, eu respondo a todas às perguntas deles, dos jurados, da plateia. Eu não devo nada, não temerei", disse Mizael. 

Armas

O réu também explicou no início de seu depoimento que se aposentou da PM em 1999 após ter sofrido um acidente, o que o impossibilitou de continuar a exercer a profissão. Disse ainda que, em virtude deste acidente, ele não consegue mais atirar com a mão direita (ele é destro). 

"Eu sempre trabalhei interno na Polícia Militar porque eu tinha medo. (...) Eu não ando armado. Quem disse que eu ando armado está faltando com a verdade. Minhas armas estavam todas guardadas dentro de casa, encaixadinhas. (...) Com a mão direita eu não consigo atirar, mas com a esqueda eu consigo atirar, sim", afirmou. 

Mizael também admitiu estar nervoso e justificou por que respondia de forma rápida às perguntas feitas por um de seus advogados. "Eu estou sofrendo muito com isso. Há três anos sofrendo com isso", afirmou. Ele afirmou ainda que ficou mais de um ano foragido por medo, mas negou ter intenção de fugir e disse que se apresentou espontaneamente à Justiça porque não "deve nada".

"Quem deve, tem de pagar pelo que fez. Quem não deve, tem de se rebelar. Foi o que eu fiz", disse. 

O caso

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita,  mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

Acusação dá risada de depoimento de Mizael e é repreendida:

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes - enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.

Fonte: Terra
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