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Polícia

Não há mais clima para ficar, diz turista após invasão de hotel

21 ago 2010 - 23h50
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Aterrorizados, hóspedes do Intercontinental relataram os momentos de pânico e desespero. Morador de Divinópolis (MG), o empresário Waldemar Rausch, 42 anos, diretor de plano de saúde, contou que ele, a mulher, Silvana, 44, e os filhos Álvaro, 5, e André, 3, ficaram três horas trancados no quarto em que estavam hospedados, no 9º andar. "Nossa primeira reação ao ouvir o intenso tiroteio foi nos jogarmos no chão, abraçados", lembrou Waldemar, que pretende voltar para Minas hoje, um dia antes do que havia planejado. "Acho que não há mais clima para ficarmos aqui", justificou.

No momento da invasão, pelo menos 60 hóspedes tomavam café da manhã no restaurante. "Funcionários apavorados nos mandaram entrar, em silêncio, num cômodo ao lado, que está em reforma. Passamos 45 minutos trancados. Foram os piores momentos da minha vida. Ouvíamos muitos gritos do lado de fora. Nunca tinha visto tantas armas pesadas assim", disse a turista belga Nicole de Wever Baras, 60 anos, que é fisioterapeuta e saiu de Bruxelas para vir a um casamento.

Maratonistas, o servidor público Mércio Franco Maturano, 49 anos, e sua mulher, a dentista Rosana Arioli, 47, de Florianópolis (SC), que se hospedaram no Intercontinental para participar da Meia Maratona Internacional do Rio, também ficaram trancados no mesmo local. "Estamos muito assustados e custando a acreditar em tudo que aconteceu. Nossos parentes ficaram preocupados ao ver o noticiário e não paravam de nos ligar", disse Mércio.

O representante comercial de uma empresa de material cirúrgico, Marcelo Machado, 45 anos, que faria a abertura do 2º Congresso Carioca de Cirurgia e Traumatologia (Concac) no Hotel Intercontinental, recordou os momentos de aflição. "Me deparei com os bandidos invadindo o saguão. Custei a acreditar que tudo aquilo era verdade mesmo. Enquanto os bandidos iam rendendo quem viam pela frente, consegui fugir para o segundo andar. Muita gente desmaiou".

O contador Tiago Perondi, 25 anos, e a namorada, a gerente financeira Roberta Carvalho, 25 anos, estavam na sacada do oitavo andar e viram quando o bando invadiu o hotel. "Foi uma cena chocante. A impressão que deu é que todos nós seríamos mortos", disse Tiago, que ainda teve frieza para fotografar a movimentação dos criminosos descendo de vans e correndo para a entrada do hotel.

Moradora de um prédio na rua onde aconteceu o confronto com a PM, a psicóloga Marli Monteiro só teve coragem de sair de casa à tarde. "Estava dormindo quando ouvi os disparados. Parecia que era dentro de casa. Quase entrei debaixo da cama, de tanto pavor. O clima aqui no prédio é ainda de tensão. Presenciar a guerra ao vivo é outra realidade", desabafou.

Invasão a hotel ganha repercussão mundial

O dia de terror em São Conrado repercutiu no mundo inteiro . No site da rede britânica BBC, o caso ganhou destaque: Uma pessoa morre durante tiroteio em hotel, no Brasil. Na Espanha, o jornal El Mundo noticiou: A polícia libertou 30 pessoas que ficaram reféns num hotel do Rio de Janeiro. A página do jornal americano New York Times pôs como título: Homens armados invadem hotel de luxo no Rio de Janeiro.

Em nota, o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro lamentou os danos do tiroteio à imagem do Rio e cobrou a implantação imediata de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na Rocinha e no Vidigal. Na véspera do clássico contra o Vasco, o Fluminense teve que mudar o local da concentração dos jogadores do Intercontinental para o Hotel Windsor, na Barra.

O tiroteio também alterou a rotina do Campeonato Carioca de Showbol, que aconteceria no Complexo Esportivo da Rocinha. O evento, com a participação de ex-jogadores, acabou cancelado.

Maratonistas ficam abrigados em shopping

Professor de Educação Física e atleta amador, Denis Diniz e a mulher Mirtes vieram de Goiânia para a Meia Maratona do Rio, que acontece hoje. Com reservas para o Intercontinental, o casal soube, a caminho de São Conrado, que a área estava cercada pela PM. Com toda a bagagem, eles foram para o shopping São Conrado Fashion Mall - que só abriu ao meio-dia em vez de 10h - para aguardar que a situação voltasse ao normal.

"Não sabíamos da invasão. Quando ligamos para pegar coordenadas, a recepcionista informou que a rua estava interditada e, logo em seguida, desligou o telefone. Só soubemos da gravidade da situação quando chegamos. Temos amigos hospedados lá e, por telefone, contaram que estavam trancados no quarto e quase sem comida", disse Mirtes.

Outro inscrito na Meia Maratona, o paulista Sandro Vignini, 38 anos, desistiu de participar da prova depois de 15 anos seguidos. "Estou aqui com duas filhas e minha mulher e quero sair logo do Rio. A tensão é grande, estamos muito nervosos. Não sei se algo ruim vai acontecer de novo amanhã. Adoramos a cidade, ela é a mais bela do Brasil e tem um dos circuitos mais lindos do mundo, mas não penso em voltar para cá de novo", afirmou.

Já o gerente-geral do Intercontinental, Michel Chertouh, não vai abandonar a competição, cuja largada acontece na Praia de São Conrado. "Correr vai ajudar a aliviar a tensão. O dia foi cheio hoje (ontem)", comentou.

Fonte: O Dia
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