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Polícia

Nadinho tinha medo de morrer com fim de mandato de vereador

11 jun 2009 - 02h50
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Os dois tiros que acertaram a barriga e coxa, em dezembro, deixaram em Nadinho a certeza de que estava marcado para morrer. Sabia que, desde a morte do então amigo Félix dos Santos Tostes - cujo assassinato é atribuído ao ex-vereador -, seu nome figurava na lista negra dos homens que comandam a milícia de Rio das Pedras, em Jacarepaguá. Preferiu fechar a casa na comunidade e passar dois meses na terra natal (Campina Grande, na Paraíba). Era para esfriar o clima. No retorno ao Rio, em março, não saía mais do apartamento no Rio 2, e após a morte de Getúlio Rodrigues Gamas, há 13 dias, redobrou os cuidados. "Eles (milicianos) vão querer colocar a morte na minha conta. Se colar, vão querer me pegar", avisou, no sábado, ao advogado Edson Fontes.

Não era a primeira vez que Nadinho profetizava a própria morte. Em julho do ano passado, ao falar ao jornal O Dia sobre o clima de guerra em Rio das Pedras, anunciou que os milicianos só o esperavam perder o cargo na Câmara de Vereadores para matá-lo.

"Eles não me dão um tiro porque eu sou vereador". E foi além. Disse que o mandato o mantinha vivo e a perda (como aconteceu nas eleições de outubro de 2008) o deixaria vulnerável. Acertou. Quando estava à beira de deixar a Câmara, sofreu o atentado ao chegar em casa, na comunidade. Nesta quarta-feira, veio a confirmação.

Nadinho falava com a autoridade de quem chegou a Rio das Pedras aos 3 anos e viu a milícia ser formada na década de 80. Primeiro com a famosa Mineira (grupo de extermínio) e, depois, a milícia estruturada pelo policial Félix Tostes.

Tornei-me uma pedra no sapato deles (milicianos de outra facção). E sei que eles vão tentar me matar novamente. Nasci de novo e não sei se terei uma nova chance. Nadinho, em entrevista ao jonral O Dia após escapar de tentativa de homicídio em dezembro.

Em depoimento sigiloso à CPI, em 9 de setembro de 2008, apontou 11 envolvidos e detalhou o que cada um deles explorava na comunidade. Destrinchou, assim, o organograma do grupo de Rio das Pedras.

Os apontados por NadinhoO major PM Dilo Soares Pereira Júnior, segundo Nadinho, "é o homem do dinheiro, quem financia". A lista inclui o capitão PM Epaminondas de Queiroz Medeiros Júnior - dono de duas loterias e cartório na comunidade - e os irmãos Dalmir e Dalcemir Pereira Barbosa, apontados como chefes do grupo. O líder comunitário Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba, seria "funcionário de Dilo, quem arranja os clientes".

Como os responsáveis pela "taxa de proteção", Nadinho citou os PMs Paulo Eduardo Azevedo, o Paulo Barraco - "muito conhecido por ser extremamente violento" -, e que teria como braço direito o homem conhecido como 'André PM'. Fabiano Cordeiro, o Mágico, também é apontado como "temido na localidade". A viúva do inspetor Félix, Maria do Socorro, e Jorge Macedo, o Jorge Federal, são, segundo o depoimento, os controladores da distribuição de gás na comunidade. Ele citou ainda Getúlio Gamas, morto mês passado.

Polícia monitora comunidades da Zona Oeste para impedir a invasão de traficantes. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse ontem que o setor de inteligência da Policia Civil está monitorando as comunidades da Zona Oeste, antes dominadas pela Liga da Justiça. O objetivo é impedir que traficantes tentem invadir as localidades depois da prisão de 37 integrantes da quadrilha em ação iniciada terça-feira.

O governador Sérgio Cabral afirmou que há projetos para a instalação de unidades pacificadoras nas comunidades onde o grupo atuava, como já aconteceu na Favela do Batan, em Realengo. Na operação foram denunciadas 66 pessoas pelo Ministério Público, e não 65, como informou a Polícia Civil. Na noite de terça-feira, dois PMs se apresentaram. Ainda há 20 foragidos.

Rastro de Sangue

Féliz Tostes

Inspetor da polícia, ele comandava a milícia de Rio das Pedras e foi assassinado com 40 tiros em fevereiro de 2007. Nadinho e os policiais civis André Malvar e Raphael Moreira Dias foram acusados de tramar a execução. O motivo do crime seria a disputa pelo controle do reduto eleitoral da comunidade.

Maria do Socorro Barbosa

Viúva de Félix, a empresária foi alvo de atentado em novembro. Ela brigava na Justiça para retomar os bens do marido confiscados pelos milicianos que passaram a controlar Rio das Pedras. O crime teria sido provocado pela disputa de um terreno, onde a milícia construiu um prédio.

GETÚLIO RODRIGUES GAMASPresidente da cooperativa de vans de Rio as Pedras, integrava a cúpula da milícia e foi assassinado há 13 dias no sítio onde morava, em Cachoeiras de Macacu, atingido com um tiro na cabeça. No ano passado, Getúlio e Nadinho trocaram acusações na CPI das Milícias da Alerj. Um dizia que o outro planejava a morte do rival.

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