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Polícia

Morte de Santiago reflete nova realidade da violência contra o jornalismo

Enquanto a maioria das mortes de jornalistas envolve execuções, o falecimento do cinegrafista da Rede Bandeirantes é o caso mais grave da violência enfrentada por jornalistas nos protestos que se iniciaram em 2013

11 fev 2014 - 13h13
(atualizado em 26/5/2018 às 13h40)
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Foto do arquivo pessoal de Santiago Andrade, divulgada pela Rede Bandeirantes
Foto do arquivo pessoal de Santiago Andrade, divulgada pela Rede Bandeirantes
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

A morte do cinegrafista Santiago Andrade representa mais um caso da longa lista de episódios de violência no jornalismo no Brasil.

De acordo com dados contabilizados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), são pelo menos 30 casos de assassinato desde o ano 2000, o que gera uma média anual superior a dois.

No entanto, a morte do premiado câmera da Rede Bandeirantes possui elementos que apontam para um caso inédito de violência contra jornalistas na história recente do país. Em sua maioria, os casos elencados pela Fenaj e pela RSF descrevem execuções planejadas, assassinatos premeditados por motivo de por vingança e intimidação em regiões marcadas por disputa de poder.

O repórter investigativo Tim Lopes foi sequestrado, torturado e assassinado em 2002
O repórter investigativo Tim Lopes foi sequestrado, torturado e assassinado em 2002
Foto: Jornal do Brasil

Foi o que aconteceu com Décio Sá, experiente jornalista que matinha um blog de denúncias políticas em São Luís do Maranhão: foi executado aos 42 anos em um bar no dia 23 de abril de 2012. Foi também o que aconteceu cerca de 10 anos antes com Tim Lopes, repórter que foi sequestrado, torturado e assassinado em represália a seu trabalho investigativo.

Mas esses casos de execução (veja outros no infográfico abaixo) não representam em sua essência o de Santiago, morto após ter sido atingido por um rojão disparado durante um protesto contra o aumento do preço da passagem do transporte público no Rio de Janeiro.

“O que é diferente é todo este ambiente que cerca os protestos”, afirma Guilherme Alpendre, secretário-executivo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

“Há uma hostilidade das pessoas que estão na rua – policiais, manifestantes – contra repórteres. Isso é o que tem chamado a atenção da Abraji desde junho do ano passado, quando começamos a contar especificamente os casos de agressão a jornalistas nas manifestações.”

Um balanço divulgado pela organização nessa segunda, horas depois de anunciada a morte cerebral do cinegrafista da Bandeirantes, aponta 114 casos de agressão sofrida por profissionais da imprensa durante a onda de protestos em 2013.

“É um número muito alto. Há um clima de hostilidade muito grande. Isso é grave, pois é a polícia, a sociedade e os manifestantes se voltando contra repórteres, se voltando contra um direito fundamental, que é a liberdade de expressão, que é o direito de acesso à informação. Essa é a peculiaridade deste caso, que vem desde junho do ano passado”, diz.

Valério Luiz de Oliveira era um popular comentarista esportivo da rádio Jornal 820, em Goiânia
Valério Luiz de Oliveira era um popular comentarista esportivo da rádio Jornal 820, em Goiânia
Foto: Mirelle Irene / Especial para Terra

“Não foi um atentado à liberdade, o que se procurou foi atingir as forças policiais que vinham daquele lado”, resumiu sobre a tragédia o delegado titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão), Maurício Luciano, ao anunciar, na noite de ontem, que o responsável por disparar o rojão havia sido identificado. “O Santiago ficou na linha de tiro”, resumiu o delegado sobre a tragédia de um jornalista vítima de um assassinato aleatório.

O Brasil ocupa a atualmente sétima posição do ranking de assassinatos de jornalistas no Instituto Avante Brasil. De acordo com a organização, foram três mortes em 2013, ano em que o País ficou atrás de nações que enfrentam grandes instabilidades políticas e sociais, como a Síria, o Iraque e o Egito - respectivamente os três primeiros do ranking.

O Avante Brasil contabiliza 19 assassinatos de jornalistas desde 2000, período em que outras oito mortes de profissionais da mídia foram constatadas, sem no entanto ser possível confirmar intenção do crime. A dificuldade em confirmar investigativa e juridicamente uma execução planejada faz com que os números variem muito de acordo com o organismo que faz o levantamento.

Ranking de mortes de jornalistas e profissionais da mídia em 2013
Posição País Nº de mortes Posição no IDH
1 Síria 28 116º
2 Iraque 10 131º
3 Egito 6 112º
4 Paquistão 5 146º
5 Somália 4 -
6 Índia 3 136º
7 Brasil 3 85º
9 Filipinas 3 114º
9 Rússia 2 55º
10 Mali 2 182º
<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/brasil/infograficos/jornalistas-mortos/" href="http://noticias.terra.com.br/brasil/infograficos/jornalistas-mortos/">Morte de jornalistas: Santiago Andrade, Tim Lopes, Valério Luiz de Oliveira entre outros</a>
Fonte: Terra
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