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Polícia

Médica presa pode ter antecipado morte do próprio marido, diz funcionária

Ex-chefe da UTI, Nelson Mozachi tinha câncer terminal e morreu em 2006

22 fev 2013 - 09h02
(atualizado às 09h03)
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 Médica chefe da UTI do hospital Evangélico, Virgínia Helena Soares de Souza, sendo conduzida por policiais
Médica chefe da UTI do hospital Evangélico, Virgínia Helena Soares de Souza, sendo conduzida por policiais
Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo / Futura Press

Uma técnica em enfermagem que trabalha há dois anos na UTI do Hospital Evangélico de Curitiba informou ao Terra que presenciou a médica Virgínia Helena Soares Souza, chefe da UTI geral do hospital presa na última terça-feira, agindo para antecipar óbitos de pacientes graves de sua unidade. Segundo a técnica, que não quis se identificar, o procedimento era corriqueiro, ao menos, nos dois últimos anos. A funcionária contou que o próprio marido da médica, o ex-chefe da UTI Nelson Mozachi, a quem Virgínia substituiu após sua morte, em 2006, também teria tido sua morte antecipada pela médica.

“É quase que domínio público dentro do hospital que o marido dela, com câncer terminal, teve a morte antecipada por esses mesmos procedimentos”, disse. “Ela reduzia os parâmetros do respirador, que tinham que ficar entre 40% a 60%, para 21%, que era o mínimo. Ela também baixava o ‘peep’ (mecanismo de ventilação assistida) para zero, baixava a frequência respiratória e aplicava sedativos fortes, como o sentanil, ketalar ou propofol. Isso acontecia quase toda a semana”, contou.

A técnica em enfermagem, disse, no entanto, que não achava que a médica agia por interesse financeiro, mas por convicção. “Isso que estão falando que ela tratava SUS diferente de particular não faz sentido, porque mais de 90% dos nossos pacientes são SUS. Ela era vista como uma médica muito competente e que não poupava esforços para salvar vidas de quem ela achava que havia chance. Mas, para os pacientes que ela achava que não valia a pena, ela antecipava a morte”. 

Segundo a funcionária, muitos colegas sabiam da prática, mas não podiam denunciar, nem evitar. “Ela era a chefe e tinha muito poder no hospital, poder para transferir funcionários, mudar a equipe e ninguém queria isso. Assim, ela dava a ordem e os enfermeiros e técnicos tinham que cumprir. Eles cumpriam o que estava prescrito, mesmo sabendo das consequências. Muitos colegas meus acabarão indiciados por causa disso, mas eles não tinham alternativa”, disse.

Para a técnica em enfermagem, Virgínia antecipava a morte de pacientes que ela julgava desenganados para abrir novas vagas na UTI, por conta da grande fila no hospital. Gravações obtidas pela Polícia Civil registraram a médica declarando quer era preciso “desentulhar a UTI”. Mas a funcionária descartou a suspeita de tráfico de órgãos. “Impossível, ela antecipava as mortes. Para doar os órgãos seria necessário manter os pacientes vivos”.

Fonte: Especial para Terra
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