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Polícia

Massacre do Carandiru: 18 dos 25 réus se mantêm calados em depoimento

31 jul 2013 - 19h50
(atualizado às 21h18)
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Seguindo orientação da defesa, 18 dos 25 policiais militares acusados por 73 das 111 mortes ocorridas em 2 de outubro de 1992, na Casa de Detenção de São Paulo, no episódio conhecido como Massacre do Carandiru, permaneceram em silêncio em seu interrogatório nesta quarta-feira.

Alegando não querer cansar os jurados, os policiais afirmaram que, segundo orientação da advogada Ieda Ribeiro de Souza, fariam uso no direito constitucional de se manterem em silêncio.

A negativa causou irritação nos responsáveis pela acusação. O promotor Eduardo Olavo Canto ironizou os réus, que afirmavam quase em uníssono "manter o direito de permanecer em silêncio". "Mantendo-me no direito de permanecer inconformado", ironizou antes de fazer uma pergunta, não respondida, ao sargento da Polícia Militar Valter Tadeu Andrade de Assis. O promotor ainda tentou provocar os réus. "Conte a versão da tropa. Não queremos ouvir só os comandantes", disse a diversos interrogados.

A repetição da negativa de falar chegou a causar risos no juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo. Durante os questionamentos de praxe ao sargento Roberto Alves de Paiva, o magistrado riu quando, ao perguntar se o réu havia falado com sua defesa, Camargo disse "vou usar o meu direito de permanecer em silêncio". "Posso entender então que o senhor falou com sua advogada", ironizou Tellini.

Mais quatro réus devem depor nesta noite no Fórum da Barra Funda, em São Paulo, já que dois passaram mal e não compareceram ao júri.

Coronel diz ter entrado com medo de levar tiros

Dos 19 policiais ouvidos nesta sexta-feira, apenas o coronel Valter Alves de Mendonça, um dos comandantes da Rota que atuou no terceiro pavimento da Casa de Detenção de São Paulo em outubro de 1992, falou. Mendonça, que hoje é coronel da reserva, disse que entrou no local preocupado em levar tiros. "Eu não esperava a reação dos presos", afirmou.

"Eu vi clarões, ouvi estampidos e senti impacto no escudo que eu carregava. Atiraram contra mim. Aí eu reagi", disse ele, durante o primeiro interrogatório desta quarta-feira.

Ele conta que fazia o patrulhamento na região do Carandiru quando foi chamado, com sua equipe, para comparecer ao Carandiru, atendendo solicitação do coronel Ubiratan Guimarães, responsável pela operação naquele dia. "Quando chegamos lá, o diretor da Casa de Detenção estava nervoso, andando de um lado para o outro. Dava para perceber que ele queria uma intervenção, dizia que a briga estava incontrolável. A preocupação maior era com uma fuga em massa e que o Pavilhão 8, que era o mais perigoso, se rebelasse", diz.

Mendonça conta que já na entrada do prédio pôde ver quatro corpos, um deles decapitado. "Subimos gritando palavras de ordem: 'entrem nas celas'. Três deles gemiam de dor no corredor. Recolhi pelo menos duas armas com eles", afirmou. O promotor lembrou que, nos depoimentos anteriores, ele nunca citou ter encontrado esse preso morto, sem cabeça. "Na época não achei relevante", justificou-se.

Julgamento

O terceiro dia do julgamento dos 25 policiais militares acusados por 73 das 111 mortes ocorridas em 2 de outubro de 1992, na Casa de Detenção de São Paulo, nesta quarta-feira, está reservado para o interrogatório dos réus.

Esta é a segunda etapa do julgamento, que começou em abril com a condenação de 23 policiais militares - todos integrantes do 1º Batalhão de Choque (a Rota - Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). Eles receberam uma pena de 156 anos de prisão, em regime fechado, por conta de 13 das 15 mortes ocorridas no primeiro andar do prédio. Todos recorrem da sentença em liberdade.

Nessa primeira etapa, os policiais receberam a pena mínima para cada homicídio, que é de seis anos, somada a mais seis anos por impossibilitarem a defesa das vítimas. Os 12 anos foram multiplicados pelas 13 mortes para se chegar ao resultado final da sentença. Na ocasião, o júri ainda absolveu três PMs denunciados: Roberto Alberto da Silva, Eduardo Espósito e Maurício Marchese Rodrigues, seguindo recomendação do próprio Ministério Público. A justificativa é que eles não atuaram no 1º andar do pavilhão com a tropa.

Fonte: Terra
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