Jornal: sobrevivente de Realengo busca força no esporte
23 set2012 - 08h56
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Quase um ano e meio após perder os movimentos das pernas ao ser atingida por quatro tiros no ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, a estudante Thayane Tavares, 15 anos, encontrou força no esporte para superar a dor do trauma. Os treinos nas pistas de atletismo foram substituídos pelas aulas de remo. A força física antes concentrada nas pernas com o salto em distância e a corrida passou para os braços. E trouxe de volta a sensação de liberdade à adolescente. "Voltei a enxergar a vida de forma diferente, vindo da água. É como se voltasse a ter os meus movimentos ali dentro", contou emocionada à Folha de S. Paulo. Com aulas três vezes por semana, Thayane pratica o esporte há três meses na Urca (zona sul carioca), e já se prepara para participar do Campeonato Mundial de Remo na Argentina, no próximo mês de novembro. A jovem deverá competir em duas categorias: individual e equipe, com seis atletas.
A estudante, no entanto, lamenta não contar com nenhum patrocínio. Ela recebe aulas voluntárias de Jorge Souza, 45 anos, massoterapeuta e coordenador do projeto Rio Va'a, e diz que sua família junta dinheiro para arcar com os custos. "Meu sonho é trazer uma medalha de ouro para o Brasil. Mas para isso eu preciso de apoio", disse. Thayane é vista pelo instrutor como um novo talento do remo brasileiro. "Em menos de três meses, ela mostrou um empenho muito melhor do que atletas que treinam há mais de três anos", destacou. A estudante conta que as lembranças do dia 7 de abril de 2011 não se apagam, mas que amenizam com os treinos. "Penso no que aconteceu todos os dias, mas quando entro no mar esqueço e começo a pensar em outras coisas. É muito bom, um alívio", disse.
Tragédia em Realengo Um homem matou pelo menos 12 estudantes a tiros ao invadir a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na manhã do dia 7 de abril de 2011. Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, era ex-aluno da instituição de ensino e se suicidou logo após o atentado. Segundo a polícia, o atirador portava duas armas e utilizava dispositivos para recarregar os revólveres rapidamente. As vítimas tinham entre 12 e 14 anos. Outras 18 ficaram feridas.
Wellington entrou no local alegando ser palestrante. Ele se dirigiu até uma sala de aula e passou a atirar na cabeça de alunos. A ação só foi interrompida com a chegada de um sargento da Polícia Militar, que estava a duas quadras da escola. Ele conseguiu acertar o atirador, que se matou em seguida. Em uma carta encontrada com ele, Wellington pediu perdão a Deus e deixou instruções para o próprio enterro - entre elas que nenhuma pessoa "impura" tocasse seu corpo.
Dias depois, a polícia divulgou fotos e vídeos em que o atirador aparece se preparando para o ataque durante meses. Em um deles, Wellington justificou o massacre por ter sido vítima de "bullying" praticado por "cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem". Na casa dele, foram encontradas diversas anotações que mostraram uma fixação pelos ataques de 11 de setembro de 2001. O atirador acabou enterrado como indigente 15 dias após o massacre, já que nenhum familiar foi ao Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo.
7 de abril -A Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona norte do Rio, foi atacada no início da manhã por um ex-aluno armado com dois revólveres
Foto: AP
7 de abril - Estudantes choram a morte de 12 colegas assassinados por Wellington Menezes de Oliveira, que se suicidou após ser baleado por um policial
Foto: AP
7 de abril - Logo após o massacre, a Polícia Militar pediu que os pais de alunos se acalmassem e verificassem se seus filhos estavam em casa
Foto: Jadson Marques / Futura Press
7 de abril - Em busca de informações, familiares e vizinhos se aglomeraram em frente ao colégio e um cordão de isolamento teve que ser colocado no local
Foto: EFE
7 de abril - No meio da multidão que se reuniu em frente à escola, uma estudante desmaiou e teve que ser socorrida
Foto: EFE
7 de abril - A escola de Realengo foi palco de um tipo de massacre até então conhecido pelos brasileiros apenas por noticiais internacionais
Foto: Luiz Gomes / Futura Press
7 de abril - No entorno da instituição de ensino, o desespero tomou conta assim que as identidades das vítimas fatais começaram a ser divulgadas
Foto: Reuters
7 de abril - Muitos pais também viveram momentos de nervosismo em busca de informações sobre a localização de seus filhos, feridos ou não
Foto: AFP
7 de abril - Testemunhas disseram à polícia que foram mais de 50 disparos dentro da escola. No dia seguinte ao ataque, 62 cápsulas deflagradas foram recolhidas
Foto: AP
7 de abril - Além de matar 12 estudantes, o atirador feriu 18 pessoas no ataque até ser baleado por um sargento da Polícia Militar
Foto: EFE
7 de abril - O corpo do ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira foi o último a ser retirado pela perícia de dentro da escola
Foto: EFE
7 de abril - Bastante emocionada, a presidente Dilma Rousseff pediu, em Brasília, um minuto de silêncio para os "brasileirinhos indefesos que perderam a vida e o futuro"
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
7 de abril - Na escola atacada, o atirador deixou uma carta com instruções sobre como queria ser enterrado e qual a destinação desejada a seus bens
Foto: Divulgação
8 de abril - O atirador usou um revólver calibre 38 e outro calibre 32, além de dispositivos para recarregar as armas rapidamente
Foto: Luis Bulcão Pinheiro / Especial para Terra
8 de abril - No muro da escola, cruzes para cada uma das vítimas e mensagens de luto transformaram a calçada em local de homenagens
Foto: Reinaldo Marques / Terra
8 de abril - Os estudantes mortos pelo atirador tinham entre 12 e 14 anos e estavam em duas salas de aula invadidas
Foto: Reinaldo Marques / Terra
8 de abril - Diante de repórteres de diversos veículos, a avó de Ana Carolina Pacheco da Silva chora a morte da neta, de 13 anos
Foto: Reinaldo Marques / Terra
8 de abril - O velório da estudante Larissa dos Santos, 13 anos, foi marcado por homenagens
Foto: EFE
8 de abril - A irmã de Milena dos Santos Nascimento, 14 anos, se desespera e é amparada durante o sepultamento da jovem
Foto: Reinaldo Marques / Terra
8 de abril - Abraçados, colegas choram a morte de Igor Moraes da Silva, 13 anos, em velório no cemitério Jardim da Saudade
Foto: AP
8 de abril - Familiares jogam flores sobre o caixão de Rafael Pereira da Silva, 14 anos, conhecido como Príncipe da Carumbé, em referência ao nome da rua onde morava
Foto: EFE
8 de abril - O dia seguinte ao massacre foi marcado pela dor de famílias e amigos nos enterros dos estudantes mortos
Foto: Reuters
9 de abril - No sábado, muitas pessoas que não conheciam as vítimas se deslocaram até a escola para rezar em memória dos alunos mortos
Foto: Reinaldo Marques / Terra
9 de abril - O portão da escola, por onde o atirador entrou fingindo ser palestrante, recebeu dezenas de mensagens de solidariedade às famílias
Foto: Reinaldo Marques / Terra
9 de abril - Dois dias após o massacre, alunos e moradores da região da escola trocaram o cordão de isolamento da polícia por um abraço coletivo
Foto: Reinaldo Marques / Terra
9 de abril - A casa onde Wellington morou até quatro meses antes do ataque, em Realengo, amanheceu com muros e portões pichados
Foto: Reinaldo Marques / Terra
9 de abril - Izaías de Souza e Charleston Souza de Lucena foram presos e confessaram a venda de uma das armas ao atirador
Foto: Reinaldo Marques / Terra
10 de abril - Com 12 bandeiras manchadas de vermelho, a organização não governamental Rio de Paz protestou contra o tráfico de armas
Foto: Reinaldo Marques / Terra
11 de abril - Agente da prefeitura participa da limpeza da escola. Durante os trabalhos, um dos garis se emocionou e passou mal
Foto: Futura Press
12 de abril - Os três policiais que interromperam o massacre, entre eles o sargento que baleou Wellington, foram promovidos por bravura