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Polícia

Irmão de Mércia chora e diz que Mizael se recusou a ajudá-lo em buscas

"Tinha certeza que ia encontrar a minha irmã viva", disse Márcio Nakashima

11 mar 2013 - 12h33
(atualizado em 10/7/2018 às 18h27)
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<p>Márcio Nakashima, irmão de Mércia, chega para acompanhar o julgamento</p>
Márcio Nakashima, irmão de Mércia, chega para acompanhar o julgamento
Foto: Fernando Borges / Terra

O irmão da advogada Mércia Nakashima, morta aos 28 anos em 23 de maio de 2010, Márcio Nakashima, disse nesta segunda-feira, durante o julgamento de Mizael Bispo de Souza, que sempre teve esperanças de encontrá-la viva e que, até localizar seu corpo em uma represa de Nazaré Paulista (interior de SP), acreditava que ela tinha sido vítima de um sequestro. "Tinha certeza que ia encontrar a minha irmã viva", afirmou, em um depoimento bastante emocionado, que já dura mais de uma hora. 

Veja detalhes do caso Mércia 

Ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado sempre negou a acusação e, no início do julgamento, chegou a chorar ao ouvir o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano dar início aos trabalhos. Primeira testemunha a depor, Márcio pediu para ser ouvido sem a presença de Mizael, que foi retirado do plenário, a contragosto - ele insistiu para ficar, mas teve seu pedido rejeitado pelo juiz. 

Questionado pelo promotor Rodrigo Merli, responsável pela acusação, sobre como foram as buscas por Mércia durante os 19 dias em que ela ficou desaparecida, o irmão da vítima disse que chegou a procurar Mizael para pedir ajuda, mas que ele se recusou a auxiliar a família nas buscas. 

"Eu sempre achei que a Mércia estava viva, que ela tinha sido vítima de um sequestro. Eu cheguei a procurar o Mizael, porque achei que era um sequestro, e ele não quis me atender. (...) O Mizael não quis ajudar, mas até então eu não achava que ela tinha matado a Mércia. Eu tinha certeza que ia encontrar a minha irmã viva", disse Márcio, aos prantos, recordando as buscas pela irmã.

"Eu cheguei a discutir com o delegado (Antonio de Olim, que será ouvido como testemunha de acusação) porque ele começou a tratar a Mércia como morta. E eu tinha certeza que ia encontrá-la viva, até achar seu corpo", disse, negando que a Polícia Civil tenha adotado apenas uma linha de investigação - como sustenta a defesa de Mizael. "Até a Polícia Militar falou: 'não liga no 190 porque o Mizael fica sabendo de tudo'. Ele tinha muitos contatos na polícia", afirmou. 

Márcio admitiu que era amigo do réu quando ele namorava sua irmã, mas contou que os dois tiveram uma discussão e não se falavam havia bastante tempo antes do crime. Segundo ele, Mizael foi o "primeiro e único" namorado de Mércia, que "gostava" muito do ex-namorado, mas começou a "sentir vergonha" da postura dele, que "se transformou" ao longo dos anos.  

"A Mércia gostava do Mizael. O que afastou a Mércia do Mizael foi essa postura dele. Ele se tornou um sujeito possessivo e ciumento", disse Márcio, que atribuiu o término do namoro a um problema na sociedade do casal, que dividia um escritório de advocacia e também encerrou a parceria.  

Testemunhas

Em e-mail, Mizael disse que Mércia "encontraria Deus":

Márcio é a primeira testemunha de acusação a ser ouvida e, antes de começar a depor (por volta das 10h50), pediu que Mizael fosse retirado do plenário. Ao todo, 11 pessoas prestarão depoimento, sendo cinco testemunhas de acusação, cinco de defesa e uma de juízo. Compõem o júri cinco mulheres e dois homens, a maioria aparentando ter entre 25 e 40 anos de idade - a defesa recusou três mulheres que foram sorteadas para compor o júri. Mizael só deverá ser ouvido após a oitiva de todas as testemunhas.  

Os pais e familiares de Mércia assistem o julgamento do plenário, assim como os irmãos e familiares de Mizael - sendo que cada família está de um lado da sala do júri. A deputada federal Keiko Ota e o marido dela, Massataka, pais do menino Ives Ota, assassinado em 1997, acompanham ao julgamento do lado da família da vítima. 

O caso

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita,  mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

Irmão chora ao falar da última vez que viu Mércia Nakashima:

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes - enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.

Fonte: Terra
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