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Polícia

GO: em audiência, entidades protestam contra morte de jornalista

4 out 2013 - 00h36
(atualizado às 01h24)
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Diversas entidades representativas da  imprensa em Goiás se uniram e  realizaram uma audiência pública na noite desta quinta-feira  (03/10) na sede da Assembléia Legislativa, em Goiânia. O objetivo geral foi protestar contra o assassinato do radialista e cronista esportivo, Valério Luiz de Oliveira, que aconteceu em julho do ano passado, em frente a Rádio Jornal 820 AM, hoje Bandeirantes, onde ele trabalhava. 

A longa investigação policial sobre o caso, que durou 8 meses, concluiu que o radialista foi morto a tiros por comentários críticos feitos contra a então diretoria do Atlético Clube Goianiense
A longa investigação policial sobre o caso, que durou 8 meses, concluiu que o radialista foi morto a tiros por comentários críticos feitos contra a então diretoria do Atlético Clube Goianiense
Foto: Mirelle Irene / Especial para Terra

A longa investigação policial sobre o caso, que durou 8 meses, concluiu que o radialista foi morto a tiros por comentários críticos feitos contra a então diretoria do Atlético Clube Goianiense e que o empresário e ex-vice-presidente do Clube, o cartorário Maurício Sampaio, foi o mandante do crime. Urbano de Carvalho Malta e o sargento da PM Djalma da Silva teriam organizado o assassinato com o apoio do açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier. Ainda segundo o inquérito, o cabo da PM Ademá Figueiredo foi o executor do radialista. 

No momento, todos os acusados estão em liberdade por força  de habeas-corpus. Terminada a fase de instrução do julgamento, o juiz responsável pelo caso ainda vai decidir se realizará ou não um júri popular. Porém, a família de Valério acredita que as dificuldades enfrentadas na Justiça goiana para manter os acusados presos  acontecem através de possível influência do poder econômico do empresário Maurício Sampaio junto ao Judiciário do Estado,e, portanto, quer a federalização do julgamento, ideia já apoiada pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). 

Sob o tema "Liberdade de expressão e proteção dos profissionais da imprensa", porém, o evento “Imprensa por Valério”, além de relembrar o assassinato do jornalista  e pedir Justiça, também serviu para marcar protesto contra a violência direcionada contra os profissionais de imprensa. “E hoje estamos reunindo representantes do jornalismo goiano para criar uma conscientização dentro da classe de que é importante medidas para proteção de seus profissionais, para reforçar a cultura da liberdade de expressão, não só para que casos como o do meu pai não aconteçam  de novo, mas para que, gradualmente, todos os profissionais possam ter independência dentro do seu exercício profissional”, diz o filho do radialista assassinado, o advogado Valério Luiz Filho.

Organizado pelo Instituto Valério Luiz – entidade criada pelo filho do radialista assassinado, para, em luta contra a impunidade, dar visibilidade também a outros casos de assassinatos em Goiás, principalmente não solucionados -  em parceria com o Sindicato dos Radialistas de Goiás, com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Goiás, com a Associação dos Cronistas Esportivos de Goiás, com a Associação Goiana de Imprensa e com a Comissão Especial de Defesa do Jornalista, o evento é o primeiro de uma série que deve ser realizada para marcar a mobilização dos jornalistas goianos sobre o tema. Representantes de universidades e da Ordem dos Advogados do Brasil – secção Goiás – também participaram do evento.

Segundo o presidente da Associação Goiana de Imprensa, Valterli Guedes, o  assassinato de Valério Luiz constituiu um atentado contra toda sociedade e, principalmente, contra todos os comunicadores. “Crimes desta natureza precisam ser punidos como prevenção contra outras situações deste tipo. A preocupação é que nós estamos em um país onde, tradicionalmente, o rico não vai para a cadeia – e a Constituição diz que todos somos iguais perante a Lei”, disse o presidente, informando que já levou o caso a Associação Brasileira de Imprensa, em busca de apoio.

"Um crime deste no Rio ou São Paulo tem uma repercussão muito maior”, ainda lembrou, reforçando que, por causa do assassinato de Valério, a AGI reativou uma  Comissão, fundada em 1966, para lutar contra atentados à liberdade dos profissionais da comunicação. 

Já Josiel Menezes, Dirigente do Sindicato dos Radialistas, acredita que a liberdade de expressão e a proteção dos profissionais da imprensa é um tema atual e muito pertinente.

“O que nos preocupa é que no ano passado, por exemplo, 11 jornalistas foram assassinados no Brasil, um país que não está em guerra ou outro tipo de conflito. Isso assusta, porque a gente acaba sendo punido na nossa opinião, como foi o caso do Valério”, afirmou. “Crimes como o assassinato dele chocam todos nós. O trabalho policial foi muito bem feito, mas a gente espera que o Judiciário reconheça isso e puna quem fez isso”, ainda disse. 

Caso único

O Presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de Goiás, Romes Xavier, diz que, de acordo com pesquisa feita pela entidade, Valério Luiz é o único jornalista que atuava na cobertura esportiva assassinado no Brasil. “Não temos em arquivo um caso em Goiás, e  no Brasil, de um jornalista esportivo que foi assassinado por emitir sua opinião”, afirmou. “Nós lutamos para que tenhamos o direito de emitir opiniões, sem ter que pagar com a própria vida pelo aquilo que se  fala”, pontuou. 

Membro da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos da Câmara Federal, a deputada  Marina San’tanna (PT) participou do evento e apontou a gravidade do assassinato do jornalista, como símbolo da truculência contra a liberdade de expressão. “Ficou comprovado que as palavras dele irritaram determinadas pessoas que recorreram  ao crime da pistolagem, o que significa um grau de vulnerabilidade institucional que não consegue proteger o direito a livre expressão de um profissional de comunicação, o que é muito grave”, disse.

Fonte: Especial para Terra
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