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Polícia

Família de brasileiro morto na Austrália faz duras críticas à polícia

18 out 2012 - 09h17
(atualizado às 09h27)
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Liz Lacerda
Direto de Sydney

Pela primeira vez desde a morte de Roberto Laudisio Curti, a família se uniu para condenar publicamente as ações da polícia australiana, que resultaram na morte do estudante brasileiro, em Sydney, no dia 18 de março deste ano. Diante de um tribunal lotado de advogados, jornalistas e policiais, Ana Luisa Laudisio criticou as regras de uso do taser no estado de New South Wales. "Aqui, um grupo de novatos carrega essas armas e decide o que fazer com a vida de outra pessoa. Desse jeito, alguém mais pode morrer porque eles são orgulhosos demais para mudar", declarou.

Da esquerda para a direita: Michael Reynolds, Ana Luisa Laudisio e Maria Fernanda Laudisio
Da esquerda para a direita: Michael Reynolds, Ana Luisa Laudisio e Maria Fernanda Laudisio
Foto: Liz Lacerda / Especial para Terra

Veja como funciona uma arma não letal

A irmã do estudante brasileiro explicou que a família só foi informada da morte às 22h. Roberto morreu às 6h. Durante todo o dia, os familiares procuraram o jovem nos hospitais e também nas delegacias. "Acreditávamos que se ele fosse encontrado pela polícia, estaria seguro. Um grande erro", lamentou. Ela também falou sobre os depoimentos dos policiais: "eles foram tão brutais naquela noite e tão covardes para falar a verdade na Corte".

Ana Luisa acrescentou que a família teve que esperar quatro meses para receber as primeiras explicações sobre os fatos que cercaram a morte de Roberto. "É chocante saber que os policiais agiram daquela forma. A falta de integridade deles me enoja", enfatizou. Com lágrimas nos olhos, Ana Luisa e Maria Fernanda assistiram um vídeo em homenagem ao irmão, realizado por elas e apresentado na Corte.

Já o tio, Domingos Laudisio, cobrou a punição dos policiais. "O comportamento do meu sobrinho pode não ter sido o mais apropriado na noite em que ele morreu, eu admito, mas a polícia decidiu puni-lo por muito pouco, talvez nada. Roberto foi punido com a morte por homens vestidos de policiais", condenou.

Domingos Laudisio destacou, ainda, que o inquérito foi conduzido de forma transparente, mas questionou a veracidade das informações prestadas pelas testemunhas da polícia. "É inacreditável perceber quantos policiais agiram em conluio e mentiram nesse tribunal, pensando que somos estúpidos", destacou.

Um dos investigadores do caso, Glen Browne, confirmou que os policiais foram mantidos juntos em uma única sala, durante várias horas, logo após a morte do brasileiro. De acordo com as regras relativas a casos de homicídio, os envolvidos devem permanecer separados para evitar a troca de informações antes dos depoimentos. O detetive confirmou, porém, que a morte de Laudisio nunca foi tratada como um crime. As investigações foram feitas pela própria polícia.

A família Laudisio está acompanhando os depoimentos na Corte, juntamente com representantes do Consulado-Geral do Brasil em Sydney. Revoltado, Domingos Laudisio, tio do estudante, afirmou: "Isso é uma absoluta falta de integridade".

Dependendo das recomendações da magistrada Mary Jerram, o caso Laudisio pode alterar as regras de utilização do taser e o treinamento dos policiais no Estado de New South Wales. Contrariando os procedimentos usuais do tribunal, Jerram já avisou que não vai apresentar nenhuma conclusão no último dia do inquérito, nesta sexta-feira, em função da complexidade do processo. "Mas nós não vamos esquecer Roberto e nós não vamos esquecer vocês", garantiu.

Fonte: Terra
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