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Polícia

Ex-vereador tinha denunciado milicias à CPI no Rio

11 jun 2009 - 02h59
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O ex-vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho, foi assassinado com mais de 10 tiros ontem no Condomínio Rio 2, onde morava, na Barra da Tijuca. A execução ocorreu seis meses após o ex-parlamentar sobreviver a um atentado em Jacarepaguá e um dia depois da megaoperação que prendeu milicianos da Zona Oeste. Acusado pela morte do inspetor Félix Tostes, em fevereiro de 2007 ¿ então chefe da milícia de Rio das Pedras ¿, Nadinho prestou diversos depoimentos na Polícia Civil e na Assembleia Legislativa (Alerj) denunciando integrantes do grupo paramilitar da região. Um deles, a que o jornal O Dia teve acesso, foi em sessão secreta da CPI das Milícias, em setembro.

O crime ocorreu às 12h50. Nadinho desceu do edifício Residence Provence, um prédio de classe média-alta onde morava com sua mulher e filho, para encontrar o cabo Lúcio Silveira, lotado no 4º BPM (São Cristóvão). Segundo testemunhas, um homem vestido de preto e encapuzado desceu de um Audi A8 prata e começou a atirar na direção dos dois. Outros três bandidos estariam no carro dando cobertura à ação. Nadinho ainda conseguiu correr para dentro do prédio, mas houve perseguição. Disparos atingiram carros parados na rua, paredes da portaria e a vidraça do restaurante ao lado da piscina do edifício, provocando pânico no condomínio.

Testemunhas contaram que outro homem encapuzado aguardava dentro do prédio. Após matar o ex-vereador, os dois entraram no Audi e fugiram pela saída do condomínio, na avenida Abelardo Bueno. Segundo o delegado Jader Amaral, titular da Delegacia de Homicídios (DH), que investigará o caso, Nadinho foi atingido por pelo menos 10 tiros de pistolas calibre ponto 40 e 9 milímetros. O diretor do Instituto Médico-Legal (IML), Frank Perlini, contou que quatro dos disparos foram no tronco e na cabeça.

Atingido no peito, o PM Lúcio foi levado ao Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, e liberado no fim da tarde. "Por enquanto não vamos descartar qualquer linha de investigação, mas tudo indica que os autores da execução seriam pessoas envolvidas com a milícia", afirmou Jader, que solicitou ao condomínio as imagens do circuito interno de câmeras e placas de todos os carros que entraram na manhã de ontem.

O advogado de Nadinho, Edson Fontes, afirmou que seu cliente era alvo de ameaças desde o ano passado. "Ele estava com muito medo. O estado deveria estar provendo a segurança de Nadinho. A Maria do Socorro (viúva do inspetor Félix) também deveria tomar cuidado a partir de agora", afirmou, lembrando que Socorro sofreu atentado em novembro. Após as tentativas de homicídio contra ela e Nadinho, a PM passou a fornecer segurança especial para os dois. No entanto, Edson afirma que, em março, o 18º BPM (Jacarepaguá) solicitou a retirada da viatura que fazia patrulha em frente ao prédio do ex-vereador. Desde então, Nadinho só tinha direito a escolta quando saía de casa. O advogado de Socorro, João Pompílio, afirmou que "mais do que nunca", ela será protegida pela PM.

Batalhão queria trocar a escolta

Nadinho andava escoltado por policiais do Serviço Reservado do 18º BPM (Jacarepaguá) desde 5 de dezembro, após sofrer um atentado. Em março, alegando problemas internos, o comandante do batalhão, tenente-coronel Luigi Gatto, enviou um ofício ao comando da PM solicitando que a segurança de Nadinho fosse feita por outro batalhão.

"Pedi que a escolta fosse transferida para outro batalhão devido a divergências internas. Porém, recebo ordens e, como as orientações foram para que a escolta continuasse sendo feita pelos meus policiais, ela permaneceu desde então. Tenho como provar porque todas as saídas dele foram monitoradas e registradas em documentos. Inclusive com os horários", disse o comandante, que se negou a explicar qual eram as divergências internas que motivariam a troca da segurança de Nadinho.

O enterro do ex-vereador está programado para hoje no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.

Suspeita de ligação entre atentados

Uma das hipóteses investigadas pela polícia é a de que os autores do atentado contra Maria do Socorro e Nadinho sejam as mesmas pessoas. No início do ano, a viúva do inspetor Félix reconheceu os atiradores e todos foram indiciados em inquérito da 32ª DP (Taquara). No entanto, o Ministério Público (MP) não encaminhou pedido de prisão preventiva dos quatro.

Um deles, o ex-cabo da Marinha Otto Luiz Stefan Albuquerque, foi preso neste fim de semana em Foz de Iguaçu, no Paraná. Três ex-policiais militares - reconhecidos por Socorro - continuam soltos: os ex-PMs Carlos Alberto Vieira Dantas, 47 anos; Carlos Roberto Guedes, 42 anos; e Sérgio de Barros Amorim, 35 anos.

O exame de balística do projétil que atingiu Nadinho poderá comprovar se os autores do atentado são os mesmos. Antes de morrer, o ex-vereador retirou a bala que estava alojada na sua perna direita.

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